segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

DEvido a falta de palavras próprias, coloco aqui um texto de um grande articulista, que resumiu não apenas este ano que está prestes à acabar...mas os últimos tempos. Espero que 2010 seja feliz parea todos, e que novamente saibamos amar...

Estamos com fome de amor...


(JORNAL O DIA! Arnaldo Jabor)

O que temos visto por ai ???
Baladas recheadas de garotas lindas, com roupas cada vez mais micros e transparentes.

Com suas danças e poses em closes ginecológicos, cada vez mais siliconadas, corpos esculpidos por cirurgias plasticas, como se fossem ao supermercado e pedissem o corte como se quer... mas???

Chegam sozinhas e saem sozinhas...
Empresários, advogados, engenheiros, analistas, e outros mais que estudaram, estudaram, trabalharam, alcançaram sucesso profissional e, sozinhos...
Tem mulher contratando homem para dançar com elas em bailes, os novíssimos "personal dancer", incrível.

E não é só sexo não!

Se fosse, era resolvido fácil, alguém dúvida?
Sexo se encontra nos classificados, nas esquinas, em qualquer lugar, mas apenas sexo!
Estamos é com carência de passear de mãos dadas, dar e receber carinho, sem necessariamente, ter que depois mostrar performances dignas de um atleta olímpico na cama ... sexo de academia . . .

Fazer um jantar pra quem você gosta e depois saber que vão "apenas" dormir abraçadinhos, sem se preocuparem com as posições cabalisticas...
Sabe essas coisas simples, que perdemos nessa marcha de uma evolução cega.
Pode fazer tudo, desde que não interrompa a carreira, a produção...
Tornamo-nos máquinas, e agora estamos desesperados por não saber como voltar a "sentir", só isso, algo tão simples que a cada dia fica tão distante de nós...
Quem duvida do que estou dizendo, dá uma olhada nos sites de relacionamentos "ORKUT", "PAR-PERFEITO" e tantos outros, veja o número de comunidades como: "Quero um amor pra vida toda!", "Eu sou pra casar!" até a desesperançada "Nasci pra viver sozinho!"
Unindo milhares, ou melhor, milhões de solitários, em meio a uma multidão de rostos cada vez mais estranhos, plásticos, quase etéreos e inacessíveis, se olharmos as fotos de antigamente, pode ter certeza de que não são as mesmas pessoas, mulheres lindas se plastificando, se mutilando em nome da tal "beleza"...

Vivemos cada vez mais tempo, retardamos o envelhecimento, e percebemos a cada dia mulheres e homens com cara de bonecas, sem rugas, sorriso preso e cada vez mais sozinhos...
Sei que estou parecendo o solteirão infeliz, mas pelo contrário...
Pra chegar a escrever essas bobagens?? (mais que verdadeiras) é preciso ter a coragem de encarar os fantasmas de frente e aceitar essa verdade de cara limpa...
Todo mundo quer ter alguém ao seu lado, mas hoje em dia isso é julgado como feio, démodê, brega, familias preconceituosas...

Alô gente!!! Felicidade, amor, todas essas emoções fazem-nos parecer ridículos, abobalhados...

Mas e daí? Seja ridículo, mas seja feliz e não seja frustrado...
"Pague mico", saia gritando e falando o que sente, demonstre amor...
Você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta mais...

Perceba aquela pessoa que passou hoje por você na rua, talvez nunca mais volte a vê-la, ou talvez a pessoa que nada tem haver com o que imaginou mas que pode ser a mulher da sua vida....
E, quem sabe ali estivesse a oportunidade de um sorriso a dois...
Quem disse que ser adulto é ser ranzinza ?

Um ditado tibetano diz: "Se um problema é grande demais, não pense nele... E, se ele é pequeno demais, pra quê pensar nele?"
Dá pra ser um homem de negócios e tomar iogurte com o dedo, assistir desenho animado, rir de bobagens e ou ser um profissional de sucesso, que adora rir de si mesmo por ser estabanado...
O que realmente, não dá é para continuarmos achando que viver é out... ou in...
Que o vento não pode desmanchar o nosso cabelo, que temos que querer a nossa mulher 24 horas, maquiada, e que ela tenha que ter o corpo das frutas tão em moda, na TV, e também na playboy e nos banheiros, eu duvido que nós homens queiramos uma mulher assim para viver ao nosso lado, para ser a mãe dos nossos filhos, gostamos sim de olhar, e imaginar a gostosa, mas é só isso, as mulheres inteligentes entendem e compreendem isso.

Queira do seu lado a mulher inteligente: "Vamos ter bons e maus momentos e uma hora ou outra, um dos dois, ou quem sabe os dois, vão querer pular fora, mas se eu não pedir que fique comigo, tenho certeza de que vou me arrepender pelo resto da vida"...

Porque ter medo de dizer isso, porque ter medo de dizer: "amo você", "fica comigo", então não se importe com a opinião dos outros, seja feliz!

Antes ser idiota para as pessoas que infeliz para si mesmo!

Para ler, divulgar e . . . praticar !

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

a menina de histórias


A menina de cabelos ondulados gostava de olhar as pessoas. quando andava de ônibus. gostava de ir na janela. só pra ver todos que estavam a sua volta. andava devagar pelas imensas ruas de asfalto ou de terra por onde passava. as outras pessoas sempre pareciam mais apressadas que ela.tentava descobrir o que todo mundo escondia. que medos aquelas pessoas teriam. do que gostavam de verdade. o que sonhavam. será que gostavam de café. ou preferiam leite. será que tinham família. ou amigos. será que já tinham amado alguém. e se entregado desenfreadamente. será que sorriam de verdade. ou choravam no banheiro. o que eram. como eram. era curiosa a menina.



sem saber da verdade a menina de cabelos ondulados decidiu que ela criaria uma história para todos aqueles desconhecidos. pra ela todos seriam íntimos. teriam sonhos. realizariam grandes feitos. seriam necesários. jamais seriam esquecidos. pra ela todos eram importantes. mesmo que sentissem medo. mesmo que ficassem bravos. mesmo que fossem sozinhos. seriam todos decifrados por ela. seriam felizes. teriam segredos. tomariam chuva. viajariam de vez em quando. e não teriam mais tanta pressa...

a menina de cabelos ondulados gostava de contar histórias...

imagem: Raul Nunes(1000images.com)

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Mulheres decifradas

Existe uma lenda, ou crença, ou hábito de dizerem por aí que as mulheres são complicadas. Mas na verdade, eu acho mesmo que são os homens que não entendem as mulheres, porque enxergam e não vêem quem são elas, o que sentem, o que desejam.
Toda vez que uma mulher diz pra um homem ir embora, ela está implorando pra que ele fique. Quando diz que está bem, mas fala pouco e abaixa os olhos, é porque ela queria contar tudo o que está acontecendo, as pequenas tragédias do seu dia e até chorar um pouquinho. Mulher não se cansa de uma boa companhia, pelo contrário deseja ficar perto dele o tempo todo. O homem não entende que a mulher não quer ser apenas amante, precisa ser amiga, companheira. Mulher não quer casar pra assinar um papel, quer apenas celebrar o amor que pra ela é verdadeiro. Mulher que é mulher não gosta de ser enganada, não vive só de elogios(mesmo que precise deles), mulher prefere uma verdade doída e sentida. Mulher quer do homem segurança, insistência e atenção. Mulher fala demais e na maioria das vezes gosta mesmo de ser o centro das atenções, não pra ser superior, mas pra se sentir amada. Mulher gosta de surpresas, e isso não quer dizer que precisa ganhar presentes caros, mas uma visita inesperada, um telefonema no meio da noite ou pela manhã. Mulher é a coisa mais delicada e forte que existe no mundo.
Mulher é um exagero sem igual. É tudo demais e nunca de menos. Mulher pode ser branca, negra, amarela, mas qualquer que seja seu país, religião ou lugar, é capaz de dar vida. Mulher precisa ser valorizada pelas inúmeras coisas que faz, principalmente pela família que cria. Mulheres não são complicadas como dizem por aí...são apenas cheias demais. Mulher gosta de falar, mas ama ouvir. Mulher não tem preguiça de crescer e evoluir. Mulher pode ter medo de escuro, mas não tem medo de viver a vida.Mulher é a soma de muitas coisas, por isso precisam ser mais do que vistas, mas enxergadas...

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Sonho de menina

Em passos largados e obtusos corria desesperadamente, parecia atrasada. Os cabelos ondulados carregavam uma flor vermelha. Nas mãos não tinha nada e nos olhos levava todo o brilho que ele já havia visto. Ela parou na frente dele, o rosto avermelhado daquela corrida inesperada.
-Você viu se tinha alguém aqui?
-Aqui aonde moça?
-Aqui.
-Acho que não, mas estou de passagem, cheguei agora e já vou indo.
-Você tem certeza?
-Num sei, acho que tenho.
-Estou procurando uma mulher de meia idade, cabelos caramelos, olhos tristes.
-Preciso ir, boa sorte na sua procura.
De repente ela segurou forte nos braços dele, como se pedisse pra ele não ir embora, esperava ele dizer que viu a tal mulher. Ele olhou nos olhos dela, perderam o brilho.
-Moça não posso te ajudar.
-É minha mãe, preciso encontrá-la. Sempre me atraso, ela deve ter ido embora.
-Vai até a casa dela, ela deve estar lá.
-Não sei onde fica. Sinto tanto a falta dela. Eu fui embora mas sempre quis voltar.
-Ela deve estar atrasada só isso.
-Acho que ela desistiu de mim, será que não sente saudade?
-Deve sentir...
-Eu quis tanto voltar, mas o tempo passou e eu nunca criei coragem.
-Mas agora você está aqui, procura por ela.
-Ela sempre vinha nessa praça de tarde, gostava de sentar no banco, ficar embaixo do sol, vinha sempre no mesmo horário.
-Ela vai chegar, moça. Pra onde você foi?
-Fui atrás dos meus sonhos, tinha que virar gente. Conheci lugares incríveis, tive grandes amores, cantei diversas canções.
-Mas por que deixou sua mãe?
-Porque o sonho dela era eu, e ela jamais me deixaria ser alguma coisa, pra ela bastava que eu fosse o sonho dela, não precisava ser mais.
-E por que voltou?
-Quero ser o sonho dela de novo, não preciso ser mais.
-Precisa ser você, moça.
-Eu sou. O que sou é ser o sonho dela. Sou tanto dela que ela acaba sendo tudo meu. Precisei de tempo pra entender as coisas da vida.
-Kéka- Gritou uma voz do outro lado da rua.
A menina de cabelos ondulados, saiu em disparada. Abraçou a mulher de meia-idade e olhar triste. Tinham o mesmo sorriso. Ficaram ali por minutos incontáveis. Choravam de alegria.
-Quero ser seu sonho de novo mãe.
A mãe explicou pra moça que seria ela sempre o seu sonho, não precisava ficar presa. Devia ela ser sonho livre...

