segunda-feira, 25 de agosto de 2008

A CASA

passava horas no quarto. ás vezes pensava em comprar um cachorro. mas não gostava muito de animais. na verdade tinha medo deles. queria ter um cavalo. esse era o único animail que ela achava sincero. partilhava segredos como de costume. queria alguma coisa. escrevia mais uma vez. procurava as palavras perfeitas. tocava os sentimentos abstratos. os sussurros eram apenas abafados. abria as portas. fechava as janelas. decidiu fazer um café. andou descalça até a cozinha. o cheiro daquela casa era tão familiar. era composto de lembranças. de quimicas. e expressões. as paredes eram vermelhas. amarelas. e brancas. o chão era frio. e as portas eram de madeira. tinha um banco no quintal. gostava de sentar lá algumas noites. pensar no dia. reverter as horas. a TV falava mais alto que ela. e o rádio a tirava para uma dança. tão cavalheiro. dizia palavras bonitas na orelha dela. rimas copiadas. tons alterados. e ela se entregava ali. no quintal. na sala. na cozinha. desejava pelas mãos. braços. pernas. os cabelos soltos. os olhos limpos. vestia um shorts. e uma camiseta. se sentia bem na sua essência. molhou os lábios. agora com água bem gelada. acendeu as luzes. precisava se iluminar. olhou algumas fotos. sentia saudade. percebeu o tempo. e resolveu que já era velha demais pra esperas. queria ser livre. e seria...

terça-feira, 19 de agosto de 2008

: confidências,

: listei algumas curiosidades da minha vida.
já quis voar. e me estrepei numa queda que ia da ponta do sofá ao chão.
já gostei de lasanha. comi tanto que enjoei.
já troquei comida por doce. faço isso até hoje.
já quebrei os dois braços. um jogando futebol e o outro caí do cavalo.
já quis ir pra outro país. um dia vou.
já andei de bicicleta. e caí também.
já fiz diversos esportes. mas o que mais gostei foi equitação.
já escrevi histórias. e joguei no lixo depois.
já assisti filme de terror. hoje não me arrisco a passar noites com medo.
já dormi lendo livro. e perdi a página certa depois.
já tomei multa. e briguei com o policial.
já comi pipoca de madrugada. e depois fiquei com fome.
já andei de patins. mas depois troquei pelo skate do meu irmão.
já passei cola. mas sempre tive medo de colar.
já guardei segredos. que me lembro até hoje.
já quis ser gente grande. quando era criança.
já dirigi sem carta. e uma blitz me parou.
já bebi demais. e passei mal depois.
já cantei. embora tenha conseguido apenas espantar os ouvintes.
já pensei em desistir. mas continuei logo depois.
já declarei amor. e fui correspondida.
já dormi tarde. e acordei cedo.
já fiz cócegas no meu irmão. só pra ver ele sorrir.
já mudei de cidade. e voltei pra casa no final.
já escolhi cores. que hoje não me agradam mais.
já esqueci nomes. e lembrei do rosto.
já tomei banho de chuva. e vi o sol nascer.
já passei noites chorando. de saudade.
já contei carneirinho pra pegar no sono. mas não durmi.
já tive febre. alergia. e melhorei depois.
já senti medo. e descobri que isso é normal.
já fugi de casa. e voltei dois minutos depois.
já me dediquei a solidão. agora não gosto de estar só.
já usei sapato alto e baixo. e descobri que gosto mais de ficar descalça.
já furei fila. e fui vaiada.
já fui em show. teatro. e cinema.
já briguei. e perdoei depois.
já fui amiga. irmã. amante.
já fui minha. e hoje sou dele também.
já quis casar. mas tenho medo de deixar o colo do papai.
já pedi beijo pra mamãe. e ainda peço.
já passei noites pensando e não cheguei a nenhuma conclusão.
já trabalhei. e depois resolvi estudar.
já tive bonecas. e joguei futebol.
já tive amigas. que hoje não vejo mais.
já telefonei no meio da noite. e falei com a caixa postal.
já comi batata frita com sorvete. e gostei.
já fiz promessas. e não cumpri.
já fui. já sei. mas sou. e ainda vou saber.
já tive experiências. desavenças. eloqüencias. confusão. direção. coração. mãos. abraços. pedaços. beijos. desejos.
tive a mim e ao mundo. fui de alguém. ou só. tive casos. descasos. histórias. memórias. lembranças. já senti. mas ainda não sou um todo. um tudo. sou uma parte. sou eu. sou meu. sou teu. sou. o que vivi. a história que fui personagem. ou mesmo expectadora. mas meu filme não acabou. estamos apenas numa vírgula. no ponto de reticências. num até breve. ou volto logo. num amanhã que já é hoje. ou foi ontem. enfim, ainda serei mais. terei mais. amarei mais,

