segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Cor e tom


-Vermelho é cor ou tom?
-Vermelho é cor.
-E preto e branco?
-Preto e branco não é cor. nem tom.
-Por quê?
-Porque é regra. oras.
-Que regra idiota. essas coisas não deveriam ser regra. talvez excessão. eu aceitaria. Pink é o quê?
-É tom.
-E por quê?
-Porque sim.
-As cores do arco-íris, são o quê?
-Essas são cores.
-E se eu quiser que seja tom?
-Se você quiser. vai querer errado.
-Como é que se quer errado?
-Quando você quer algo que foge da regra.
-Então quero tudo errado.
-Quer ser fora da lei?
-Acho que é melhor assim.
-Não ter razão é melhor?
-É. acho que sim.
-Acho que você acha errado.
-Quem disse?
-Eu estou dizendo.
-Você diz coisas erradas. eu quero ser fora da lei. porque gosto de liberdade.
-O que você sabe de ser livre?
-Sei que é a melhor sensação do mundo. e isso você não pode dizer que é mentira.
-Posso. claro que sim. você gosta das coisas contrárias. e ser oposto te faz só.
-Quem disse?
-Eu estou dizendo!
-Você só diz bobagens. e diz porque não sabe das coisas. só vive o que os outros querem. e eu não. vivo mais. pertenço a tudo. certo e errado. colorido ou sem cor. olhos abertos e fechados...
-Você está indo longe demais. não se pode mantêr os olhos abertos e fechados. ao mesmo tempo. você diz coisas que foge da ciência.
-O que eu quero com ciência. não preciso provar nada. não faço testes. porque eu quero ser assim. sem regras. sem horários. sem orbigações.
-E você vive de quê?
-Vivo de vida. e isso não é regra. nem destino. é acaso. descaso.

P.s:
Imagens de:
http://www.allposters.com/-sp/Life-Magazine-Posters_i1685726_.htm

domingo, 28 de setembro de 2008

o que você quer?

Ela olhava. pela janela. pela porta. pela fresta. pelo buraco. até que descobriu. pra sentir saudade. nem sequer precisava andar. bastava permanecer. no mesmo lugar. no mesmo ponto. que antes parecia inatíngivel. mas não. não era. ela era atingida por tantas coisas. tantas pessoas. tanto dela mesma. havia algum tempo em que só falava dela. da sua história. dos seus textos. dos livros que havia lido. na verdade. a mais pura. a mais sincera. era que não era ela. eram as coisas. e eram as pessoas. não tinha planos dela. tinha história. mas não era só dela. e isso a tornava na verdade. a única contada por um qualquer. ela era planos de outrora. vida de alguém. palavras copiadas. frases em forma de clichê. medos de vizinhos. músicas da moda. roupas de amigos. não deveria. mas. não tinha porém. nem todavia. era isso. e pronto. acabou. por pouco não acabava. continuava. permanecia. interpretava. deixava as coisas pra lá. até que passassem. e ela enfim. pudesse esquecer. às vezes tinham recaídas. e lembrava. até molhar o rosto. e dormir novamente. era assim. sonhava o que era real. porque se fosse ela. não faria daquele jeito. tampouco diria aquelas coisas. teria ido embora. se não fosse suas adversidades. não gostava de tudo. mas acabava amando. por pouco não fugiu. mas ela. de que fugiria. talvez de si mesma. ou do que fazia parte dela. e era assim. até ouvir a campainha.
-Quem é?
-Sou eu, a Valerie.
-Ah tah. entra.
-Oi. tudo bem?- Valerie.
-Sim. o que você quer tomar?- Ela
-Por que pergunta o que eu quero?- Valerie.
-Porque você escolhe. e eu pego pra nós duas.- ela.
-Escolhe você- Valerie.
-Não sei escolher o que eu...
-Não precisa ser sempre tão receptiva. escolha o que você gosta. isso não vai me fazer te odiar. -Valerie.
-Não é isso. Tô acostumada.- ela.
-Como. não pode ser. você não precisa disso. tornar as pessoas dona de sua vida. essa coisa toda não precisa existir. você era forte.
-Fui sempre igual.- ela.
-E eu não percebi. essa sua forma de se anular com classe. não vale. não tem graça.-Valerie.
-Não precisa rir. nunca fui boa com piadas.- ela.
-Eu sempre gargalhei muito com você.-Valerie.
-Pode ser. não sei.
-É sempre assim. você quer água. mas toma conhaque. porque eu estou com vontade. pára. você já parou pra pensar que as suas escolhas importam mais. principalmente pra quem você ama.-Valerie.
-Estou bem assim. já abri mão de coisas demais. pra voltar átras. e depois me lamentar. que papo idiota.
-Do que você quer falar?- Valerie.
-Do que você quiser...