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

O que faz você feliz?


o que faz você feliz?
ouvi essa pergunta em alguns lugares. de algumas bocas. e pensei o que poderia resumir felicidade.
ser bonita. a marca do carro. poder. fama. dinheiro. status. uma casa com varanda. alguns amigos. outros copos. uma festa.
não era bem isso. e fosse isso. pra alguns. não pra mim. por vezes persegui sonhos. as coisas parecem certas antes de acontecerem. todos os desejos. realizados ou não. são conforto. a primeira vez que sai de casa. e dormi com a luz acesa de medo. e outras milhares de vezes que quis voltar. as risadas que dei com pessoas que (des)conhecia. as poucas reuniões de família que todo mundo fala ao mesmo tempo. e quando andava a cavalo. e me perdia em devaneios. ou quando passei noites acordada jogando video-game com meu irmão. ou quando apenas ficava ao lado de meu amor. falando besteiras. ou me sentindo segura nos braços dele. as tardes de domingo que passava com minha avó. e junto com meus primos fazia o maior barulho. depois comia bolinho de chuva. e ainda soltava pipa com meu vô. as cervejadas com a turma de escola. as viagens de verão. os churros que meu pai me levava pra comer. a gargalhada exagerada de minha mãe. os livros e as músicas que me levavam a outro mundo.
felicidade é feita de momentos. de pessoas. de sentidos. não de coisas. não de marcas. não de dinheiro. não de falsidades. não importa se tudo não sai do jeito que era pra ser no inicio. não importa se as coisas mudam. não importa o que dissemos. o que importa mesmo é o que vivemos de verdade...

imagem devianart by_CrazyKcee

domingo, 11 de outubro de 2009

passava horas tentando desenhar. peixes. borboletas. pessoas. e pintava cores. azul.amarelo.verde. lilás. gostava de vermelho. às vezes passava horas escrevendo palavras. qualquer uma que fosse. pudesse fazia rima. gostava de combinar as coisas.
a menina. já grande de idade. e pequena de tamanho.
tinha tanta coisa dentro de si. encoberta. quieta. sozinha. tinha tantas coisas. mas às vezes não sabia o que falar...

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

a sala colorida


Não sabia por que permanecia ali sentada no sofá vermelho da sua sala colorida. Já passavam das duas da manhã. E a menina de olhos pintados e sandália azul havia passado o dia esperando. Tinha certeza que ele faria uma surpresa e apareceria de repente com o cabelo despenteado e seu all-star preto de cano alto. Não estava triste. Não estava feliz. Estava apenas sozinha na sala colorida.
Olhou as fotos ao lado dos lírios. Tinha uma dos dois. Ela estava com sua fita azul no cabelo e ele com seus óculos quadrados e grandes. Tinham passado aquele dia fazendo descobertas. Ali mesmo na sala colorida. Inventavam histórias. Se vestiam e “desvestiam”. Pintavam. Sorriam. Faziam silêncio. Só os dois.
Ela sorriu baixinho. Tirou as sandálias. E sentiu o chão gelado afundar na alma. Ligou a torneira e lavou os olhos. Deixou a água caindo em suas mãos. Parecia ter se esquecido ali. Não sabia o que faria. Talvez devesse escrever uma carta. Enxugou as mãos. Foi até o quarto de paredes verdes e tapetes vermelhos. Pegou papel e caneta. Sentou-se.
Amormeu,
sua foto ainda está ao lado dos lírios. a sala continua colorida. e o chão gelado. as coisas parecem as mesmas. e você não está aqui. às vezes fico esperando. talvez vocÊ apareça de surpresa. como sou boba. sei bem. é que você faz parte de mim. dos meus planos. da minha família. do meu dia. e da noite. não falo pelo excesso. falo pelo desejo.
Com todo amor do mundo.
foi tudo o que escreveu. esperou o dia amanhecer. e no dia seguinte foi visitá-lo. levou lírios. e a carta. levou a fita azul de cabelo. e os óculos grandes e quadrados. sentou-se. o túmulo era gelado. no cemitério fazia sol. e ela sorriu. depois chorou de saudade.

Imagem devianart by iTaylie

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

esmalte vermelho

As mãos da menina estavam geladas mesmo naquela noite de calor. Ela se sentia quente ardendo de frio. Era complicada. Era diferente. Era ela a menina de esmalte vermelho.
O cabelo se desajeitava na varanda. O vento era leve. Ela não entendia. Mas gosta de ficar ali desajeitada. Confortada.
Acendia um cigarro. Depois outro. Enquanto o tempo passava. E ela nada fazia. esperava coisa qualquer. Ouvia jazz e música francesa. Gostava de cantar baixinho. Dançar escondida. Pular na cama. Parecia criança. Embora fosse grande.
Precisava falar com alguém. Mas já era noite ninguém havia de estar acordado. Não podia fazer visitas aquela hora. Sua mãe lhe disse que era falta de educação ir a casa dos outros tão tarde. Por isso ela não foi. Pegou o telefone e ligou. Acordaria alguém. Ligar era mais educado. A pessoa não iria precisar fazer sala. Nem se vestir. Nem fazer café. Só precisava falar com ela.
- Alô...
- Oi, sou eu...
- Você sabe que horas são?
- Sei que passam das três, mas você disse que eu poderia ligar quando quisesse...
- É eu disse...
- Não tenho muita coisa pra contar.
- Também não.
- Mas não quero desligar.
- Sinto sua falta, preta.
- É também sinto a sua.
- ...
- Tirei algumas fotos ontem. Lembrei de você.
- É mesmo por quê?
- Tirei foto de músicos. E você gosta tanto de música né?!
- É mesmo...
- É estranho ouvir sua voz de longe, mas estou bem!
- Sinto sua falta, mas tudo tem seu tempo, minha preta.
- Eu te disse que iria esperar. Estou conhecendo tantas coisas novas, você deveria estar por perto. Tenho medo de dividir isso com outras pessoas...
- Sei que você vai esperar. Estou guardando tudo pra você. As histórias, os lugares, meu amor...
- Não tenho razão, sei bem. Gosto dos impulsos largados e cometidos.
- Você nunca pensa muito nas coisas, eu sou sua balança. E prometo estar logo por perto...
- Acho melhor desligarmos agora...
- Te amo preta.
O telefone ficou mudo antes que ela pudesse responder. Diria a ele que o ama também. Que esperaria. Que retomaria a razão e ficaria. Que tantas coisas mais.fechou a porta da varanda. E os olhos. Não queria mais ver o tempo passar...

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Mais muito mais.

conheci uma família que me fez sentir pena. eram bonitos. de classe social média alta. não passavam fome. nem dormiam sobre ruas geladas. eram bonitos. pai. mãe. e filha. os pais deviam ter seus quarenta e poucos anos. a filha vinte e poucos. agiam da mesma forma. e por isso senti pena. o pai se vestia como um garotão. e só falava em suas novas aquisições. elogiava o belo corpo que a mulher conseguiu em uma lipo. nas loucas dietas sem comida. e nas longas horas de academia depois do trabalho. a mãe só falava no corpo que tinha. no preço de sua nova roupa. a filha os copiava. a superficialidade era passada dos pais para a filha que se desfazia de quem não tinha sobrenome. o pai disse que se a mãe engordasse. ele largaria dela. a filha por sentir medo. emagrecia cada vez mais. senti pena. não pareciam reais. nem felizes. fugiam do tempo. camuflavam as marcas do conhecimento. exoneravam a verdade. se vendiam todos os dias por padrão.
não acho que amor sobreviva de baixas calorias. tampouco que alguém precise falar em valores não em palavras para ser "bacana" e legal. a vida é muito mais. prefiro falar de lugares. do que de grifes. experimentar novos sabores do que ficar em jejum. ter laços mais fortes do que fracos. preciso de mais proximidade do que de menos. prefiro passar o dia rindo do que preocupada.

será que sou assim tão inocente? ou indecente? ou fora da realidade?

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

(Texto na Revista do Jornal O Globo)

'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias.

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'


Martha Medeiros - Jornalista e escritora

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Abaixo a hipocrisia!

Abaixo a hipocrisia...Verdade e não mentira!!!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

folheava a revista vagarosamente naquela sala de espera de paredes brancas e gelada. o telefone tocava. a criança que chorava. a água que enchia o copo de alguém com sede. faz vinte minutos que estava ali sentada. quieta e impaciente.
-Posso sentar aqui do seu lado?- perguntou uma senhora pequena. magra e de colar de pérolas.
-Pode.- disse ela e voltou a folhear a revista.
-Você veio ao médico?- insistia a senhora.
-Sim.- respondeu ela seca.
-Você tá doente?
-Não. são exames de rotina.
-Ahhh...eu me sinto tão bem.
-Então a senhora também veio fazer exames de rotina?
-Não vim trazer meu marido.- disse a pequena senhora apontando para um velho magro e quase inconsciente sentado numa cadeira de rodas ao seu lado.
-O que ele tem?
-Tem Alzheimer há quase dez anos. Não se lembra mais de nada. Não fala. Não anda.
-Você cuida dele sozinha?
-Tem uma mulher que me ajuda. Não posso pagar por uma enfermeira com nossa pequena aposentadoria.
-Não tiveram filhos?
-Tivemos três mulheres e dois homens.
-E por que não ajudam a senhora?
-Dizem que tem compromissos e que eu deveria colocar meu velho num asilo...Mas eu jamais o abandonaria.
-Talvez fosse mais fácil. Lá existem enfermeiras.
-Nós temos nossa casa. Demoramos anos para construí-la. não é muito grande mas é confortável. É lá que é o nosso lugar.
-Entendo...
-Sabe...vivi momentos íncriveis com esse homem. Saimos para dançar. ás vezes ele cantava pra mim. lembro das noites em que ficávamos acordados porque as crianças tinham febre. ele nunca me abandonou. enfrentou tudo ao meu lado. e eu sempre o amei nesses momentos. agora o amo ainda mais...
A secretária que atendia inúmeros telefonemas veio na direção da pequena senhora de colar de pérolas. disse que era sua vez. ela levantou-se devagar. devia ter mais de setenta anos. sorriu para a moça com quem estava conversando. e saiu empurrando o amor de sua vida. virou o corpo para a moça que agora apoiara a revista no colo. e disse uma última coisa.
-Muitas pessoas não sabem o que é amor. mas nós sabemos...até logo moça.

