segunda-feira, 31 de agosto de 2009

(Texto na Revista do Jornal O Globo)

'Eu não sirvo de exemplo para nada, mas, se você quer saber se isso é possível, me ofereço como piloto de testes. Sou a Miss Imperfeita, muito prazer. A imperfeita que faz tudo o que precisa fazer, como boa profissional, mãe, filha e mulher que também sou: trabalho todos os dias, ganho minha grana, vou ao supermercado, decido o cardápio das refeições, cuido dos filhos, marido (se tiver), telefono sempre para minha mãe, procuro minhas amigas, namoro, viajo, vou ao cinema, pago minhas contas, respondo a toneladas de e mails, faço revisões no dentista, mamografia, caminho meia hora diariamente, compro flores para casa, providencio os consertos domésticos e ainda faço as unhas e depilação!

E, entre uma coisa e outra, leio livros.

Portanto, sou ocupada, mas não uma workholic.

Por mais disciplinada e responsável que eu seja, aprendi duas coisinhas que operam milagres.

Primeiro: a dizer NÃO.

Segundo: a não sentir um pingo de culpa por dizer NÃO. Culpa por nada, aliás.

Existe a Coca Zero, o Fome Zero, o Recruta Zero. Pois inclua na sua lista a Culpa Zero.

Quando você nasceu, nenhum profeta adentrou a sala da maternidade e lhe apontou o dedo dizendo que a partir daquele momento você seria modelo para os outros.

Seu pai e sua mãe, acredite, não tiveram essa expectativa: tudo o que desejaram é que você não chorasse muito durante as madrugadas e mamasse direitinho.

Você não é Nossa Senhora.

Você é, humildemente, uma mulher.

E, se não aprender a delegar, a priorizar e a se divertir, bye-bye vida interessante. Porque vida interessante não é ter a agenda lotada, não é ser sempre politicamente correta, não é topar qualquer projeto por dinheiro, não é atender a todos e criar para si a falsa impressão de ser indispensável. É ter tempo.

Tempo para fazer nada.

Tempo para fazer tudo.

Tempo para dançar sozinha na sala.

Tempo para bisbilhotar uma loja de discos.

Tempo para sumir dois dias com seu amor.

Três dias.

Cinco dias!

Tempo para uma massagem.

Tempo para ver a novela.

Tempo para receber aquela sua amiga que é consultora de produtos de beleza.

Tempo para fazer um trabalho voluntário.

Tempo para procurar um abajur novo para seu quarto.

Tempo para conhecer outras pessoas.

Voltar a estudar.

Para engravidar.

Tempo para escrever um livro que você nem sabe se um dia será editado.

Tempo, principalmente, para descobrir que você pode ser perfeitamente organizada e profissional sem deixar de existir.

Porque nossa existência não é contabilizada por um relógio de ponto ou pela quantidade de memorandos virtuais que atolam nossa caixa postal.

Existir, a que será que se destina?

Destina-se a ter o tempo a favor, e não contra.

A mulher moderna anda muito antiga. Acredita que, se não for super, se não for mega, se não for uma executiva ISO 9000, não será bem avaliada. Está tentando provar não-sei-o-quê para não-sei-quem.

Precisa respeitar o mosaico de si mesma, privilegiar cada pedacinho de si.

Se o trabalho é um pedação de sua vida, ótimo!

Nada é mais elegante, charmoso e inteligente do que ser independente.
Mulher que se sustenta fica muito mais sexy e muito mais livre para ir e vir. Desde que lembre de separar alguns bons momentos da semana para usufruir essa independência, senão é escravidão, a mesma que nos mantinha trancafiadas em casa, espiando a vida pela janela.

Desacelerar tem um custo. Talvez seja preciso esquecer a bolsa Prada, o hotel decorado pelo Philippe Starck e o batom da M.A.C.
Mas, se você precisa vender a alma ao diabo para ter tudo isso, francamente, está precisando rever seus valores.

E descobrir que uma bolsa de palha, uma pousadinha rústica à beira-mar e o rosto lavado (ok, esqueça o rosto lavado) podem ser prazeres cinco estrelas e nos dar uma nova perspectiva sobre o que é, afinal, uma vida interessante'


Martha Medeiros - Jornalista e escritora

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Abaixo a hipocrisia!

Abaixo a hipocrisia...Verdade e não mentira!!!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