P.s:
Tentei me afastar. mas deixar as palavras guardadas. as idéias adormecidas. não. não era assim que as coisas deveriam funcionar. tantas vezes me ausentei. talvez de mim mesma. mas isso faz parte de tudo. é como se eu tivesse trancado meu
refúgio.escrever é meu dialógo predileto. por isso voltei. e não quero mais partir. vou ficar por aqui.

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Simples

por vezes busquei sentidos. tentei ouvir sons. pintar tonalidades. inventar palavras. outras tantas vezes fechei os olhos. para imaginar ou sonhar. as histórias que já escrevi. ou mesmo as que li. quis dizer frases certeiras. mas não. lembrei das pessoas que conheci. até esquecê-las por um tempo. meu coração palpitava. e senti medo. nada mudaria. pois tudo já estava diferente. antes acreditava no que o mundo me contava. agora traduzo o mundo. encontro sentido no silêncio e na ausência de cores. invento palavras que para o meu eu. fazem sentido. abro os olhos para imaginar e sonhar. encontrei dentro de mim. e tão perto. o que buscava longe e fora. não quero mais conjugar verbos. ou relembrar tabuadas. deixo apenas o que sou. e o que sou não é só. nem particular. a saudade ainda dói. e o meu medo ainda existe. então noto que nem tudo está diferente. agora sei. e o meu saber é a simplicidade. desde o café da manhã. até a hora em que me deito. sei ainda. que minha existência é uma partilha. sou as broncas do meus pais. e a continuidade deles. sou os jogos de futebol que joguei ao lado do meu irmão. e os nossos segredos. sou as noites acordada com minhas amigas. e um pouco das conversas e bebidas que dividimos. sou as férias que passei no sítio de minha tia-madrinha. e os cuidados que tivemos uma com a outra. sou a mulher que fazia caminhadas. e agora se deita com o homem da sua vida. e isso nem é tudo. porque sou. o que ainda quero ser. e tudo isso não é só...

P.S:
Em manutenção.
de idéias.
comportamentos.
e pensamentos.

Em breve voltarei.
pra escrever.
ou traduzir.
palavras.
frases.
e desenhos.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

UTA!

UTA! me dá uma uta. era assim que chamava abraço. quando não tinha intenções. quando não tinha tamanho. nem idade. nem namorado. nem macho.
agora era diferente. chamava de abraço. sentia desejo. e esperava. ele vinha. mas não todos os dias. ela fazia planos. e aguardava. com um copo cheio de alguma coisa. forte. ou fraco. bebia. se lambuzava. se embriagava. e ele não chegava. não tocava a campainha. tão logo ela adormecia. depois de umas cenas. ou páginas. ela fechava os olhos. e a porta...