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

tinha tantas coisas pra contar a menina mulher. tinha sentido de tudo nos últimos dias. gosto e desgosto. vontade e desvontade. mas não sabia o que dizer. guardava tudo pra si. os sorrisos e as verdades.
daqui a pouco o dia ia nascer. e ela esperava ansiosa. não conseguia dormir antes de ver o sol chegar. tinha se cansado de partidas. por isso gostava daquela chegada. o sol esquentava seu corpo e iluminava o quarto branco e amarelo.
sentia a preguiça de segunda-feira. e se vestia lentamente. colocava roupas discretas pra passar despercebida. era quieta. era contida em seus atos. tinham tantas mulheres que trabalhavam com ela. mas não tinha amizade com nenhuma delas. conversava o necessário. não mantinha vínculos. as poucas amigas que teve tomaram rumo. e telefonam às vezes. era sozinha. e acostumada com a vida que tinha. não queria mudar nada. porque apesar das muitas vontades. faltava-lhe coragem. escolhia o certo. jamais o duvidoso.
passou o dia sonolenta e pensativa. escrevia algumas palavras naquele montante de papel branco a sua frente. nada que fizesse sentido. jogava elas lá e deixava. enquanto isso perdia o olhar em qualquer canto. se distraia. depois voltava. o dia acabaria logo. e ela nem tinha nada pra fazer. voltaria pra sua casa com jardim. sentaria no sofá azul e ficaria lá até ter que ir pro banho. não dessa vez.
foi até a cozinha. preparou um café forte. acendeu um cigarro e foi até a janela. olhava todas as poucas pessoas que passavam pela rua estreita que morava. eram diferentes dela. faziam coisas. voltavam ou iam pra lugares. sorriam. falavam. algumas até cantavam. por um segundo quis arriscar. tomou o último gole de café. apagou o cigarro. olhou pra algum canto qualquer e se perdeu. ao voltar a si se acostumou de novo. e foi pro banho.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

EU TE AMO NÃO DIZ TUDO!

O cara diz que te ama, então tá! Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas
mágicas.
Mas ouvir que é amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença
de quilômetros.
A demonstração de amor requer mais do que beijos e palavras,
precisa de lealdade, sinceridade, fidelidade.. .
Sentir-se amado, é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que
zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando
certo, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma
sacudida em você quando for preciso.
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou há dois
anos atrás;
é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste
quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você
está fazendo uma tempestade em copo d'água.
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a
mágoa em munição na hora da discussão....
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que
tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem
inventar um personagem para a relação,
pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas
fala; quem não concorda, mas escuta.
"Me ame quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso".
(Arnaldo Jabbour)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

jardim secreto!




imagem por Fátima Silveira

Já faz alguns dias que parti. resolvi de última hora pegar aquele ônibus e te deixar. lembro de você correndo ao lado de minha janela. gritava alguma coisa. que não entendi. quis tanto descer daquele ônibus. correr pros seus braços. e simplesmente fazer as coisas darem certo pra nós. a chuva caia junto com minhas lágrimas naquele domingo. me desculpe. de todas as vontades que tenho. você é o único que me enlouquece. sei que deveria ter dito alguma coisa. mas já não tinha mais palavras. éramos tão diferentes. complexos. desconexos. embora fôssemos nós. estou numa cidade pequena. cheia de árvores. lembro de você me levando para jardins secretos. com um sorriso de menino no rosto. me dizendo a toda hora. que eu precisava parar de fumar. e sentir aquele cheiro de mato. ainda não sei não pensar em você. fizemos tantos planos. criamos tantas histórias. guardamos tantos segredos. que agora não sei ser mais eu sem você. tinhamos uma vida. sei bem. as brigas ficaram trancadas no nosso quarto. trouxe comigo apenas as boas lembranças. algumas fotos. e uma carta que me escreveu. acreditávamos tanto em um pra sempre. sinto tanto sua falta. é verdade. mas tive que ir embora. sei que te sufocava com meu ciúmes e minhas cobranças desnecessárias. pelo simples fato de ter medo. demorei algum tempo pra ter coragem de dar espaço a você. e poder me descobrir de novo. só posso dizer que deixaria de ser eu e você. pra sermos nós mais uma vez. apenas porque te amo.

pra sempre...

quarta-feira, 17 de junho de 2009

'...o amor não é chegado a fazer contas, não obedece à razão. O verdadeiro amor acontece por empatia, por magnetismo, por conjunção estelar. Ninguém ama outra pessoa porque ela é educada, veste-se bem e é fã do Caetano. Isso são só referenciais. Ama-se pelo cheiro, pelo mistério, pela paz que o outro lhe dá, ou pelo tormento que provoca. Ama-se pelo tom de voz, pela maneira que os olhos piscam, pela fragilidade que se revela quando menos se espera...'

Ninguém nunca disse que se relacionar é fácil, pelo contrário, acho que é uma das coisas mais difíceis que fazemos. Mas não quero ir embora, vou ficar com você até o momento em que fique comigo também.
Serei sempre a ciumenta mimada chorona, enquanto que você será o mimado dono da verdade. Às vezes vamos fazer silencio, outras vamos conversar. Embora algumas vezes gritemos um com o outro, num ato desesperado de terminar qualquer discussão.
Sei que pouco concordamos um com o outro, eu sou exagerada demais e você tão equilibrado. Te conheço tão bem que sei quando você não está tão bem, pelo simples tom da tua voz. Sei que está bravo quando não me chama pelo apelido, e fica o dia todo ocupado demais para ligar ou mandar alguma mensagem.
Porém eu, não vou atrás de você. Não porque não te quero, te amo e te desejo o tempo todo, penso em você cada segundo do meu dia, mas não acho que você deva saber de toda essa vontade que tenho de você. Não por mal, mas é porque essa dependência sentimental é um tormento. Mesmo que eu diga que não me importo, que cada um tem sua vida, que cada coisa deve ter seu tempo.
Não consigo separar você de mim, nem pensar em coisas em que você não esteja presente. Essa distância toda me mata por dentro, enquanto eu disfarço por fora. Que seja eterno enquanto dure e, sendo assim, que dure pra sempre...

sábado, 6 de junho de 2009

Encruzilhada

Os caminhos pareciam iguais. a placa pendurada com prego enfurrajado estava tão apagada. que mal se via o que estava escrito. a menina de cabelos negros nunca fora de esperas. por isso seguiu logo. caminho qualquer que fosse. foi sozinha. na vida todos eram sós. sempre disse ela. os outros são passageiros. tinha levado consigo algumas fotos pra guardar a memória. tinha vertigem de esquecimento. o vestido azul voava com o vento. ela gostava do vento. pensava que tudo que o tempo levasse. o vento traria de volta. parou por diversas vezes no meio da encruzilhada. decidiu voltar. mas a distância que tinha andado era tanta. que desesperava a menina. tinha que continuar andando. achar uma saída. ou fazer vida ali. a menina fechou os olhos pra brigar com a confusão que sua cabeça fazia. embora nunca tivesse sido de muitas certezas. o redemoinho de pensamentos a enlouquecia.

terça-feira, 26 de maio de 2009

cômodo

estava tão confusa e agitada que perdera o sono. passava horas no sofá que parecia ser o único a acolher o corpo frio da menina. tinha tantas coisas pra fazer. mas num sentido de fuga não fazia nada. ficava escrevendo coisas que se perdiam nos papéis jogados no chão da sala. depois recitava poemas que não eram dela. ainda teimava em criar coisas para fazer arte. tinha deixado tantas coisas pra trás. e agora ficava amordaçada. não conseguia continuar. tinha preguiça de persistir num erro que cometera. por outro lado sabia que tinha que continuar. afinal de contas as manhãs chegavam e iam embora. enquanto ela com olhar hipnótico e perdido continuava ali no mesmo sofá. na mesma sala. com as mesmas palavras. os mesmos versos. e as mesmas artes. o tudo dela parecia uma coisa só. e perdida. tinha pensado em se mudar. mas já estava velha demais para mudanças. com nomes de ruas diferentes. outro número de apartamento. outro cheiro qualquer. por isso ficava ali. estática. um pouco triste. um pouco feliz. ao mesmo tempo que era um fracasso de sonhos perdidos. era corajosa de sonhos novos. sabe se lá por quê. sabe se lá de onde. sabe se lá quem eram. chamavam de sonhos. por isso ela repetia. não eram de tocar. nem de brincar. não faziam companhia física. mas permaneciam dentro dela. o cômodo de gavetas azuis e vermelhas dos sonhos. lá estava tudo que ela desejou um dia. e ainda desejava. os que ficavam nas gavetas azuis. eram os que deveria ser jogados fora. os das gavetas vermelhas. era os que ela ainda não tinha carimbado desitência. por isso. ou por alguma coisa. a menina de pijama branco ficava no sofá. tinha pegado a doença dos sonhos que se foram...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Queria poder dizer pra ele o quanto eu me sentia desinteressante com todo aquele atraso. Nos viamos pouco e tinhamos tão pouco tempo. Mas nada que eu falasse faria com que ele dissesse que estava errado. Era eu a mimada e egocêntrica, não ele. É que pra mim não era sacríficio ouvir a voz dele por horas e sentir a mão quente dele sobre a minha na mesa de um bar qualquer. Esperava tanto, tinha noites mal dormidas pensando nele, fechava livros pela falta de concentração, deixava a TV no mudo pra poder ouvir o telefone tocar. Tudo bem, confesso: Eu quero ele só pra mim.

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso.
A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.
(Caio Fernando Abreu)

segunda-feira, 18 de maio de 2009

MULHERES POSSÍVEIS..

Revista do Jornal O Globo


'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes.
Sou a Miss Imperfeita, muito prazer.
Uma imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado três vezes por semana, decido o cardápio das refeições, levo os filhos no colégio e busco, almoço com eles, estudo com eles, telefono para minha mãe todas as noites, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e-mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos, participo de eventos e reuniões ligados à minha profissão e ainda faço escova toda semana - e as unhas!
E, entre uma coisa e outra, leio livros.
Portanto, sou ocupada, mas não uma workaholic.
Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.
Primeiro: a dizer NÃO.
Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO.
Culpa por nada, aliás.
Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero.
Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.
Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.
Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.
Você não é Nossa Senhora.
Você é, humildemente, uma mulher..
E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante.
Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável...
É ter tempo.
Tempo para fazer nada..
Tempo para fazer tudo.
Tempo para dançar sozinha na sala.
Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.
Tempo para sumir dois dias com seu amor.
Três dias.
Cinco dias!
Tempo para uma massagem.
Tempo para ver a novela.
Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.
Tempo para fazer um trabalho voluntário.
Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.
Tempo para conhecer outras pessoas.
Voltar a estudar.
Para engravidar.
Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.
Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.
Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.
Existir, a que será que se destina?
Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.
A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada.
Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.
Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.
Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!
Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir...
Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.
Desacelerar tem um custo.
Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.
E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'.

