quinta-feira, 19 de março de 2009

a menina das coisas.

de todas as coisas que ela fazia. pensava no que não tinha feito. era assim que vivia. de coisas. dela. dos outros. de tudo. e do mais um pouco. não usava relógio. só jeans surrado. o rosto sempre imóvel e suado. o cabelo preso. qualquer novidade um tropeço. não sabia lidar com algumas coisas. mesmo que vivesse de tudo. era estranho ser ela. queria tantas coisas. queria tanto um nada. migalha. qualquer coisa. certo dia descobriu que não queria mais o que tinha feito. também não pensaria no desfeito. era feitio dela complicar tudo. coisa da menina que não sabia das coisas. onde ia. com quem faria. o que encontraria. precisava descobrir tudo isso. antes de voltar pra casa dela. chegou a pensar que nunca voltaria. comprou uma fita vermelha pra pôr na cabeça e deixar os cabelos soltos. mas não teria tempo. era momento. sorria colorido agora. que não tinha rumo. nem significantes. era objeto desnorteado. embora tivesse significado. profissão: seria pedinte da vida. de carona. de comida. de livros. mas compraria o mundo. todas as cidades. seria culturalmente possível. em qualquer cartão de visitas. mesmo que não tivesse identificação. mudou até de nome. agora era Alice. não mais Ana. viveria nas maravilhas do novo. e nos destemperos do amanhã. porque a incerteza não tem sabor. só espera. passou anos molhando o rosto em águas geladas. que a deixava pálida. mas ainda não podia voltar. tinha que continuar. amanhã partiria pra outro lugar. porque não gostava da mesmice e dos laços. era dona de tantos lugares. o dinheiro dela. era a palavra. dita. falada. cifrada. encomendada. copiada. não era papel. nem tinta. nem formalidades. enquanto para sua casa não voltava. esvaziava todo o sossego. em solos que agora eram seus. menina de ouro aquela. vivia do suficiente. num ritmo intorpecente. era agente. era ela. a menina que agora descobria as coisas.

Um comentário:

Lídia disse...

Oi Jaque!
Gostei dos seus textos.
=)
Todo mundo tem um pouco de "pedinte da vida", né?
=*