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

quarta-feira.


toda quarta-feira era assim. ela chegava em casa. e ele estava lá. no canto da cozinha. com um copo de vinho tinto nas mãos. camiseta amassada e um jeans desbotado. não chegava perto dela. era como se esperasse ela dizer alguma coisa. ela não se espantava mais. ás vezes levava alguma coisa pra ele comer. outras fingia não vê-lo. mas via. e desejava tanto. a barba por fazer trazia algumas lembranças. os cabelos despenteados ainda assim era belos. tinha sede. mas não era do vinho que ele levava nas mãos. era dele. pensava em pegar as chaves do apartamento de volta. mas tinha medo dele não voltar. não sabia bem o que eles tinham. era um amor de quarta-feira. ele olhava. mas nada falava. ela olhou também. colocou as mãos na cintura. e ficaram ali. sem dizer nada. sem fazer nada. ele tomava o vinho sem desviar o olhar. ela puxou um banquinho. sempre perdia o jogo. falava. aí ele a segurava nos braços. e matava a sede dela...

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A verdade,

era assim. um passado. não tão remoto. nem absorto. porque era meu. eu escrevi. eu desenhei. eu contei as histórias. eu esperei. eu sorri. eu chorei. me valho de alguns fatos. que contarei mais adiante. essas palavras postas aqui. são de cunho especial. relevantes. e sinceras.
o tempo passou. mas lembrei-me da minha infância. que não era tão fácil como hoje. mas que me fez ser o que sou. não que isso seja importante. mas posso afirmar. que valeu a pena. todos os segundos. todos as semanas. todos os meses. e anos.
era assim:
até eu ir a escola. minha mãe foi convocada para ficar em casa. cuidar do meu irmão. de mim. e da casa. por isso meu pai trabalhava. em dois empregos. e chegava tarde em casa. mas ainda assim. era especial. o que éramos. meu irmão. um ano mais velho que eu. cuidava de mim. e eu era convidada pro time de futebol dele. e também para as escaladas de muro. essas que valeu algumas marcas até hoje. e quando eu chorava. ele fazia cosquinhas pra eu sorrir. e quando mereciamos algum castigo. meu irmão fugia. me agarrando pelas mãos. e adentrando o quintal de casa. eu tinha medo. por isso. logo me entregava. quando comecei a ir na escola. sentia medo. e chorava também. então meu irmão passou a me levar todos os dias. até a mesa que me sentava. lembro de um dia. quando intrigada minha professora o questionou. por que ele me levava. e esperava por um tempo. só olhando. e sorrindo. ele com apenas 5 anos. disse que eu tinha medo. e ele me protegia. do meu medo e do homem do saco. crescemos assim. ele meu melhor amigo. e eu. a melhor amiga dele. sempre senti ciúmes. das inúmeras namoradas. que ele conquista até hoje. com extrema facilidade. mas sei que uma parte dele é minha. uma parte do amor é só meu. e alguns telefonemas. ainda são só pra mim.
outra coisa que me lembro. é do meu pai. ainda sujo do trabalho. ao pisar em casa. eu corria pros braços dele. e pedia churros. naquela hora. que não se encontra isso em lugar nenhum. ele voltava pro carro. e saíamos procurar. às vezes. eu falava que tinha vontade sem ter. só pra podermos conversar. e eu ouvir a voz grave dele. depois voltavamos pra casa. ele esperava eu dormir. pra poder apagar as luzes. depois. quando virei mulher. ele sempre quis saber. quis conhecer. mas nunca escondeu o ciúmes que sentia da princesa dele. certa vez ele me fez prometer. que se um dia eu casasse. e sofresse. eu teria que contar. falar pra ele. porque ele iria me salvar. eu prometi.
minha mãe. o cheiro particular. a risada estrondoza. e os cabelos lisos. que ela sempre tentou tornar crespo. as broncas. e as compras. como eu desejo ser como ela. tão simples. e boa. ela e minha tia-madrinha. são até hoje. um espelho. um modelo.
todos meus segredos. eu contei. todos os meus amores. apresentei. e todos os dias vivi.
não sei porque nunca mencionei minha família por aqui. tenho tanta sorte. porque minha vida toda. eles estavam ali. esperando. levando. buscando. ensinando. mostrando. cuidando. sorrindo. chorando. comigo. por mim.
sei que tenho sorte. por tudo o que vivi. e agora. distante. mas não tão longe. faz tanta falta. o cheiro. a voz. o abraço. até mesmo as controvérsias.
todas às vezes que fiz. e eles discordaram. não deu certo.
todas às vezes que fui. e eles não foram. não foi completo.
todos os dias eles foram e são. verdade. amor. sorrisos. telefonemas. cartas. saudade. afeto.