Martha Medeiros - Jornalista e escritora

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Bilhete


já fazia um tempo que esperava por ele. demorava tanto tempo pra chegar. às vezes fugia pra vim ver a menina de sapatos vermelhos. era tão mais alto que ela. poderia escondê-la do mundo se quisesse. todas as tardes escrevia pra ela. e ela respondia pra ele. até que ele chegava numa sexta-feira perto da madrugada. e ela anciosa sem sono esperava. corria pros longos braços dele. e se jogava num salto. ele encostava a barba mal feita no pescoço dela. e falava de toda a saudade que sentiu durante a semana. depois segurava as mãos dela bem forte para que não escapassem. ela já sabia do jeito dele. e em alguns momentos ele fazia imenso silêncio. coisa que não a incomodava mais. afinal de contas homem nenhum gosta de falar. é que mulher é diferente. precisa dividir as coisas. ligar pras amigas no meio da noite. ela era assim. outras vezes ele fazia surpresa. e levava ela pra andar de bicicleta num jardim de flores amarelas. depois abria um vinho. e comemoravam qualquer coisa. depois de tanto tempo ela estava pronta pra ser dele. antes tinha medo. agora já não tinha mais. de tão livre que se sentia com ele. era um apego sem exigências. só por desejo.
passaram meses de amor acelerado. até que numa noite de sexta-feira ele não apareceu. deixou apenas um bilhete de despedidas. não continha explicação. nem desculpas. nem sequer um eu te amo. ela chorou por semanas. escreveu um bilhete. e até que enfim. se despediu dele também.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

As palavras

Non, Je Ne Regrette Rien (tradução)
(Edith Piaf)
Não! Nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal - isso tudo me é igual!

Não, nada de nada...
Não! Eu não lamento nada...
Está pago, varrido, esquecido
Não me importa o passado!

Com minhas lembranças
Acendi o fogo
Minhas mágoas, meus prazeres
Não preciso mais deles!


Varridos os amores
E todos os seus tremores
Varridos para sempre
Recomeço do zero.


Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...!
Nem o bem que me fizeram
Nem o mal, isso tudo me é bem igual!


Não! Nada de nada...
Não! Não lamento nada...
Pois, minha vida, pois, minhas alegrias
Hoje, começam com você!
---------------------------------------------------------------
JOGO RÁPIDO.

Se eu pudesse deixar uma mensagem para alguém, eu diria: AME.
Por quê? Porque amar é a mais intensa das intensidades, o único pecado que facilmente será perdoado.
Se eu pudesse resumir minha vida, eu diria: MOMENTOS.
Por quê? Porque cada segundo que respirei, desdobrei um momento, que vivi sozinha ou compartilhei com alguém.
Se eu pudesse avaliar meus erros, eu diria: ACERTO.
Por quê? Porque depois que descobri o que era errado, fiz a coisa certa.
Se eu pudesse escolher um único lugar, eu diria: QUALQUER UM QUE EU PUDESSE ESTAR COM AS PESSOAS QUE AMO.
Por quê? Porque qualquer lugar é maravilhoso quando se tem as pessoas certas.
Se eu pudesse escolher um objeto, eu escolheria minha CAIXA DE CARTAS E FOTOGRAFIAS.
Por quê? Porque ali estão as palavras que li diversas vezes e o momento guardado.
Se eu pudesse ser um animal, seria uma ÁGUIA.
Por quê? Porque além de voar, as águias lutam o máximo que podem pela vida.
Se eu pudesse fazer um pedido, pediria o FIM DA DISTÂNCIA.
Por quê? Porque assim a saudade não se transformaria em dor tão grande.
Se eu pudesse realizar um sonho, queria um FILHO.
Por quê? Porque daria ao mundo uma parte de mim.
Se eu pudesse...Sei que POSSO.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Destino

O vento batia forte na janela de vidros pequenos, agora ela não se importava mais com tempo. Olhava as luzes de fora e se iluminava por dentro. A menina de exageros fumegantes e coração acelerado, perdia o sono nas noites de frio. Pensava que o vento traria de volta o que o tempo havia levado.
Tocava a última carta dele que havia recebido, os dedos suados molhavam a esperança viva daquelas palavras. Tinha tanta coisa ali, naquelas poucas linhas rabiscadas por uma letra pequena e torta. A promessa terminava com um pra sempre eterno, que ela teimava em esperar.
Tinha se passado três anos desde que eles já não se viam mais. Ela nem sequer conseguia pronunciar a palavra amor, mas é que depois dele, os outros foram os outros. E os sentimentos perderam os rumos. Queria encontrá-lo numa noite qualquer, talvez não precisasse dizer nada.
O aniversário dele se aproximava, e ela sempre escrevia cartas pra mandar, depois as guardava. Numa tarde vazia, o celular tocou, e era ele. Ela ficou sem voz, sem ar, sem ação.
- Quero que você vá no meu aniversário. Vai ser só uma reuniãozinha, mas preciso te ver. A primeira vez que nos beijamos...
- Foi no seu aniversário, eu me lembro.
- Precisamos conversar, o tempo já foi longo demais e as histórias erradas em excesso. Você volta?
- Como?
- Você vem?
- Não sei. Quero ir...
A tarde ensaiava um outono quente, ela comprou um livro de poesias e foi. Sabia que esperava por isso, e que o vento havia trazido ele de volta. Ele a esperava na porta, e sorriu quando a avistou de longe. Ao se aproximar a abraçou forte para que não escapasse, e disse no ouvido dela num sussurro súbito:
- Eu nunca consegui te esquecer, te amei esses anos todos...
- Era você o homem do meu destino...
- E por que me mandou embora?
- Precisava ter certeza, precisava ter outras histórias, e te peço desculpas, porque no fim eu não precisava de nada mais, só você.
- Já estava escrito. É nosso destino,você e eu, uma coisa só...
Foi assim que se encontraram de novo, dentro de uma segunda chance do destino. E tudo o que ela queria dizer é que ele foi o único, e que enquanto ele estivesse ali ao lado dela, ela estaria. Não tinha caminho sem ele, não tinha exageros sem ele, não tinha história sem ele. Por isso, acreditava em destino e em pra sempre...

quarta-feira, 15 de abril de 2009


"Na minha memória — tão congestionada — e no meu coração — tão cheio de marcas e poços — você ocupa um dos lugares mais bonitos".
(Caio Fernando Abreu)

é você. sempre foi você. e eu te amo.
o tempo é eterno. e espero.
nosso momento realento.
o agora e depois
eu você.
nós.

terça-feira, 31 de março de 2009

A ameaça do tempo

"A gente se apertou um contra o outro. A gente queria ficar apertado assim porque nos completávamos desse jeito, o corpo de um sendo a metade perdida do corpo do outro."
Caio Fernando Abreu


Talvez o meu exagero tenha se tornado um vício. mas não faço por mal. nem por descontrole. faço porque sou assim. desse jeito meio sem limites. essa espera amarga. essa coisa de termos que viver mais um tempo sozinhos. pra termos a juventude completa. as emoções certas. não. eu não acredito nisso. prefiro errar agora. do que acertar amanhã. quero surpresas. como daquela vez que você apareceu na porta da minha casa. molhado da chuva que despencava do céu escuro. e olhou nos meus olhos. como quem também estivesse viciado. e depois eu te convidei pra entrar. enxuguei teu rosto. e pedi pra você ficar. deita aqui. foi o que eu disse. e a gente se apertou. acabou com o frio e com a abstinência. mas agora. você anda distante. uns milhares de quilômetros. e tudo isso porque precisa de tempo. enquanto eu fico sozinha. de tanto só. eu sei. nunca acreditei em destino. nem em promessas. quiça em futuro. não faço planos. é eu entendo. na verdade não. nada disso faz sentido. o amor é uma coisa incoerente. nem sequer tem definição. por que é que você não chega logo. de surpresa ou de espera. e a gente fica junto. não existe nada além do agora. e de um ontem mal resolvido. por isso ando assim. em crise de sentimentos. esse não saber me faz querer voar. mas ainda deixo a porta aberta pra ver se você chega. atendo o telefone pensando ser você. é óbvio que não te quero por obrigações. mas ainda quero muito que você volte logo. nem que seja só pra me levar junto com você. e sermos sós no mundo. agora acho que ando ficando louca. mas talvez seja excesso de lucidez. tomei tanto café. que minha cabeça não pára de formar idéias. e meus olhos não se fecham mais. é que fico ameaçando o tempo. quem sabe ele não anda mais depressa. e a sua juventudese torne ontem. e num crescimento acelerado. você se sinta completo pra me fazer uma surpresa. e tocar minha campainha.

saiba que estarei esperando na minha sala de paredes brancas e televisão vazia.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Os companheiros do tempo

Em um tempo não tão distante do agora, em meio a uma ditadura voraz e indesejada, estavam eles. O porta voz, era um homem barbudo de roupas simples. A exigência de tempos melhores para o povo e principalmente para os operários era contestada pelo Estado maior.
Os anos se passaram e o grupo virou partido político, mais conhecido como a oposição. Os laços de amizade cresceram nesse tempo. Agora eram mais que amigos, eram companheiros. Os discursos tomaram outro tom, e os comícios aconteciam em outra casa. Um deles virou presidente e os outros deputados, tesoureiros, conselheiros, como se todos fossem uma linha só, afinal de contas pertenciam a novos tempos e agora tinham voz. E quando tudo parecia navegar por ondas calmas chegou a tempestade, mais conhecida como mensalão.
O grupo de companheiros perdeu os remos e não encontrou nenhum bote salva-vidas naquela tormenta. José Dirceu, o grande amigo do presidente, sabia nadar e logo chegou a terra firme e se salvou. Delúbio Soares ficou ali e afundou, mas foi encontrado instantes depois e sobreviveu. Lula, o presidente que tinha decidido ficar em casa naquele dia, preferiu não se envolver, pois não sabia de nada.
O tempo passou mas ninguém esqueceu, Delúbio não soube nadar, mas não morreu. Ganhou castigo, não podia mais ver os companheiros. Escreveu cartas, pediu desculpas, implorou atenção, mas seus companheiros ignoraram. O que faria agora? Não poderia ele ser expulso de um grupo que criou. Precisava pedir uma última coisa e foi o que fez, era a chance de ser aceito de novo.
Delúbio que era companheiro, virou tesoureiro, não soube nadar, pediu anistia. Os companheiros disseram que iriam pensar, mas isso poderia demorar. Ele resolveu aguardar, tinha certeza que seria perdoado, porque agora aprendeu a nadar.