folheava a revista vagarosamente naquela sala de espera de paredes brancas e gelada. o telefone tocava. a criança que chorava. a água que enchia o copo de alguém com sede. faz vinte minutos que estava ali sentada. quieta e impaciente.
-Posso sentar aqui do seu lado?- perguntou uma senhora pequena. magra e de colar de pérolas.
-Pode.- disse ela e voltou a folhear a revista.
-Você veio ao médico?- insistia a senhora.
-Sim.- respondeu ela seca.
-Você tá doente?
-Não. são exames de rotina.
-Ahhh...eu me sinto tão bem.
-Então a senhora também veio fazer exames de rotina?
-Não vim trazer meu marido.- disse a pequena senhora apontando para um velho magro e quase inconsciente sentado numa cadeira de rodas ao seu lado.
-O que ele tem?
-Tem Alzheimer há quase dez anos. Não se lembra mais de nada. Não fala. Não anda.
-Você cuida dele sozinha?
-Tem uma mulher que me ajuda. Não posso pagar por uma enfermeira com nossa pequena aposentadoria.
-Não tiveram filhos?
-Tivemos três mulheres e dois homens.
-E por que não ajudam a senhora?
-Dizem que tem compromissos e que eu deveria colocar meu velho num asilo...Mas eu jamais o abandonaria.
-Talvez fosse mais fácil. Lá existem enfermeiras.
-Nós temos nossa casa. Demoramos anos para construí-la. não é muito grande mas é confortável. É lá que é o nosso lugar.
-Entendo...
-Sabe...vivi momentos íncriveis com esse homem. Saimos para dançar. ás vezes ele cantava pra mim. lembro das noites em que ficávamos acordados porque as crianças tinham febre. ele nunca me abandonou. enfrentou tudo ao meu lado. e eu sempre o amei nesses momentos. agora o amo ainda mais...
A secretária que atendia inúmeros telefonemas veio na direção da pequena senhora de colar de pérolas. disse que era sua vez. ela levantou-se devagar. devia ter mais de setenta anos. sorriu para a moça com quem estava conversando. e saiu empurrando o amor de sua vida. virou o corpo para a moça que agora apoiara a revista no colo. e disse uma última coisa.
-Muitas pessoas não sabem o que é amor. mas nós sabemos...até logo moça.

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segunda-feira, 10 de agosto de 2009

tinha tantas coisas pra contar a menina mulher. tinha sentido de tudo nos últimos dias. gosto e desgosto. vontade e desvontade. mas não sabia o que dizer. guardava tudo pra si. os sorrisos e as verdades.
daqui a pouco o dia ia nascer. e ela esperava ansiosa. não conseguia dormir antes de ver o sol chegar. tinha se cansado de partidas. por isso gostava daquela chegada. o sol esquentava seu corpo e iluminava o quarto branco e amarelo.
sentia a preguiça de segunda-feira. e se vestia lentamente. colocava roupas discretas pra passar despercebida. era quieta. era contida em seus atos. tinham tantas mulheres que trabalhavam com ela. mas não tinha amizade com nenhuma delas. conversava o necessário. não mantinha vínculos. as poucas amigas que teve tomaram rumo. e telefonam às vezes. era sozinha. e acostumada com a vida que tinha. não queria mudar nada. porque apesar das muitas vontades. faltava-lhe coragem. escolhia o certo. jamais o duvidoso.
passou o dia sonolenta e pensativa. escrevia algumas palavras naquele montante de papel branco a sua frente. nada que fizesse sentido. jogava elas lá e deixava. enquanto isso perdia o olhar em qualquer canto. se distraia. depois voltava. o dia acabaria logo. e ela nem tinha nada pra fazer. voltaria pra sua casa com jardim. sentaria no sofá azul e ficaria lá até ter que ir pro banho. não dessa vez.
foi até a cozinha. preparou um café forte. acendeu um cigarro e foi até a janela. olhava todas as poucas pessoas que passavam pela rua estreita que morava. eram diferentes dela. faziam coisas. voltavam ou iam pra lugares. sorriam. falavam. algumas até cantavam. por um segundo quis arriscar. tomou o último gole de café. apagou o cigarro. olhou pra algum canto qualquer e se perdeu. ao voltar a si se acostumou de novo. e foi pro banho.

terça-feira, 4 de agosto de 2009

EU TE AMO NÃO DIZ TUDO!

O cara diz que te ama, então tá! Ele te ama.
Sua mulher diz que te ama, então assunto encerrado.
Você sabe que é amado porque lhe disseram isso, as três palavrinhas
mágicas.
Mas ouvir que é amado é uma coisa, sentir-se amado é outra, uma diferença
de quilômetros.
A demonstração de amor requer mais do que beijos e palavras,
precisa de lealdade, sinceridade, fidelidade.. .
Sentir-se amado, é sentir que a pessoa tem interesse real na sua vida, que
zela pela sua felicidade, que se preocupa quando as coisas não estão dando
certo, que coloca-se a postos para ouvir suas dúvidas e que dá uma
sacudida em você quando for preciso.
Sentir-se amado é ver que ela lembra de coisas que você contou há dois
anos atrás;
é vê-la tentar reconciliar você com seu pai, é ver como ela fica triste
quando você está triste e como sorri com delicadeza quando diz que você
está fazendo uma tempestade em copo d'água.
Sentem-se amados aqueles que perdoam um ao outro e que não transformam a
mágoa em munição na hora da discussão....
Sente-se amado aquele que se sente aceito, que se sente inteiro.
Sente-se amado aquele que tem sua solidão respeitada, aquele que sabe que
tudo pode ser dito e compreendido.
Sente-se amado quem se sente seguro para ser exatamente como é, sem
inventar um personagem para a relação,
pois personagem nenhum se sustenta muito tempo.
Sente-se amado quem não ofega, mas suspira; quem não levanta a voz, mas
fala; quem não concorda, mas escuta.
"Me ame quando eu menos merecer, pois é quando eu mais preciso".
(Arnaldo Jabbour)