Obrigado a todos pela atenção. gostaria apenas que soubessem. o quanto é bom amar. mas melhor é amar alguém que te ama. antes de saber qual sua cor. ou face. e ainda supera a vida. ao teu lado. chora com você. torce com você. e sorri com você. e acima de tudo. está com você em todos os lugares. em todos os sentidos. pode parecer clichê. ou auto- ajuda. mas é minha verdade. que divido com o mundo.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

papel


colocou os óculos de sol. eles defendiam os olhos dela. dessa vez não sairia de all-star. usaria chinelos. branco e roxo. naquele dia. particular. e previsivel. ela atuaria. seria atriz principal. ou coadjuvante. não se importava. desceu até a garagem. a vaga que ela tinha. era horrível. mas o carro ficava guardado. protegido. como se isso fosse importante. preferia andar a pé. via mais gente. observava outras histórias. sorria pra alguns. abaixava a cabeça para outros. e corria ao passar em frente as construções. mas mesmo assim ia aos lugares andando. dessa vez saiu de casa. com destino. iria a uma loja de esportes. compraria algum artigo. não sabia bem qual. mas precisava mudar a rotina. estava parada. e se preocupava. estacionou o carro. desligou o rádio. mas desistiu do esporte. tinha uma loja ao lado. vendia almas. sim. era isso que a placa anunciava. ao entrar na loja. tropeçou num tapete de boas vindas. ficou vermelha. mas continuou firme. no balcão uma graciosa moça loira preguntou.
-O que você deseja?
-Não sei.
-Você precisa de alma?
-Não sei.
-Acho que posso te ajudar.
as mãos da moça tocaram a sua. e a puxaram para o outro lado da loja. que não era sombria. era até alegre. as paredes eram amarelas. e o teto lilás.
-Acho que essa lhe serve.
-Onde eu posso experimentar?
-Vá até ali. escolha um algodão. e molhe na água. depois passe ela do lado esquerdo do peito. aguarde alguns segundos. e veja se gosta.
ela foi até o outro lado da loja. escolheu um algodão verde. e fez o que a moça lhe mandara fazer. esperou exatos 9 segundos. até que sentisse. era algo diferente. parecia embriagada durante alguns minutos. mas depois olhou no espelho. e gostou. não sabia ao certo o que lhe passava na cabeça. mas por lá ouvia-se coisas boas.
-É acho que vou levar essa.
-Não quer experimentar mais nada?
-Não. sou decidida. experimentar demais só confunde a gente.
-Tudo bem.
-Quanto é?
-Como?
-Quanto eu lhe devo?
-Ahhh...você não entende ainda?
-O quê?
-A alma não é paga com dinheiro. você comprou. e paga como achar que deve.
-Não entendi.
-Você paga com uma ação. pode ajudar alguém a atravessar a rua. ou se achar melhor. salve alguém da morte. o tamanho do pagamento. é a gosto do cliente. quando sua dívida for paga. eu saberei. até logo.
saiu da loja desconcertada. mas com uma alma nova. limpa. pensou em como pagaria. tantas pessoas precisavam de ajuda. outras tantas coisas poderiam ser feitas. pegou o carro. e voltou pra casa. listou quem gostaria de ajudar. depois de algumas horas. teve um estalo. sim. um estalo. foi até uma creche do outro lado da rua. e olhou para as crianças. levaria alguma por um dia. ao passar pela porta. uma garotinha de no máximo 3 anos. com cabelos encaracolados. e pele morena. sorriu. e disse.
-tia. estava te esperando.
era ela. a forma de pagamento. pegou a menina no colo. e o abraço que recebeu. foi forte. como algum tempo não sentia. levou a menina dali por um dia. pagou a alma. e ganhou uma filha. sim. ela adotou a menina. depois daquele sorriso. e do abraço. não consequiria esquecê-la. foi amor. a primeira vista. avassaldor. intenso. prudente. certo. depois de algum tempo. percebeu que naquele dia. não comprou uma alma. apenas restaurou a sua. mudou de vida. olhou para os lados. notou a rua. tocou o mundo. e amou. um amor eterno. de mãe. então começou a atuar. ganhou um papel na vida. que não era mais secundário. agora. seria estrela. mas não sozinha. tinha família. tinha sonhos. fazia viagens. tirava fotos. participava do balé. e fazia contas de matemática. foi assim. que ela ficou famosa. mas não era uma celebridade qualquer. era uma musa. uma heroina. era mãe.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Péssimo hábito.