Crônica jornalística baseada em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/brasil/ult96u539921.shtml

segunda-feira, 23 de março de 2009

Olhos.


"Retórica dos namorados,dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de dizer, sem quebra de dignidade do estilo, o que eles foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá idéia daquela feição nova. Traziam não sei que fluido misterioso e energético, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me e tragar-me. Quantos minutos gastamos naquele jogo? Só os relógios do céu terão marcado esse tempo infinito e breve. A eternidade tem as sus pêndulas; nem por não acabar nunca deixa de querer saber a duração das felicidades e dos suplícios."(trecho de Dom casmurro- Machado de Assis)

Descreveu ele o que eu diria dos seus olhos. Sem que eu perceba. Eles me puxam. Me tragam. Me envolvem. Me seguram. É um entorpecente. Uma nascente. Figura. Ternura. Coisa e tal. O tempo em que isso se passa. Não é longo. Tampouco é curto. É incontável. Maleável. É meu. O momento que me perco em você. Me derrubo nas ondas de ressaca. E então afundo. No mais profundo. Sentido. Desmedido. Acordo. E de repente. Me pego te olhando nos olhos. Mais uma vez. Sem perceber. Mas por querer. Gosto do meu vício. Da felicidade. E do suplício.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Por Perto

Perto de você(Teatro Mágico)
Quando começar o frio, dentro de nós
tudo em volta parece tão quieto
tudo em volta não parece perto
toda volta parece o mais certo
certo é estar perto sem estar
perto de você, sou tão perto de você, sou tão perto de você

Quando o tempo não passar, dentro de nós
cada hora é como uma semana
cada novo alô é mais bacana
cada carta que eu nunca recebo
é sempre um motivo pra lembrar
sou tão perto de você vida amarga, como é doce a dor da palavra dita de tão longe, dita de tão longe, dita de tão longe...

Quando alguém se machuca, dentro de nós
toda culpa parece resposta
nossa busca não parece nossa
nosso dia já não tem mais festa
não tem pressa nem onde chegar
sou tão perto de você

Quando a paz se anunciar, dentro de nós
é porque aquilo que nos cega, mostra um outro lado da moeda
que não apaga as coisas do meu peito
o preço é me fazer acreditar
sou tão perto de você
Vida amarga, como é doce a dor da palavra dita de tão longe, dita de tão longe, dita de tão longe

quando a música acabar, dentro de nós...
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Já que eu não consigo dormir, e não quero te acordar no meio da noite sem ter muito o que dizer, resolvi te escrever.
Na verdade não tenho o que falar, ao mesmo tempo de querer estar ao seu lado e poder dizer tantas coisas. Contraditório tudo isso!
Mas eu sou assim, meio adversa mesmo. Meio complicada. Meio insegura. Meio ciumenta. Meio sem jeito. Meio tímida. Meio falante demais. Meio sem segredos. Meio sem circunstância. Meio sem pretextos.
Acho que sou metade de muitas coisas, mas um dia vou ser inteira de tudo. E isso não é ruim, eu acho. Afinal, tem tanta coisa no mundo que
eu nunca vi. E outras tantas que desconheço. Mas enquanto o tempo passa vou me completando. Vou te esperando. Vou vivendo. E espero que
você faça o mesmo. Descubra todas as coisas que precisa, pra dividirmos depois.
Deixa o tempo rodar seus ponteiros lentamente. É você mesmo que
diz que temos todo tempo do mundo. Por isso, não tenho mais pressa. Nem conjugo mais verbos. Nem crio frases no futuro. Mesmo que próximo.
Confesso que estou ansiosa pra te ver novamente. Mas os dias me dizem pra ter paciência. Logo você chega. E depois me procura. Por isso, não tenho mais pressa. São poucas as coisas que carrego comigo. Afinal de contas, preciso de espaço para as coisas novas.
Outro dia, ouvi nossa música. Quis muito te ligar. Mas faltou-me coragem. Fiquei lembrando do dia em que me deu flores. Eu nada disse. Embora tivesse tantas coisas pra falar. É que não sabia o que fazer...

quinta-feira, 19 de março de 2009

a menina das coisas.

de todas as coisas que ela fazia. pensava no que não tinha feito. era assim que vivia. de coisas. dela. dos outros. de tudo. e do mais um pouco. não usava relógio. só jeans surrado. o rosto sempre imóvel e suado. o cabelo preso. qualquer novidade um tropeço. não sabia lidar com algumas coisas. mesmo que vivesse de tudo. era estranho ser ela. queria tantas coisas. queria tanto um nada. migalha. qualquer coisa. certo dia descobriu que não queria mais o que tinha feito. também não pensaria no desfeito. era feitio dela complicar tudo. coisa da menina que não sabia das coisas. onde ia. com quem faria. o que encontraria. precisava descobrir tudo isso. antes de voltar pra casa dela. chegou a pensar que nunca voltaria. comprou uma fita vermelha pra pôr na cabeça e deixar os cabelos soltos. mas não teria tempo. era momento. sorria colorido agora. que não tinha rumo. nem significantes. era objeto desnorteado. embora tivesse significado. profissão: seria pedinte da vida. de carona. de comida. de livros. mas compraria o mundo. todas as cidades. seria culturalmente possível. em qualquer cartão de visitas. mesmo que não tivesse identificação. mudou até de nome. agora era Alice. não mais Ana. viveria nas maravilhas do novo. e nos destemperos do amanhã. porque a incerteza não tem sabor. só espera. passou anos molhando o rosto em águas geladas. que a deixava pálida. mas ainda não podia voltar. tinha que continuar. amanhã partiria pra outro lugar. porque não gostava da mesmice e dos laços. era dona de tantos lugares. o dinheiro dela. era a palavra. dita. falada. cifrada. encomendada. copiada. não era papel. nem tinta. nem formalidades. enquanto para sua casa não voltava. esvaziava todo o sossego. em solos que agora eram seus. menina de ouro aquela. vivia do suficiente. num ritmo intorpecente. era agente. era ela. a menina que agora descobria as coisas.

terça-feira, 17 de março de 2009

jogo feminino


[Marina]- Vocês acham que existe sexo sem amor?
[Gabi e Luisa]- Com certeza...
[Luisa]- Eu acho que não existe amor sem sexo também.
[Gabi]-Aí eu discordo, acho que quando se ama, sexo é secundário.
[Marina]- Mas faz parte e é importante. Tô com a Luisa. amor não sobrevive sem sexo.
[Gabi]- Namoro o Cauã há quatro anos, e demorou um ano e pouco pra gente ir pra cama. Eu o amava antes disso, e não acho que o sexo tenha mudado alguma coisa.
[Marina]- Experimenta ficar sem sexo, mesmo com todo o amor do mundo, depois de já ter ido pra cama com ele...você pode até aguentar mais, mas ele vai subir pelas paredes...
[Luisa]- Sexo traz intimidade, você perde a vergonha. Vocês passam a falar de tudo, a dividir escova de dente e cobertor. Acho que a relação ganha outro sentido. Todas nós namoramos e sabemos disso...
[Gabi]- É vocês têm razão. uma coisa é não ir pra cama, e deixar essa "porta" trancada. outra é se entregar e fugir depois. Acho que meu amor não viveria sem sexo. Só se acontecesse alguma coisa né?!
[Luisa]- Acho que conforme o tempo passa. esse tabu de ir pra cama ou não. vai caindo. já fiz sexo sem amor e foi bom. mas prefiro muito mais fazer isso com amor. ganha uma tonalidade diferente. rola um carinho, um desejo mais gostoso. você não é um objeto. é uma mulher. e não faz sexo. faz amor.
[Marina]- Só fui pra cama com o Marcos. e sinceramente não tenho vontade de conhecer outro homem. não encaro essa onda de experimentar. a primeira vez que pensei em sexo, me lembro de ter ficado noites sem dormir. tinha medo de ser deixada depois. neura de mocidade. eu já não era mais uma menina. mas precisava de uma certeza. fiquei neurótica. até que encontrei o momento. e fomos nos descobrindo. quanto mais o tempo passa, melhor fica.
[Gabi]- Deixa de ser quantidade. passa a ser qualidade.
[Luisa]- Olha, eu sou toda de boa, confiante e segura. mas o melhor do sexo é o depois. ficar ali na cama. se olhando. conversando. envolvida nos braços dele. acho que sou romântica...
[Marina]- Você é mulher. toda mulher é romântica. por isso que eu acho que sexo sem amor perde um pouco do sentido. não que seja ruim. afinal sexo é sinônimo de prazer. mas. o legal é tudo o que está ali. o ato em si. e a atenção depois. e antes também. É tão gostoso ser bem tratada o dia todo. ficar na expectativa. receber um telefonema. ou uma mensagem...
[Gabi]- É o que eu vivo falando pro Cauã. ele tem que me tratar bem o dia todo. não só meia hora antes da gente ir pra cama. sexo envolve toda uma atenção e dedicação.
[Luisa]- Ai que exagero! fazer sexo como forma de reconciliação é uma boa também. tudo fica bem...
[Gabi]- Gente já passam das oito da noite. vamos logo fazer pipoca que o nosso filme vai começar...

E assim foram elas para a sala...

quarta-feira, 11 de março de 2009

Que mulher!

Que mulher nunca teve...

Um sutiã meio furado,
Um primo meio tarado,
Ou um amigo meio viado?

Que mulher nunca tomou
Um fora de querer sumir,
Um porre de cair
Ou um lexotan para dormir?

Que mulher nunca sonhou
Com a sogra morta, estendida,
Em ser muito feliz na vida
Ou com uma lipo na barriga?

Que mulher nunca pensou
Em dar fim numa panela,
Jogar os filhos pela janela
Ou que a culpa era toda dela?

Que mulher nunca penou
Para que ter a perna depilada,
Para que aturar uma empregada
Ou para que trabalhar menstruada?

Que mulher nunca comeu
Uma caixa de Bis, por ansiedade,
Uma alface, no almoço, por vaidade
Ou, um canalha por saudade?

Que mulher nunca apertou
O pé no sapato para caber,
A barriga para emagrecer
Ou um ursinho para não enlouquecer?

Que mulher nunca jurou
Que não estava ao telefone,
Que não pensa em silicone
Que "dele" não lembra nem o nome?

(Autor desconhecido)

quinta-feira, 5 de março de 2009

Os momentos de Bia.

imagem: Devian art by Cetrobo.

