terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O natal, segundo a minoria.

já era quase natal. época essa que ele não sabia muito como viver. as pessoas de sua enorme família sempre se reuniam. e fingiam ser grandes amigos. mas tudo não passava de uma noite. que pra ele demorava tanto a passar. não entendia por quê. mas gostava mais de ficar sozinho. já era homem feito. ajudava a mãe. que era solteira e tinha um bar. o pai dele tinha morrido. era álcoolatra. e certo dia não acordou mais da ressaca. em vez de sentir raiva do mundo. ele se fechou. pouco falava. parou de estudar. e ás vezes usava alguma ajuda ílicita para se sentir melhor. tinha poucos amigos. e seu lugar preferido era o quarto. certa vez até namorou uma menina. mas como pouco se falavam. tudo acabou. não tinha muitas expectativas.nem sequer alguns desejos. disse pra mãe. que na noite de natal. ficaria só um pouco na casa da tia. depois daria uma volta. sozinho. a mãe meio sem saber o que fazer. mexeu a cabeça em sinal de confirmação. era tão confuso tudo o que ele pensava. ninguém entendia. nem ele mesmo. já tinha pensado até em fugir. mas a mãe já era tão sozinha. que decidiu ficar. mesmo que não tivessem grandes laços. nem mativessem grandes diálogos. ligou o som alto. no rádio tocava libertines. e ele deitado na cama. olhava para o teto. que já tinha a tinta descascada.
- Não sei por que algumas pessoas vêem tanta graça na vida. os dias são tão iguais. e as pessoas tão vazias. ninguém se importa com nada. a hipocrisia parece generalizada. e depois. tudo se acaba. parece brincadeira. mas é tão real. essa imensidão. solitária. como eu. acho que no fundo não estou só. o time da solidão. parece tão completo.- murmurou ele.
e num salto. saiu do quarto. foi até o corredor da casa onde morava. pegou o capacete. e ligou a moto. andaria sem rumo. e encontraria alguém. depois de voltas. e revoltas. desceu em um bar. que não era o de sua mãe. pediu uma cerveja. e parou. olhou para uma garota. ali perto. que bebia sozinha. assim como ele. tomou coragem. respirou. e foi até ela.
-Olá. parece tão sozinha que vim amenizar a situação, posso?- disse ele ocupando a cadeira ao lado.
-Pode sim, não acho que vá fazer muita diferença, mas pode tentar.- disse ela levando os olhos para baixo.
-Por que diz isso? Pareço ser tão chato?
-Não, só acho que você não é de muita conversa também.
-É no fundo você tem razão, garota. Não tenho muito o que dizer, não vejo muita graça em nada, e também sou como você, sozinho.
-E quem disse que sou sozinha?!- disse ela voltando a olhar para ele.
-É assim que está, não é?!
-Ahhh...não. É que estou visitando parte de minha família, esperando o natal. Mas não sou daqui, por isso estou sozinha. Não conheço ninguém, além dos meus tios.
-Ah, o natal, tinha até me esquecido, por que você lembrou?- disse ele, murchando os olhos e o sorriso.
-O natal é legal, apesar da hipocrisia. Todo mundo, ou pelo menos os que têm sorte, comem bem, bebem bastante. Para mim, não existe grandes problemas.-sorriu ela.
-Porque é egoista. Todo mundo finge ser amigo, mesmo que não se importe. Depois, é a minoria privelegiada que tem ceia, e dá boas risadas no meio de toda essa falsidade.
-Você faz parte de quê?
-Minoria, eu acho.- disse ele tomando o último gole da cerveja.
-Ah tá! Então não reclama, aproveita. Você já vai embora?!
-Acho que sim, vou dar mais uma volta. Quer ir comigo?
-Acho que vou sim. Mas antes me diga seu nome.
-Marco, e o seu?
-Rachel. Pronto, agora que você não é mais um estranho, podemos sair juntos.
Os dois se levantaram, se olharam e caminharam até a porta. Sem muita coisa pra falar, e sem saber o rumo que tomariam, foram embora. E voltariam logo. assim que o natal chegasse.

sábado, 20 de dezembro de 2008

um dia na minha vida, duas décadas depois.