ela tinha um péssimo hábito. falava demais. acreditava estar certa o tempo todo. e se intrometia nas escolhas. de todos que estavam perto dela. pensava ajudar. mas ás vezes magoava. falava verdades. que eram dela. o azul podia ser verde. se ela quisesse que fosse. mas não para todos. e ela se entristecia. certa vez. discutiu. mas não mudou. afastou algumas pessoas. e sentia falta delas agora. não sabia o que fazer. poderia pedir desculpas. mas isso não apagaria o que tinha dito. não era fácil pra ela também. queria ficar quieta. mas quando percebia. falava. e se impunha. e brigava. e mais vez chateava. era um hábito. um jeito. um medo. não queria parecer omissa. precisava ser. e achava que daquele jeito. seria. mas não era. não respeitava diferenças. nem crenças. e agora sentia saudades. alguns se acostumavam. outros iam embora. ela se sentia só. quando seus telefonemas. eram ignorados. e suas cartas não respondidas. queria voltar no tempo. e se omitir. mas não fazia por mal. era o que pensava. sentia tanta necessidade. de mostrar seu ponto de vista. mas não aceitava opostos. fechava os olhos. respirava fundo. continuava. tentava convencer. mas depois. quando chegava em casa. percebia que nem ela acreditava mais...

P.s: Dedico esse texto a todos que conviveram com meu péssimo hábito. Aos meus amigos, peço desculpas, seja lá onde vocês estejam agora. No sofá, na cozinha, na cama, no jardim, na mureta, em outro país, aqui ao lado, tanto faz.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Um pedido. uma passagem.