O despertador a chamava todos os dias pela manhã, ela que queria sempre mais cinco minutinhos. saía de casa sempre atrasada para o trabalho. ia até a garagem. ligava o carro. e saía. aquele dia era diferente. seria o último dia igual que ela teria. tinha até feito as malas para a mudança de apartamento para casa. queria ter uma passarinho, mas tinha dó de prender alguém que podia voar.
a maquiagem leve e o sorriso pesado revelavam a surpresa que tomava conta dela. pintaria as paredes de amarelo. e teria sofás alaranjados. gostava de tudo muito colorido. era mulher trabalhadora. fotógrafa profissional. já tinha até feito algumas exposições.
trabalhou até as três da tarde. depois se despediu dos amigos que havia feito naqueles cinco anos de estúdio. sentiria saudade daquilo. mas agora seria dona de suas próprias coisas. e estava ansiosa.
Luiz era companheiro dela há uns dois anos. mas ainda não moravam juntos. isso só aconteceria depois de casarem. não por ele. mas por ela. ela pensava que tudo tinha seu tempo. hora de namorar é hora de namorar. depois noivar e casar. nada de precipitações. porque afinal de contas ela queria ouvir os sinos e fazer uma grande festa. ele era tímido. por isso só entraria nessa tradição por ela.
ele ensinou muitas coisas pra Bia. ela era tão insegura e carente. agora não. antes dele vinha ela. vivia todas as intensidades do momento. não deixava nenhuma vontade pra trás. amava ele. mas sabia que tinha as coisas dela. não que fosse fria demais. mas é que conforme o tempo passava. ela se adaptava ao jeito do mundo dos homens.
antes ela sentia vontade dele todos os minutos. queria dividir todas as coisas. era mais um sufoco do que um prazer ser dela. já dizia Mário Quintana "Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela..."por isso agora Bia aprendeu que todo mundo tem mais coisas na vida do que o amor. e repito. não que ela fosse distante demais. era só realista. era carinhosa na medida certa. segura e confiante todo tempo. às vezes tinha vontade de explodir. mas se continha pelo bem da humanidade.
ela tinha guardado algumas fotos numa caixinha verde e azul. eram antigas aquelas imagens. que a essa altura já eram lembrança. como gostava da nostalgia de viver as memórias. tudo o que tinha se transformado. estava ali naquela caixinha. eram tantas as histórias. os momentos da vida de Bia sempre foram tão exagerados. mas desde que virou gente grande percebeu que o tempo era mais curto. e envolvido por grandes problemas. Repito não que fosse ausente de sentimentos. mas era a verdade que ela descobriu.
Agora tinha que arrumar seu canto e viver o encanto da vida de gente grande.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Sim, senhora.

Já era menina-moça quando se mudou pra cidade grande pra estudar. Faria direito, e seria juíza, como sonhara o pai. A cidade em que passou infância e juventude, era pequena. Quatro mil habitantes, a maioria trabalhava na roça. Seu pai tinha terras, mas nunca escondera de ninguém que já cortou cana quando era moço. A mãe, corpulenta e com um sorriso esbranquiçado, não sabia de história, nem de gramática, mas nunca negou trabalho, nunca teve vergonha.
A menina-moça, filha única, veio quando os pais já tinham vencido na vida. Nunca lhe faltou nada, e ela nunca quis demais. Sempre estudou bastante, era orgulho da família. Fazia tudo para que os pais ficassem feliz, afinal de contas era tudo o que ela tinha de verdade na vida. Nunca namorou, nem foi em festa, nem teve amigos.
Era baixa e cheia de curvas, prendia os cabelos em forma de coque toda manhã, gostava de usar tênis e calça jeans. Quietinha e incompleta, era assim que era a menina-moça. Tinha um diário para escrever seus segredos e histórias.
Logo que acabou o colegial, foi pra cidade grande pra estudar. A mãe queria que ela fosse médica, mas o pai queria que ela fosse juíza. No final das contas, ela só queria fazer histórias, escrever sobre o mundo. Mas para que não desapontasse os pais, foi fazer faculdade de direito. O pai foi levá-la até o apartamento que ele havia comprado pra ela, com todas as coisas que ele e a mãe achavam importante. Não perguntaram do que ela precisava, sabiam que diria que não queria nada.
A despedida foi triste, e cheia de saudades prévias. Ao acenar da janela, e ver o carro do pai partir, ela sentiu medo e alívio. Poderia ser livre de todas as cobranças silenciosas, de todas as perfeições estipuladas, de todo o cheiro comprado. Calçou um tênis e desceu de elevador para o chão, foi até a praça que tinha na esquina da casa dela. O dia estava frio e escuro, mas ela via tantas luzes e cores. Respirava um ar poluído como se fosse purificado. Ficou ali imaginando coisas, inventando argumentos, sussurrando palavras. Tudo o que tinha era a si mesma agora, não que não tivesse antes, mas dessa vez poderia mostrar o que era e pensava. Tomaria um porre, teria amigos, não teria regras. Diria sim para todas as suas vontades, e viraria gente de verdade. Seria imperfeita como manda o figurino. Cometeria erros, contaria piadas, faltaria da missa, ouviria rock, se apaixonaria. Era bonita aquela menina-moça, os olhos esverdeados e o cabelo negro, eram particulares. Mas o que ela tinha de melhor era vontade. Vontade de: conhecer a vida e desvendar pessoas.

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Wh. RB.

era um desejo. um vício. um outro encontro.
enquanto eu me perdia. você estava comigo.
era tudo o que eu podia ser. num desleixo qualquer.
era uma vontade desenfreada. inacabada. intocada.
era você. era eu. e simplesmente éramos.

depois de tanto tempo. de tanta dependência. de tantas histórias.
o estrago. desmantelado. infundado. cheguei a ser mais sua do que podia.
vivi coisas que nem o tempo. nem mesmo memórias guardariam.
sobrevivi a seus acessos de fúria. a sua imcompreensão tão desmedida.
cheguei a me perder. só pra te encontrar mais uma vez.

senti a maior dor do mundo. perdi as rédeas. ganhei você.
era simples. era um gosto. meu mundo novo.
mas agora já não era mais eu. só você.
por isso fui embora. te larguei por aí. e decidi.
uma mudança seria bem-vinda. mesmo que ninguém acreditasse.
mesmo que eu mesma tivesse dúvida.

o que guardo de você. são caminhos tortos. mentiras verdeiras. e amplificação de sentidos. são lembranças que são mais suas do que minha. são contextos incontestados. caminho abandonado. amor disperdiçado.

e agora sou minha. da forma que eu quiser ser.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Doce encanto de Pearl

imagem de vinicius mattoso

de todas as intensidades. quis amar. de todos os erros. quis participar. de tudo era um pouco dela. as tonalidades mais distintas. os prazeres mais carregados. as verdades mais absolutas. essa era Pearl. a menina que quis conhecer o mundo. e experimentou todos os sabores. sabia cantar e criar. era ausente de si durante as noites em que cantava. se transformava. era como se ficasse nua. podia ser vista sem medo. era livre ali. era o seu lugar. era a mulher da voz rouca. e das expressões amplificadas. e por mais sozinha que fosse. queria pertencer a alguém. que fosse como ela. cheio de sentimentos. se perdia no caminhos que escolhia seguir. mas jamais parava. continuava. era parte de seu coração. era tudo o que tinha agora. o mundo. nada mais escapava de suas mãos. ninguém deixaria de ouvir suas palavras. era tão doce e aspero.
INTENSIDADE E LIBERDADE. era os votos que ela escrevia no coração do mundo.


"A liberdade nos leva a sentir, e os sentimentos não podem ser ruins. Somos feitos de sentimentos. Estamos compostos de sentimentos e existimos e vivemos por eles, no que me diz respeito. Acho este tipo de liberdade linda" Janis Joplin.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

efeito colateral

nas entrelinhas tortas. discordava. os contratempos viravam passatempo. e ela pequena de grande. se acostumava. era um efeito colateral. a forma como sentia desejo carnal. agora crescia dentro dela. e numa mesa de bar. ao se levantar. foi encontrar. alguém que nem sabia quem. foi uma. duas. três. quatro. cinco tequilas. até que ela se deixasse levar nos braços dele. sem balbuciar. nem dizer nada. foram até o carro parado na esquina do lado. ele a tomou por inteiro. sem que ela pudesse sentir. esse era um dos efeitos do agora que ela vivia. desejava. mas não sentia. era descartável qualquer envolvimento. que sempre passageiros. não deixavam lembrança. a mulher chegou em casa com os sapatos nas mãos pra não fazer barulho. a maqquiagem borrada. o cabelo dessarumado. o vestido meio aberto. não gostava mais do rumo que tomava. se sentia tão suja. e inanimada. como podia. como queria. como seria. deveria parar de tomar aqueles remédios. um deles era pra evitar o amor. outro para evitar aproximação. outro era para evitar saudade. e o último era para que não sentisse dor. agora ela queria interromper os tratamentos. e ter o efeito desfeito. queria poder sentir. queria poder ter saudade. queria até mesmo ter dor. porque assim se sentiria viva. numa entrega desmedida. num caminho sem saída. podia ficar presa dessa vez. mesmo que errasse de novo. mesmo que tomasse o mesmo rumo. mesmo que chorasse. mesmo que desacreditasse. porque não queria mais ser sozinha. mais que ser dela. queria mesmo. era ser de alguém...

P.s: PLEASE, JUST A HISTORY!!!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

a garota que voava.


vou me embora. tomar rumo. criar destino. alimentar sonho.
vou pra qualquer lugar. acabei de virar gente.
vou pra onde eu posso descansar.
vou eu e minha alma.
vou rápido.
vou.

aprendi a voar. tomei alguns tombos. o vento bate insolente.
aprendi que não se desiste das coisas. nem do tempo.
aprendi que o maior amor. é o meu. sem perjúrios.
aprendi que a certeza não existe.nem é nossa.
aprendi que posso tudo. e não temo nada.
aprendi. aprendi. e sei.

agora vou me indo. sem caminho. sem certeza. mas vou porque aprendi. e agora sei.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

E se...

Já se olhavam entre lençois e braços entrelaçados. depois de uma longa noite de entrega.
-Vamos fazer uma brincadeira?- disse ela com a voz em sussurros.
-Qual?- disse ele intrigado.
-A brincadeira do "E se..."
-...
- E se eu tivesse que mudar de país?
-Eu te esperaria até o último minuto da minha vida, ou iria com você. E se nos casassemos...e se tivessemos filhos...
- E se o tempo não deixasse isso acontecer?
-Então seriamos só nós dois de qualquer forma. E se você pudesse realizar um sonho?
-Seria médica na África, salvaria vidas e não teria mais dúvidas quanto minha existência. E se tivessemos uma briga feia?
-Eu discutiria por alguns minutos, mas depois me calaria, te abraçaria, enxugaria suas lágrimas e pediria para não brigarmos nunca mais. E se eu trabalhasse num lugar bem longe de você?
-Eu iria junto, e ficaria ao seu lado. E se você pudesse fazer um pedido agora?
-Viajaria o mundo com uma mochila nas costas, conheceria e escreveria várias histórias e não teria endereço fixo jamais. E se eu te pedisse uma coisa agora?
-O quê?
-Dança comigo?
Dançaram no quarto iluminado por velas. com o corpo colado. e permaneceram ali. a janela de vidro revelava os segredos deles. o conjunto que formavam. a continuação que eram um do outro. o imediato que viviam e o amanhã que esperavam...