Há vinte anos átras. minha mãe sem querer. esqueçeu de tomar o remédio. meu irmão tinha apenas oito meses. foi aí que minha história começou. depois eu cresci. sempre fui boa aluna. apesar de falar muito. nunca desapontei meus pais. e fiz até uma tatuagem em homenagem à eles. dizem que sou menina boa. mas por outro lado sou "muleca". estou sempre rindo. e me divertindo. já consegui quebrar os dois braços. já escalei muro. já guardei segredos. e meu melhor amigo é meu irmão. quando era pequena queria voar. e assistia o filme do peter pan todo dia antes de ir na escola. inclusive me estabanei pulando do sofá. em um belo dia que tive certeza que sairia voando. já achei que tinha poderes mágicos. mas na verdade não tinha. pareço muito com minha mãe. mas fico grudada no meu pai. este que é meu herói desde sempre. já morei em São Paulo. mas meus pais foram me buscar. e apesar de ser meu grande sonho estudar lá. voltei para o interior. e comecei a faculdade por aqui mesmo. quase fiz direito por ser o sonho dos meus pais. deixei de crescer faz um tempo. por isso dizem que sou como uma bonequinha. pequenininha. e quase intocável. nunca liguei pra dinheiro. nem pra posições sociais. já fui punk. hippies. e socialista. também já fiz protestos. e saí no jornal. hoje em dia acho que já sou gente grande. mas ainda peço colo pros meus pais. um dia vou fazer um documentário. e também comprar um jipe. talvez consiga fazer minha grande viagem. que engloba várias partes do mundo. sonho em casar e ter filhos. amo escrever e comer chocolate. talvez poucos me conheçam. mas dizem que sou menina boa. deve ser pela educação conservadora que tive. já pensei que vim de outro mundo por ser diferente. depois percebi que os tempos mudaram. devo eu ser um ser ultrapassado. prefiro pensar que não. apesar de completar hoje duas décadas. já me sinto tão gente grande. e apesar de ter muito o que viver. acho que já vivi quase todas as emoções. fico por aqui. aceito os parabéns. afinal de contas. hoje é meu aniversário...

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

A espera

estava sentada naquela mesa desde as oito da manhã. fazia cálculos absolutos. que pareciam absurdos. e desnecessários. mesmo que fizesse tanta diferença. queria mudar de emprego. de profissão. de país. de planeta. mas sabia não poder. não agora que esperava pelo primeiro filho. se chamaria Gabriel. sempre quis ter um filho. e se fosse homem. se chamaria Gabriel. gostava da musicalidade do nome. não que achasse especial. ou tivesse algum significado importante. era meramente um gosto próprio. o pai da criança estava em alguma sala. de algum prédio. fazendo as mesmas contas imbecis que ela. que vida era a dela. e a dele também. haviam se casado cedo. quando estavam na faculdade. ela tinha 19. e ele 25. passados doze anos. perdeu a química de corpo. ou a cor.eram bons amigos. mas logo apareceu a barriga. num descuido de sábado a noite. tinha sido especial. ficaram tanto tempo sem nem se olhar muito bem. até que ele a procurou. e ela se rendeu. e pronto. foi assim que aconteceu. sobre o filho. no começo ele estranhou. pensou. repensou. depois aceitou. renegou. e aceitou de novo.
-Não estamos pronto para um filho, e você sabe disso.
-Essas coisas acontecem.
-Pois não deveria. Onde você estava com a cabeça?
-No mesmo lugar que estava a sua. Alias eu fiz sozinha, o filho é meu.
Ele se calou. e nunca mais disse nada a respeito. afinal era dele também. ela já estava de sete meses. e com um barrigão. entraria de férias em alguns dias. ficaria em casa. com os pés inchados pra cima. e matado as vontades que ela inventava. às vezes cantava pro filho. e falava em outras línguas com ele. certa vez contou até história pra ele. era estranho. ser dois em um. já tinha estado nos braços do marido. e disseram ser um só. mas agora era real. tinha um serzinho ali. que comia tudo o que ela comia. bebia tudo o que ela bebia. ouvia tudo o que ela ouvia. e sentia tudo que ela sentia. era bom ser uma coisa só. amar. isso sim era amar. mal sabia qual a carinha que ele teria. tampouco se andaria logo. ou qual seria sua primeira palavra. e mesmo assim o amava. via sentido nas coisas por causa dele. porque ele faria parte daquelas coisas. agora já não queria mais se mudar. ou parar. percebeu que queria ficar ali. ao lado dele. com ele. por ele. era uma futura mãe. olhou para a fotografia ali. em cima da mesa dela. estava com a os pais. esboçou um sorriso. e pensou que gostaria de ser pelo menos parte do que eles foram. pra ela. segurou a foto nas mãos. sentiu saudades. depois colocou onde estava antes. e continuou as contas absolutas...