Terra e Mar.

a cabeça estava apoiada no braço do sofá. a janela aberta. o barulho da tevê. e ela. pensava nele. o dia em que se conheceram. ele sorriu. seus olhos se fixaram nela. e o acaso os tornou mais. amigo. amante. confidente. ausente. passaram dias juntos. mas fazia alguns anos que não se viam. ela lembrou das manhãs em que pegavam ônibus juntos. ou da forma em como ele a guiava para um lugar que era dele. seria dela um dia. ela amava andar rápido. ele achava desnecessário e viciante. conversavam sobre tudo. partilhavam segredos. histórias. coca-cola. chocolate. e sonhos. mesmo que fossem opostos. eram dispostos. nunca se declararam. talvez fossem apenas companheiros.do tempo. do metrô. do ônibus. do shopping. do cinema. do trânsito. do barulho. do sorriso. mas não. era diferente. ao lado dele. podia ser ela. chata. irritante. brincalhona. fumante. contadora de piadas.
-Me conta um segredo?- ela.
-Vou embora dessa cidade.-ele.
-Por quê?-ela.
-Odeio o caos. o barulho. a distância que existe entre as pessoas.-ele.
-E você vai pra onde?-ela.
-Pra qualquer lugar que tnha mar.-ele.
-Mas e a gente?-ela.
-A gente dá um jeito.-ele.
-Acho aqui maravilhoso. tem tudo. tem pessoas diferentes. tem lugares abertos toda hora. o dia é proveitoso.
-As pessoas são distantes. o stress é alto. a vida não vale a pena.-ele.
-Ah...sei não.-ela.
-Queria aprender surfar.-ele.
-Ah eu também queria. mas nem por isso tenho que me mudar.-ela.
-Essa cidade não tem graça. e quando você tiver filhos?-ele.
-Uai... não sei se vou ter filhos.-ela.
-gostaria de ter filhos.-ele.
-Você nem tem namorada. nem mulher. como quer ter filhos?-ela.
-Quero. e aqui não é lugar pra crianças.-ele.
-Tem diversos lugares pra crianças. shoppings. parks. escolas. clubes.
-Se eu tiver dinheiro. mas não acho que isso seja legal. falo de andar no asfalto. brincar na terra. jogar bola com os vizinhos. ralar o joelho.-ele.
-É. entendo. e concordo. mas ir embora?-ela.
-Não sei se vou. como você enche o saco- ele.
-E como você é chato.-ela.
saíram do terminal de metrô. desistiram do ônibus. naquele dia ele iriam andando. chegariam mais tarde. mas ficariam mais tempo conversando.
-Hoje é seu aniversário. temos que comemorar.-ele.
-É claro. uma creveja?-ela.
-Tem um bar ali. mas eu entro comprar. não é lugar pra você.-ele.
-Acho que posso ir com você.-ela.
-É um boteco. furreco. eu vou. você me espera.-ele.
ele saiu com duas latinhas de cerveja gelada na mãos. foram caminhando. bebendo. conversando. as ruas largas. o sol quente. os braços colados. parecia que o tempo pararia. não parou. aquele mês acabou. ele se mudou para uma cidade com mar. ela abandonou a confusão. voltou pra casa. ela sentiu saudades. as vezes ligava. pensava nele algumas noites. queria que ele pensasse nela. ela estava alucinada em pensamentos. despertou com o toque alto do celular. era ele. com saudades.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

caneta e papel.

escrevia frases tortas em linhas retas.
gostava de cartas.
decifrara o amor em uma delas.
mas não havia mandado.
queria dizer as palvras certas.
embora não tivesse encontrado.
não tinha pensado em nada.
mesmo que passasse noites em claro.
sentia medo. talvez ninguém soubesse.
ainda que todos perguntassem.
precisava de óculos. e de mais algumas horas.
entretanto não tinha relógio e nem lentes.
queria viajar qualquer hora.
não sabia pra onde ir.
as palavras imóveis.
pareciam correr de seus olhos.