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

tic-tac.

é estranho como sentimos o tempo passar. sem sequer observar os ponteiros do relógio. poderia dizer que a presença desse tal tempo. já não me incomoda mais. deixei também de me apegar demais às pessoas. isso só me deixava à beira da fragilidade. essa que me tornava vulnerável . antes confesso. que era uma carente profissional. e uma pessoa insegura. assídua. as minhas lembranças guardei em lugar perigoso. para que fossem roubadas. agora sou solitária. e isso faz bem pra mim. é como se vivesse meu anos dourados. sem dor. posso dizer que só tive um amor. nesse tempo todo. e se alguém morresse de amor. eu estaria morta. porque amei. e ninguém poderia amá-lo como amei. deixei tudo pra trás. inclusive quem eu era. passei a ser a outra. que ele gostasse que eu fosse. não tinha preocupações. não fazia planos. e não tinha apegos. mas cansei de encenar. os holofotes do palco apagaram minha cor. e sem que ele percebesse. me perdia. com todo seu desleixo. ele me perdia. com todo seu descaso. me perdia com toda sua ausência. me perdia. enquanto isso eu me procurava. até me encontrar de novo.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A garota e o rockeiro.


a ausência dele sufocava o peito da garota. sentia tanta falta de dormir com a cabeça sobre o peito dele. e ouvir os sussuros e promessas que ele fazia. dessa vez não estava preocupada. já não era mais insegura. apesar de jovem. baniu alguns sentimentos pertubadores de si. o ciúme foi esquecido. e as desanvenças resolvidas. acreditava nele. e isso bastava. pela primeira vez disse a si mesma. que seria eterno. enquanto o fim não chegasse. estava tão cheia de si. mesmo com a falta que ele fazia. certamente choraria uma possível partida sem volta. mas não morreria. viveria. porque isso era escolha. e ela tomou decisão de seguir com ele. todos os dias de sua vida. até que ele acompanhasse ela também. e sabe o que mais fazia falta. a ausência do toque. do cheiro. das mãos quentes. das palavras bonitas. dos desejos repentinos que ele realizava. dos dias em que via ele tocar numa banda de rock. outro dia mesmo. ela até pediu ele em casamento. ele brincou com ela. pensou que fosse brincadeira. mas era real. simples. mas de verdade. faria loucuras com ele. mudaria de cidade. e até de planeta. enquanto ele quisesse estar ao lado dela. ela vivia mexendo no cabelo dele. talvez ele não percebesse. mas era uma forma de dizer que o apoiaria. do jeito dela. viu até um vestido pro dia dela. seria branco como das noivas. não muito cheio de coisas. mas que mostrasse as curvas e cores que ela carregava em si. depois poderia ir pra qualquer lugar. e falariam qualquer idioma. desde que estivessem juntos. um companheiro do outro. a ausência dele ainda sufocava o peito dela.

P.s: só uma história.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Milagre

Tinha os pés pequenos, os braços compridos, pele branca e cabelo encaracolado. além de desengonçado, sempre se perdia. talvez tivesse algum problema com as ruas. dizia ele que elas se moviam de lugar à todo instante. não tinha ninguém que o esperasse e o deixasse de castigo. afinal de contas, Danilo já tinha seus quinze e pouco anos.

Tinha os ombros largos, a cor escura, e vesia terno. além de bem sucedido, Joca era homem bom de coração. nunca se atrasava. não bebia e não fumava.

- Tá com algum problema garoto?
- Tô perdido. Mas isso eu faço sempre.
- Acho que posso te ajudar. Você sabe qual é o endereço?
- Não... Vou esperar mais um pouco vê se me lembro.
- Posso esperar com você?
- Você é traficante moço-negro?
- Meu nome é Joaquim, e sou médico.
- Como? Você é negro. Minha mãe diz que pessoas da sua cor são perigosas.
- É mentira. Estou conversando com você há meia hora e não fiz nada com você, certo? Eu cuido para que as pessoas se curem.
- Como assim?
- Quando alguém me procura e tem um machucado, eu cuido da pessoa.
- Será que você pode me curar, seu médico?
- Sente dor?
- Sim. Minha cabeça dói e ouve coisas. Minha mãe num gosta de mim, por causa disso.
- Talvez você seja ezquizofrênico, sabe o que é isso?
- Sou eu?
- É o que você tem, mas não é você. Garoto, sua mãe está errada em não te amar. Deveria perceber que você é um milagre.
- Sou especial?
- Claro que sim.
- Igual o Batman?
- Melhor que ele, você é real, de verdade, gente. Pode ser o que você quiser. O que você quer?
- Quero ser astronauta e morar na lua.
- Vai ficar na lua sozinho?
- Não...não. O moço-negro vai vim comigo, porque é meu amigo.

Joca ficou ali, e pela primeira vez perdeu hora.
Danilo fez seu primeiro amigo, e pela primeira vez viu que não era sozinho no mundo.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O sonho!

parou no meio do caminho pra comprar um doce na padaria. não era de costume da mulher. até porque estava sempre atrasada e correndo. mas aquele dia era especial. tudo poderia esperar. até os relatórios e o chefe. sentiu tanta vontade de comer um sonho. e foi o que fez. foi até o balcão. e pediu um sonho.
- Você quer do grande ou do pequeno?- perguntou a atendente.
- O maior que você puder encontrar. Daqueles que fazem a gente até fechar os olhos, de tão bom.
- Sonho é bom, né?
- É a melhor coisa que já inventaram, ou descobriram.
- Gosto de sonhar também.- disse a atendente sorrindo.
- Pois é. Acho que eu não sonho mais. Deito a cabeça no travesseiro e a única coisa que me resta são as preocupações. É como se nada mais tivesse espaço em minha vida.
- Sei que não sou nada mais que uma atendente, mas você deveria sonhar. Faça isso acordada e dormindo, de dia e de noite.
- Já não tenho mais tempo para grandes realizações. Vivi tanto tempo, sem ao menos me notar, que meus sonhos já dormiram.
- Não pode dizer isso. Eu, por exemplo, sonho em ter um filho quando é de dia, e a noite sonho que ele está dentro de mim esperando. Você pode ser o que quiser, o tempo espera.
- Preciso ir, o sonho estava uma delícia. Boa sorte com seus sonhos!
Ela saiu dali. não porque estivesse preocupada com os compromissos. mas porque não queria mais perder tempo. andava pelas calçadas tumultuadas da grande cidade. olhava em volta. e não via nada. queria sonhar de novo. apenas isso. e fechou os olhos enquanto atravessava a rua. foi andando passos pequenos. pra que tivesse tempo. naquele dia ela teve um bom sonho em suas mãos. e ao abrir os olhos sorriu. foi a última coisa que fez antes de seu tempo acabar.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

a menina e o gavião.

"Algumas coisas são terrivelmente inexplicáveis,
E simplesmente agradáveis..."
Foi a frase que a menina escrevera, enquanto olhava as gotas de chuva grudadas no vidro do carro. Tinha sim um significado, não que fosse absoluto, nem que fosse disperdiçado. Era como o tempo, uma história passageira. Dessas que a gente dá carona. Ela era menina das estradas, não gostava de permanecer por muito tempo num lugar. Enjoava fácil das coisas, e então ia embora. Por isso não tinha endereço fixo nem companhia eterna. Era sozinha como gaviões, que lutam apenas para sobreviver, e não criam grandes laços. Porque na verdade, ela não se importava muito com as coisas. Vivia um dia de cada vez, de forma lenta, parecia fazer com que o relógio andasse mais devagar, só pra ela. Numa dessas aventuras, certa vez ficou amiga de uma menina da cidade, dona de um bar. Virou atendente, burlava expdediente, mas ela podia. Sempre fez as coisas como quis, não conhecia regras, porque achava que isso era coisa de gente que não tinha o que fazer. A ordem ela criava, de acordo com seus devaneios e arbitrariedades. Era complexa a menina. Mas não fazia questão de que fosse entendida ou decifrada. O dia em que isso acontecesse, ficaria vulnerável demais, pro mundo que ela pensava manipular. Já tinha sido tantas coisas ao longo de seus trinta e poucos anos. E conheceras tantos causos. Uma vez também, conheceu um amigo engraçado, morava embaixo de uma ponte, no centro de uma cidadezinha pequena. Ele nunca mudava de roupas, sempre com seu smoking rasgado, e a cara maquiada. Era conhecido por lá. Quase famoso, mas achavam que era um louco, desses que não tem nada pra fazer. Ele contava histórias. Ela ouviu tantas coisas. Até que resolveu alçar vôo mais uma vez. Sabia que a vida dela era diferente. Mas gostava de ser assim. Porque vivia a vida do jeito que queria. Nunca estava só. Tampouco perdida. A menina e o gavião. Uma pessoa e seu jeito. O real e o sonho. A verdade e a mentira. Era todas as coisas que podia ser. Ou que precisava ser.

domingo, 25 de janeiro de 2009

a história do homem que amava.