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Jambo, a menina mulher.

Tinha apenas treze anos quando o conheceu. ela era morena. ele tinha olhos verdes como esmeralda. ficava ali no bar. que dava bem na porta da casa dela. se olhavam em segredo. e se desejavam como homem e mulher.
-Meu nome é Silvio, e o seu pequena?
-Meu nome é Claúdia, mas me chamam de jambo, por causa da minha cor.
Agora ele esperava por ela todos os dias as quatro da tarde. deixava tudo de lado. e ela dizendo que ia colher jabuticaba. ia vê-lo todos os dias.
-Vamos fugir?
-Não posso, minha mãe não me perdoaria.
Depois de um mês. aceitou o convite. foram para uma cidade vizinha. ele sorria de felicidade. ela também. tinha guardado um segredo. por desejo de ter ele. ou por medo de perdê-lo.
-Estou grávida.
foi essa a frase que disse durante o almoço de terça-feira. ele se calou durante alguns minutos. depois se animou. podia ser menino. pra jogar bola com ele. ou menina. pra ele cuidar. gostava de jambo. era mais velho. conhecia mais a vida. mas também precisava contar uma coisa à ela. apesar de tudo. ela merecia saber.
-Jambo, precisamos conversar.
-Pode ser depois do almoço, estou tão atrapalhada.
-Não pode. Tem que ser agora.
ela se virou meio torta. olhou para os olhos dele. e percebeu que havia algo errado. talvez tivesse deixado a casa suja. ou não passara bem a roupa de trabalho dele.
-Sente-se aqui do meu lado.- disse ele com a voz rouca e baixa.
-Fala logo, homem. Está me deixando angustiada.- falou ela, já nervosa.
-Você sabe que te amo.- sussurou ele, enquanto segurava as pequenas mãos da menina.-mas queria que soubesse que tive um grande amor, desses que derrubam a gente, e fazem nossas pernas tremerem. Não sei se você merecia saber, mas precisava dizer.
Ela se calou. não tinha muito respostas para uma dor tão grande. deixara a mãe. fugira com ele para um lugar estranho. e agora carregava um filho. que não era só dela. sentia por ele. mais do que as pernas bambas. fazia planos. amava ele.
-Quero que fique ao meu lado, apenas se desejar. Sei que te trouxe comigo. Te roubei da sua casa. e Você ainda é tão menina. Não acho que fiz mal. porque no fundo. gosto de você. me desculpa se menti. mas talvez você ainda possa me perdoar.
-Se eu for embora, ou te fizer sair daqui. É com ela que você vai viver, não é?
-É sim, se você me deixar, é nos braços dela que dormirei.
-Então eu fico. Por dois motivos: primeiro porque te amo, e num é uma paixonite, entreguei minha vida em suas mãos. Segundo, porque você prometeu que seria só meu, e vai ser.
ela se levantou. e fingiu que aquela conversa não havia existido. enquanto terminava de fritar os ovos. chorava como uma criança. porque ainda era menina. tinha quase quatorze anos. e pouco sabia das peripécias da vida. fechou os olhos. tentando fazer qas lágrimas pararem de cair. ele sentado sofá. com as mãos na cabeça. também sentia uma dor. certamente não era como dela. mas era dele. os sentimentos confusos. e a incerteza. podia ir embora. átras do que pensava ser felicidade. mas e ela. o que seria da menina jambo. se ele saísse dali. tinha o pequeno menino ou menina. pensou. repensou. não pensou. e ficou. o almoço virou janta. e os dois nada disseram. a noite chegou. e na cama. mal se tocaram. como podia ela esquecer. e ele sobreviver.
-Te amo Silvio.- disse ela antes de fechar os olhos naquela noite.
calado. ele quis dizer que também a amava. mas não disse. não deixaria ela. porque ela carregava uma parte dele. os anos passaram. e ele estava ali. ainda procurando a felicidade. de uma paixão que não vivera. ela. a menina. que agora já era mulher. e mãe de três meninas. nunca esqueceu. mas perdoou. e amou. o homem que a levou embora. numa tarde de segunda-feira. não porque tivesse medo. mas porque sentia por ele. mais do as pernas moles. e menos do que ódio. coisa essa que não conseguia explicar. mas vivia todos os dias...