Ouvia a chuva lá fora. olhava pela janela acinzentada. segurava a velha caneca. ainda estava usando o pijama da noite passada. o moletom amassado. os cabelos presos. e ela sozinha. lembrou-se. depois fugiu. as meias que ela usava. ainda eram coloridas. como nos velhos tempos. o café ainda era forte. e os olhos pequenos. tomaria uma bebida depois. mais tarde. quando a saudade estivesse mais forte. menos suportável.
-Você bebe demais.- disse ele uma certa vez.
-Você é que é exagerado.- respondeu ela.
-Acho rídiculo. só isso.-bravejou ele.
-Pois eu não. acho que se você pode beber. eu também posso. qual a diferença?-perguntou ela instintiva.
-eu sou homem. essa é a diferença. mulher tem outro nível. tem que ser delicada. tem que pintar os olhos. tem que sorrir natural. tem que falar bastante. reclamar demais. dar soluções óbvias. que homens não vêem. essa é a grande diferença.-respondeu ele.
-que machismo idiota. mulheres não tem que estar sobre o salto alto. o tempo todo. ás vezes também precisamos fazer merda. falar besteiras. chamar atenção. não resolver problemas. ficar desarrumada. perder o controle.- disse ela. como se quisesse ensiná-lo.
-vocês podem perder o controle. mas a classe não. essa coisa de feminismo exagerado é hipócrita demais. mulheres não são iguais homens. tem coisas de homem. e outras de mulher. não venha me falar que sou machista. sou realista. essa é a diferença. homens devem carregar pesos. mulheres carregam sacolas de shopping. homens devem cortejar. homens devem se sentir forte. mesmo que as mulheres. mostrem toda hora. que elas são as mais fortes. e eu até concordo com isso.- respondeu ele. mostrando um ponto de vista particular.
-você sabia que hoje em dia. mulheres também carregam pesos. são mecânicas. dirigem caminhões. sustentam casa?- disse ela irritada.
-Mas que graça tem? não gosto de mulheres musculosas. parecem homens. e ainda me sinto hetero. acho sim. que mulheres sustentam casa. e é isso que me referi. quando disse que vocês são mais fortes que nós. mas gosto de olhar pra você. porque vejo delicadeza. mãos pequenas. cheiro suave. pele macia. seios deliciosos. olhar avassalador. e sei que quando a luz queimar. você vai me pedir pra trocar. mesmo que você saiba fazer isso. melhor que eu. talvez. e vou te pedir pra arrumar minha camisa. antes do trabalho. porque você leva mais jeito nisso também. depois chegaremos no mesmo horário. você vai falar durante vários minutos. até perder o fôlego. eu vou te convidar pra tomar banho comigo. e então seremos homem e mulher.
-acho que ninguém é igual mesmo. e quanto a trocar a luz. acho que você pode fazer isso. é tão chato ter que fazer isso.- sorriu ela. como se quisesse mudar de assunto.
verificou a caixa de mensagens. ele havia escrito. alguma coisa. ela hesitou. já não conseguia esquecer ele. mesmo que dançasse com outros. ou se deitasse em outras camas. ou mesmo se entregasse a outros braços. no outro dia. ela sempre se sentia um lixo. um objeto. gostava com ele. o toque. as mordidinhas nas orelhas. os beijos no pescoço. o corpo quente. o cabelo desajeitado. o cheiro de homem. a pele suada. os olhos que a observavam. a camiseta branca. o tênis sujo. o ciúmes que ele sentia. as críticas que ele fazia. as brincaderas que os dois inventavam. as tardes assistindo jogos de futebol. resolveu que abriria. e depois não responderia.
"Minha pequena garota. ainda sinto sua falta. o tempo por aqui é diferente. faz frio de dia e de noite. gostaria de dividir meu edredon com você. esquentar meu corpo no seu. e acordar com seu beijo. ainda quero que você venha morar comigo. a gente pode se casar. se essa é a condição. depois de tanto tempo ao seu lado. não vejo graça em outras mulheres. elas não tem o mesmo cheiro. e nem reclamam de tudo como você. dentro de algumas horas. mandarei uma passagem pra você. esse é o meu pedido de casamento. meu desejo de te ter novamente. não quero cometer os mesmos erros. estarei te esperando no aeroporto. caso você não apareça. eu tocarei sua campainha pela manhã. e se ainda assim. você não tiver certeza. ficarei sentado na porta de sua casa. até você se convencer. e me aceitar de volta. não é qualquer um que encontra a pessoa de sua vida. tão jovem. como eu e você. acho que você vai ler isso depois de tomar café. na sua velha caneca. com as meias coloridas para abafar o frio. que o chão gelado provoca. mais tarde talvez beba algo mais forte. e depois vai se deitar no sofá. escrever alguma coisa. ou ler um livro. e só fará uma pausa. pra ir ao banheiro. ou comer um chocolate. ainda me lembro dos seus olhos negros. e sua boca pequena. e preciso ter você...
um beijo.