Jaime era homem de meia idade. tinha posses. duas filhas. e havia perdido a mulher há seis meses. o desânimo tomou conta dele. e doente. contratou os cuidados de Rose. mulher jovem. nem trinta anos. loira. olhos esverdeados. jeito de gente dedicada. foi pouco o tempo que demorou para que ele desejasse ela. quis ela ao seu lado. mesmo depois de se curar da doença. que não era grave. as filhas foram contra. o corpo da mãe não tinha nem esquentadso. e o pai já queria se casar de novo.
-Filhas, quero me casar com Rose. Sou homem, preciso de companhia. E vocês não estarão sempre por aqui.
-Pai, pelo amor de Deus, essa mulher não gosta de você.
As discussões foram em vão. no mês seguinte casaram. Rose que parecia tão perfeita. começou a mostrar o desinteresse e o nojo que sentia por Jaime. queria corpos novos. e toda noite se deitava com diferentes homens que trabalhavam na grande casa de seu marido. ele sabia. mas não se importava. desde que fosse desejo carnal. ela poderia compartilhar a lúxuria que afogava o corpo dela.
-Dr. Jaime, seu genro está te esperando lá embaixo.- disse o mordomo.
Carlos era noivo da filha mais velha de Jaime. moço alto. moreno. forte. tinha criação de cavalos. e estava prestes a se casar com Joana. ao vê-lo Rose desejou-o com todas as suas forças. e naquela mesma noite começaria a conquistá-lo. depois do jantar. a chuva tomou conta das terras. e Carlos resolveu permanecer por ali. quando todos se deitaram. ele foi até o celeiro. ver como estavam os cavalos de seu sogro. Rose apareceu ali. com uma camisola branca e transparente. seduziu-o. e tomou-o. naquela noite. ela tinha um poder de sedução. desconhecido por aquelas bandas. era devoradora de homens. Jaime viu tudo. assitia a cena. e esperou que dormissem. para loucamente matá-los. não fugiu. nem correu. esperou que alguém chegasse. e o leva-se para a cadeia.
-Sua mulher mantinha muitos casos. Por que a matou agora?- perguntou o delegado.
-Porque ela se apaixonou por ele. enquanto fosse apenas um desejo carnal. eu aceitaria. mas vê-la amar outro. era díficil demais pra mim.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

pra sempre.


queria falar de qualquer coisa. mas como não falar dele. logo agora que estavam separados. por quilômetros de distância. e fuso horário diferente. ele voltaria tão logo. foi o que disse ao partir. mas os dias resolveram andar mais devagar. até parecia que os relógios haviam parado. lembrava dele o tempo todo. o jeito como sorria pra ela. quando ela contava piada. ou mesmo o abraço forte que dava nela. ou quando a segurava nos braços. e a levantava sem muito esforço. as conversas que tinham. as noites que ele ficava acordado para esperar ela no trabalho. agora gostava até de se lembrar da cara de bravo que ele fazia pra ela. quando ela sentia ciúmes dele. tudo isso era saudade. era vontade. era desejo. era ele. e só ele. não que tivesse que ser outra coisa. afinal de contas. ela só queria que ele pegasse aquele avião e voltasse. para que fizessem tudo junto de novo. porque apesar de serem individuais. pareciam únicos. pertenciam ao mesmo cenário da vida. mesmo que gostassem de músicas diferentes. pelo menos torciam para o mesmo time. mesmo que de formas diferentes. afinal de contas. ela gritava o jogo todo. e ele torcia quieto. será que existe algum aparelho. que traga as pessoas de volta. de forma instântanea. e quando ele chegasse. teria que dividir a atenção dele. com os amigos. que ainda o tratavam. como se ela não existisse. não que ela fosse egoísta. mas tinha tanta coisa pra contar. e tinha que tocá-lo. sentí-lo. amar ele. será que as pessoas não percebiam. o quanto era doloroso essa distância. talvez ela sentisse em maior escala. por isso via as coisas diferentes. era uma necessidade. não. essa não é a palavra. o certo seria dizer. que era amor. e isso era verdade. o que ela sentia era sede. fome. dele. da voz. dos olhares. das mãos. de tudo. que fosse ele. porque ela havia feito promessas. pra ele. porque ela havia se entregado a ele. porque ela cuidava dele. mesmo que ele não se preocupasse. com a casa suja. e com as delongas dela. ela queria ele. mesmo que existissem uma infinidade de outros por aí. porque era assim. dele. por inteira. de trejeitos. de momentos. de promessas. e conversas. e não queria que fosse diferente. e podia ser desse jeito pra sempre.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Cidade Grande, tempo pequeno.

Já fazia alguns anos que havia chegado na cidade grande. Fora criada no interior, e ainda se encantava com as pessoas e as luzes da "metrópole". Gostava de abrir as janelas, de noite, e ver como as cores se misturavam rapidamente, ali embaixo, em sua calçada. Tantos passos e caminhos passavam por ali, já tinha perdido as contas, mas não a vontade de olhar. Agora que já tinha seus vinte e poucos anos, fazia alguns planos. Precisava conhecer alguém, casar, ter filhos, mas não pensava em voltar para sua pequena cidade.
-Aqui a vida é maior. Tudo é mais.
Era isso que dizia quando lhe perguntavam porque havia se mudado. Os telefonemas e as cartas foram diminuindo, os parentes e amigos, pareciam tão distantes. Fechou as janelas, e foi se deitar, amanhã teria médico logo pela manhã. Depois iria dobrar roupas na loja em que trabalhava durante o dia. Já se sentia cansada só de pensar, deitou-se na cama, fez sua prece, e dormiu rápido.
-Oi, meu nome é Clarice, tenho consulta com o Dr. Marco Aurélio, exames de rotina, nada demais, mas o trabalho exige essas coisas, que eu acho ...
-Tudo bem, senhora. Pode aguardar ali, já será chamada.
Ela ainda estranhava a indiferença daquele povo metropolitano. Se fosse na cidade dela, continuaria falando por mais alguns minutos, e logo se formaria uma prosa gostosa.
-Coloque essa outra roupa, pode pendurar suas coisas ali naquele armário, o Doutor já espera por você.-Disse a enfermeira-recepcionista, sem muitas delongas.
Alguns minutos depois, trocou de roupa, e se sentou em frente ao médico, que era careca e magro, parecia um doente de tão pálido, devia trabalhar muito o coitado, foi o que pensou.
-E então, tudo certo?
-Dona Clarice, temos um pequeno probleminha, mas fique calma.
-Tudo bem, sei resolver problemas, afinal vivo sozinha...
-Ok. Os exames revelaram um pequeno cisto dentro do seu ovário, e precisaremos de mais exames, para confirmar o que isto significa.
-Como assim? O que é isso?- já sem fôlego e confusa.
-Dirija-se à sala ao lado, faremos isso imediatamente.
Estava sozinha ali, e agora sentia medo. Talvez, se não tivesse ido ao médico, se não cumprisse as exigências do patrão. Mas sentia-se cansada, e andava vômitando à alguns dias. Para ela, era uma virose, dessas que passam com o tempo. O exame durou cerca de meia hora, e a essa altura já teria perdido o horário de trabalho, estava ainda mais aflita.
-Sinto muito senhora, mas receio não poder lhe ajudar. Seu ovário, útero e acredito que mais partes estão tomadas. Infelizmente, não posso lhe receitar remédios ou tratamentos.
Ela saiu dali, as lágrimas escorriam pelo rosto, resolveu correr, talvez estivesse dormindo e tendo pesadelos. No fundo sabia que não, mas era díficil aceitar que não teria muito tempo mais. E ainda, tinha tanta coisa pra fazer. Deveria ir embora, voltar pra casa, fazer uma lista. A única coisa que fez, foi sentar-se na praça Buenos Aires, e olhar as pombas que ficavam ali. Teriam mais tempo que ela. Reparou nas cores, que se misturavam com maior intensidade naquela manhã, e sorriu. Não porque estivesse feliz, mas porque apesar do medo, deixaria tudo que não fosse importante de lado. A primeira coisa a fazer, é comprar uma passagem de volta para o interior, procurar os amigos, abraçar os pais, e esquecer do tempo, que pra ela, já não tinha mais relevância.

domingo, 11 de janeiro de 2009

ela igual.

Sempre fora assim. extrema. exagerada. intensa. e queria poder dizer à ele. que doía nela tudo isso. se sentir ciúmes de outra qualquer que se aproximasse dele. era exagero. então sim era exagerada. se prometesse a eternidade à ele era demais. então era demasiada.e se tudo isso era irritante. então ela irritaria ele todos os dias. queria poder ser diferente. mas seria igual. e agora sentia tanto medo de todos aqueles sentimentos. que andavam explodindo no peito. queimando a alma. dilacerando o coração. era tão confuso. que tinha dificuldades pra respirar. ofegava. parava. e depois suspirava. nem ela entendia nada. por isso não desejava que ele compreendesse alguma coisa. tinha sido único homem na vida dela. mas isso não fazia com que ele tivesse obrigações. queria amor. só isso. e se ainda assim. ele saísse fazendo barulho pela porta. ela se calaria. porque apesar de tudo. não gostava de sufocar ninguém. choraria sozinha. perderia algumas vontades. e esperaria por ele. mesmo que aquela porta nunca mais fosse aberta. e as mãos dele não voltasse a tocar o corpo dela. e mais uma vez seria igual...

P.s: Só uma história.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A virada!


-Di, o que você mais gosta em mim?
-Você é carinhosa, bonita, tem um rosto exótico, único.
-Mas você sempre diz que eu falo demais, e sou mimada.
-Ahhh Clara, às vezes você parece um bêbe, mas eu cuido de você.
-E em mim? Do que você gosta?
-Dos olhos, da boca, e do jeito.
-Mas às vezes você fala que eu sou chato.
-Porque você é Digo!
-Então é assim?!
Ele segurou ela no colo, como se carregasse uma boneca de porcelana, colocou-a na cama, e com as mãos tirou os cabelos negros, que haviam se espalhado no rosto de Clara. Ela sorriu, e suas leves covinhas transpareceram. Ele a beijou, e ela se rendeu. Fazia tanto sentido estar ali, numa cama de hotel, conversando com ele. Era a primeira viagem que faziam sozinhos, e cada segundo passado, era aproveitado, era usado.
-Você acha que sou romântica?!
-Isso com certeza, e toda derretida com histórias exageradas que lê ou assiste na TV.
-Você é que é machista demais...
-Quer casar comigo?
-Digo pára!
-Eu falo sério, eu quero você.
-E vamos morar onde? Comer o quê?
-Me diz o que você quer, e eu dou um jeito. Porque o que eu quero está na minha frente, nas minhas mãos.
-Ficar com você é tudo o que eu mais quero, mas isso deve ser planejado, pensado. Não é uma decisão que se toma num impulso.`Porque tenho que sempre ser a chata, e adulta de nós dois.
-Porque eu tenho que ser o exagerado que te ama até o fim.
-Não precisamos casar, pra que você me tenha. Você foi o único homem com quem me deitei, e com quem quero acordar todos os dias.
-Se nos casarmos, você pode morar comigo. Além do mais, preciso de uma testemunha para a minha vida. São tantas as pessoas que as histórias passam despercebidas. Mas você vai poder contar como eu sorria, e o quanto eu te amava, para todos. Fazer com que nossa história seja perpétua...
-Depois a romântica sou eu...
-Agora chega de falar, me dá um beijo...
Foi assim que a conversa terminou, e as luzes se apagaram. Clara ainda sorria, Rodrigo ainda a tinha em seus braços. E na virada de ano, ao som de fogos e festas, se amavam da forma mais intensa que já se viu ou ouviu...