quarta-feira, 4 de março de 2009

Sim, senhora.

Já era menina-moça quando se mudou pra cidade grande pra estudar. Faria direito, e seria juíza, como sonhara o pai. A cidade em que passou infância e juventude, era pequena. Quatro mil habitantes, a maioria trabalhava na roça. Seu pai tinha terras, mas nunca escondera de ninguém que já cortou cana quando era moço. A mãe, corpulenta e com um sorriso esbranquiçado, não sabia de história, nem de gramática, mas nunca negou trabalho, nunca teve vergonha.
A menina-moça, filha única, veio quando os pais já tinham vencido na vida. Nunca lhe faltou nada, e ela nunca quis demais. Sempre estudou bastante, era orgulho da família. Fazia tudo para que os pais ficassem feliz, afinal de contas era tudo o que ela tinha de verdade na vida. Nunca namorou, nem foi em festa, nem teve amigos.
Era baixa e cheia de curvas, prendia os cabelos em forma de coque toda manhã, gostava de usar tênis e calça jeans. Quietinha e incompleta, era assim que era a menina-moça. Tinha um diário para escrever seus segredos e histórias.
Logo que acabou o colegial, foi pra cidade grande pra estudar. A mãe queria que ela fosse médica, mas o pai queria que ela fosse juíza. No final das contas, ela só queria fazer histórias, escrever sobre o mundo. Mas para que não desapontasse os pais, foi fazer faculdade de direito. O pai foi levá-la até o apartamento que ele havia comprado pra ela, com todas as coisas que ele e a mãe achavam importante. Não perguntaram do que ela precisava, sabiam que diria que não queria nada.
A despedida foi triste, e cheia de saudades prévias. Ao acenar da janela, e ver o carro do pai partir, ela sentiu medo e alívio. Poderia ser livre de todas as cobranças silenciosas, de todas as perfeições estipuladas, de todo o cheiro comprado. Calçou um tênis e desceu de elevador para o chão, foi até a praça que tinha na esquina da casa dela. O dia estava frio e escuro, mas ela via tantas luzes e cores. Respirava um ar poluído como se fosse purificado. Ficou ali imaginando coisas, inventando argumentos, sussurrando palavras. Tudo o que tinha era a si mesma agora, não que não tivesse antes, mas dessa vez poderia mostrar o que era e pensava. Tomaria um porre, teria amigos, não teria regras. Diria sim para todas as suas vontades, e viraria gente de verdade. Seria imperfeita como manda o figurino. Cometeria erros, contaria piadas, faltaria da missa, ouviria rock, se apaixonaria. Era bonita aquela menina-moça, os olhos esverdeados e o cabelo negro, eram particulares. Mas o que ela tinha de melhor era vontade. Vontade de: conhecer a vida e desvendar pessoas.

2 comentários:

D.Ramírez disse...

Um texto que nos leva a muitos finais..intrigante, cheio de desejo, desejo a menina moça sucesso.
Adoro te ler.

Besos

Gu Japinha disse...

E ai jack...
Tudo bem?!
Qto tempo heim?! rs... oh, eu achei vc e ja pus vc no feedback do meu blog... entra la depois ok?!
grande bjo pra ti
see ya