não respondi. arrumei minhas malas. e fui encontrá-lo. em outro continente. também estava cansada de cometer os mesmos erros. procurar em outros homens. o que só encontrava nele. daria outra chance. pra ele. e pra mim. sentiria medo. mas seria corajosa. eu sabia. e ele também. pois como já disseram por aí. quem ama. sabe das coisas.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

mundo


e se eu quiser partir. vou embora. vou ser astronauta. vou nadar no Mar Morto. vou ensinar borboletas. vou mergulhar com baleias. vou dormir com a luz acesa. vou acordar a noite. vou falar a língua do surdo. vou dançar tango. vou ser qualquer coisa. desde que seja diferente. independente. sorridente. estridente. impertinente. essa coisa de moda. apartamento. chão. e sorvete. não tem mais graça. quero ter outro estilo. morar no campo. viver nos ares. comer jabuticaba no pé. e esquecer. talvez eu conheça um pôrto. mas não quero ficar atracada. nem deixar fortes marcas. porque sou assim. sutil. venho. e vou. não cultivo jardins. não tenho cachorro. mas tenho um amor. esse que espero. e procuro. nas noites mais claras. e nos dias mais escuros. encontro bares furrecas. durmo no mato. e grito no ar. vou voar. pro continente de gelo. onde só tenha neve. flocos brancos. vento serrano. vou inventar algumas mágicas. e serei livre. como o vento. que ninguém prende. mas todo mundo sente. tocarei campainhas. comerei bolo quente do sítio. depois vou lutar com leão. roubar pão. tocar gaita. escrever rimas. ler alguns livros. até chegar na minha casa. que não tem rua. nem número. fica num lugar que chama mundo...

Certeza

Como a saudade. uma frase perdida. uns quilômetros a percorrer. tanta coisa. mais nada. fiz versos. escrevi poemas. falei de minhas vedades. vivi algumas mentiras. e pouca coisa mudou. a noite. o dia. a tarde. deitei no chão gelado. desenhei pessoas. rabisquei o nome dele.
-Amanhã você vem me ver?- disse ela no telefone.
-Acho que sim.- disse ele do outro lado da linha.
-Preciso de alguma certeza.
-Por quê?
-Porque sou assim. cheia de coisas certas.
-Mentirosa.
-Não. isso não é verdade.
-Claro que é.
-...
-Você me disse uma vez que seria minha pra sempre. e foi embora.
-Mas voltei...
-E agora disse que é verdade.
-Mas é.
-Espero que sim. porque eu fiquei no mesmo lugar. ouvi suas promessas o tempo todo. e não amei mais ninguém.
-Mas teve outras mulheres.
-Nunca disse que amei elas.
-E daí?
-Você disse que amava pra outros homens. e eu fiquei aqui. desejando que fosse mentira sua.
-É eu menti.
-Eu sabia que era mentira. senão tinha ido embora.
-Pra mim foi verdade. eu e você. só precisava ter certeza.
-Agora você tem?
-Sou uma mulher de certezas. só preciso confirmar primeiro.
-Ahan...
-Por que você aguardou tanto tempo?
-Porque não senti califrios com outra mulher. tentei mas não senti. porque via você nelas. e a comparação que eu fazia. as deixava com pontos negativos.
-Mas eu sou mentirosa. não sou?
-Ás vezes. mas não escolhemos algumas coisas. estar com alguém não é como ir a padaria. nem como comprar carro.
-Por quê?
-Se você não gosta do pão. ou do carro. troca. e compra outro. muda de lugar. amplia horizontes. mas quando se trata de pessoas. e você ama alguém. não consegue trocar. sempre volta no mesmo ponto.
-Que ponto?
-O ponto que te satisfez. o ponto que te fez passar noites acordados. o ponto que te fez sonhar. o ponto que te fez ver todas as pessoas com a mesma cara.
-Você acha essa obsessão normal?
-Não. talvez tenha ficado doente. talvez tenha que evoluir. ou crescer. por enquanto sou o menino que brincava com você. e cantou pra você antes de te pedir em namoro.
Fiquei sem palavras. eu havia errado durante agum tempo. tinha mentido. e me enganado. ele não.
-Amanhã eu vou te ver.- disse ele.
-Tá...
-Que horas?
-Pode ser a noite.-disse ela.
-Thau.
-Tchau.
outro dia ela queria escrever uma carta. pra ele. mas não sabia muito bem o que dizer. já tinha dito tanta coisa. durante tanto tempo. e agora. cheia de si. com tanta certeza. a caneta escorregava. as palavras evacuavam. as linhas entortavam. frases feitas. música. tudo já havia escrito pra ele. ele gostava de levá-la pra casa dele. lá podiam convresar. deitar na cama. trocar suspiros. entrelaçar os braços. desvendar o corpo. ela acariciava os cabelos ondulados dele. ele fechou os olhos. ela pensava em como seriam daqui uns anos. ele sonhava com a boca dela. ela fechou os olhos. precisava dormir também. mas tinha medo. e se acordassse sem ele. e se a mentira agora não fosse mais dela. mas do destino? ela não teria outra chance. nem seuqer contaria história. não morreria. mas viveria sem certeza.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Um inteiro sem metades.