Não tinha mais caneta. nem papel. e ainda assim escrevia.
procurava a conjugação certa.
emendava uma hipérbole em uma metáfora.
o substantivo seguia o adjetivo.
não tinha rimas. ou combinações.
apenas gostava de escrever. mesmo que não lesse depois.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

nosso tempo.


estavam deitados. ela sobre os braços dele. ele com uma das pernas dobradas. falavam de tantas coisas. eram cúmplices. ele falava menos. ela sorria. ficaram calados. o chão gelado. a lua iluminava um sorriso discreto. a manhã chegaria. mas não importava. pareciam dois adolescentes. faziam planos. imaginavam a casa. os filhos. o trabalho. tinham tanta certeza de estar juntos. a casa teria varanda. os filhos seriam parecidos com os dois. e o trabalho seria escolhido a dedo. ele trabalharia com cultura. e ela com políticas sociais. teriam também uma biblioteca. gostavam de livros. eram tão parecidos. embora parecessem opostos.
-Queria ter um quarto com fotos.-ela.
-tudo bem.-ele.
-e queria ter uma planta.
-planta. tudo bem. aonde?
-ah na varanda. e na cozinha.-ela.
-poderiamos ter video-game.-ele.
-você sempre perde. qual é a graça?-ela.
-te ver ganhar.-ele.
ele roçou a barba no pescoço dela. a abraçou. ficaram ali. como se a noite fosse deles. na verdade, todas as noites eram deles. contavam segredos. faziam confidências. beijavam o canto da boca. a boca inteira. o pescoço. a buchecha. o corpo inteiro. a mão dela era tão pequena perto da dele. e então ela gostava de se perder dentro dele. do abraço.
ela durmiu. ele não. gostava de olhar ela. desenhava seu corpo com os dedos. todas as curvas. todos os traços. sentia por não poderem se ver todos os dias. queria poder dormir nos braços dela. mas nem sempre era possível. queria dar um jeito. ela vivia reclamando. queria poder acordar nos braços dele. precisavam que os anos passassem. que a hora chegasse. e então seriam só os dois. fariam novos planos. teriam novos desejos. amariam mais. isso eles tinham certeza. iriam ao cinema aos sábados. comeriam pizza aos domingos. mas não existiam regras. eram livres. mas ele era dela. e ela era dele.

sábado, 9 de agosto de 2008

End.


minha alma se situa num lugar fora de mim mesma. é como se por um momento não quisesse ser eu. e isso me torna melancólica e solitária demais. eu que sempre achei que só. não era sozinha. mas me enganei. dessa vez sinto informar. mas meu coração será guardado em uma gaveta qualquer. acho que ele precisa de férias. as emoções estão sendo fortes demais. ele me disse que não suporta. recentemente me deparei com um fato. sim, um acontecimento. uma verdade. ou uma mentira sincera. não importa. só sei que agora observo. meus olhos me mostram coisas que antes não podiam ver. minhas mãos tocam objetos que outrora pareciam não existir. a morte tocou a campanhia de casa. estava bem vestida. terno alinhado. talvez tivesse um estilista famoso. ou talvez quisesse parecer melhor. mas não era. tentei impedi-la de entrar. mas ela insistiu. cheguei a ter pena. ofereci um café. ela me disse que preferia conhaque. precisava relaxar. essa coisa de avisos. esse monte de lamantos era ruim. sim, foi essa a plavra. ruim. perguntei o por que da visita. eu estava viva. e as pessoas que me importavam também. ela me disse se poderia fumar. acendemos um cigarro.
-Sinto lhe informar, mas preciso levar alguém.
-Mas eu ainda sou jovem. tenho coisas pra viver. a senhora não acha injusto demais...
-não. ainda não é você que foi convocada pro time das almas.
-ahhh. fico aliviada.
-queria te preparar. porque o grande amor de sua vida irá comigo em breve.
-em breve. não. impossivel. temos uma viagem marcada pra daqui uns meses.
-é melhor não irem. acho que não vai dar tempo.
-a senhora entra em minha casa. senta em meu sofá. toma o meu conhaque. e ainda quer levar de mim um amor.
-me desculpa. não queria ser um importuno.
-vá embora agora. e não ouse aparecer de volta.
-tudo bem. mas é melhor se preparar.
-me leve junto então...
-ainda não.
-se levar o amor da minha vida. não tenhop razões pra ficar.
-tchau.
saiu de minha casa. deixou alguams lágrimas de presente. e um pouco de pavor. precisava correr. era questão de tempo. era motivo de vida. ou melhor de morte. encontrei ela. minha tia estava sentada num banco desses de jardim. sorriu ao me ver chegar. eu simplesmente a abracei. senti um alivio por vê-la mais uma vez. ela me segurou nos braços como antes. acariciou meus cabelos. e me pediu pra sorrir. queria poder contar aquele segredo. falar sobre aquela visita. mas quando ela me falou dos planos que havia feito. das coisas que ainda esperava fazer. não tive coragem. ao anoitecer cheguei em casa sozinha. despedi minha alma. e guardei meu coração.