Nunca tive certeza de muitas coisas. mas tinha algo que sempre soube. nunca fui uma mulher de metades. nunca soube sorrir de algo meio engraçado. nunca fui metade de alguém. nunca tive meio amigos. nunca gostei de meio tom. nunca ouvi metade de uma música. nunca senti meio amor.
Toda vez que me apixonei foi algo grandioso. e por isso toda vez que alguém me traiu. de alguma forma. namorado. amigos. primos. irmão. programas. compromisso. promessas. a ferida foi inteira. e doeu. e chorei. e passei noites achando que ia morrer. não morri. mas nunca esqueci. não fingi que nada tinha acontecido. porque não sei ser só meio sincera. tampouco digo meias verdades. por isso sou nervosa. sou estourada. sinto a dor de alguém que amo. como se fosse minha. sinto a raiva de um amigo. como se a briga fosse comigo. deixo de comer pra não ver algum amigo com fome. acordo de madrugada. ou não durmo. pra não deixar um irmão sozinho. vivo relações que não são minhas. porque no fundo fazem parte de mim. sorrio de histórias da qual não fiz parte. comemoro vitória de amigo meu. e fico feliz. a minha maior alegria. é ver alguém que amo alegre. e ponto. talvez vírgula. não tenho certeza. lembro de alguns dias. em que jurei amor eterno. e alguém foi embora. disse que não estava preparado. outras vezes me desfiz de sobrenome. ou sangue. só pra dizer que outra pessoa. era minha família. nunca tive códigos. sempre deixei as portas abertas. minha casa tinha um nome. mão joana. ou tia fulana. não importa. lavei minha alma de preconceitos. mas mesmo assim não entendi nada. porque algumas pessoas deram de costas. fecharam os olhos. e a boca. não penso que fui eu. porque fiz tudo. e mais. não é exagero. nem piedade. é pura. e simples. verdade. inclusive acreditei que podia ser de outro planeta. será que o erro é meu? pode ser. afinal nem todos são inteiro. alguns são meio amigos. e te chamam de colega. outros são só de uma cor. e eu gosto de colorido. tem gente que acredita que não vale a pena. eu desmenti essa verdade. penso em um todo. mesmo que seja só meu. pegaria ônibus. avião. metrô. só pra dizer oi. e sinto saudade. de outros que eram conhecidos. não tenho idéias. nem sou sempre legal. acho que as melhores pessoas são cruas. e algumas vezes se contradizem. mas ninguém é perfeito. não digo que sou. mas não sei fingir. minha vida é uma peça. baseada em fatos reais. e quando invento coisas. elas se tornam carnais. meu abstrato é tão palpável. e mais uma vez digo. repito. interpreto. traduzo. abduso. e convido. sou eu. prazer é meu.