sábado, 6 de dezembro de 2008

O rei!

Era o sétimo filho de João e Maria. não bastasse isso. tinha vindo fora de época. cresceu sozinho. sem muitos amigos. dentro do barraco de madeira. na periferia do Rio de Janeiro. Estudou só até a quarta série. e logo começou a trabalhar. a mãe que era cozinheira de uma família rica. e o pai que era porteiro de um prédio no Leblon. nem percebiam no que ele se transformava. no meio do seu novo emprego. era conhecido como bolinha. não porque fosse gordo. mas por ser tão magro e ter pernas finas. avião. era esse o seu cargo. subia aqueles degraus turvos dia e noite. ganhava alguns trocados. depois dava um tapa de noite. nunca fora pego. e sempre quis ser como o chefe. esse era moreno. alto. e forte. conhecido pelo nome de O grande. era temido. e tinha algumas mulheres.
- Pô Grande, quero ser assim, como você!
-Tá querendo me tirar da parada muleque?
-Não... não...sou brother, mano!
Foi assim que ele cresceu. sem muitos sonhos. mas com um projeto. seria o chefe um dia. conhecia todos os rivais. e sentia ódio deles. mesmo sem nunca ter visto nenhum de perto.
alguns anos passados. agora bolinha já era segurança do chefe. cuidava dos embaladores. quem não ficasse esperto. tomava uma bala. na cabeça. ele parecia não ser gente. não tinha pena. não tinha laços. tinha algumas paixonites. mas nada demais. tivera quatro filhas. antes mesmo de completar vinte e um. a mãe agora aposentada. pedia. implorava. para que ele procurasse emprego. assinasse carteira. saisse daquela vida. mas ele era bom naquilo. não sabia fazer mais nada. ou pelo menos acreditava nisso.
- Bolinha, te prepara, amanhã vai ter festa no morro.
-Sussa brother...eu apareço.
a festa não era funk. nem envolvia pessoas felizes. dançando e cantando. falavam de tomar o ponto da esquina de baixo. que era usado para a venda de drogas. e estava tomado pelos alemães. seria uma guerra. perigosa. e estava sendo planejada há algumas semanas. o horário marcado era às onze. e Bolinha. começou a se preparar. primeiro comeu um prato de arroz feijão. com um grande ovo em cima. depois colocou a bermuda azul já desgastada. pegou Mariana. sua arma de estimação. colocou um boné vermelho. e foi. cheio de si. sem medo. nem receio. seria rei naquela noite. comandaria tudo.
o tiroteio começou na hora marcada. as pessoas que estavam no bar do mineiro. que era na frente da tal esquina. começaram a correr e se abaixar. os alemães não tiveram muita reação. foram pegos de surpresa. e estavam em número menor. a conquista foi mais fácil do que havia imaginado. logo que percebeu a desistência do adversário. subiu na mesa. e gritou que era rei.
-O ponto é nosso, seus merda!!!
no outro dia. as pessoas desviavam dele no morro. abaixavam a cabeça. mostravam respeito. era rei. tinha conseguido. com apenas vinte anos. era o maior dos homens no morro. à noite foi até o bar do zé padoca. pediu uma cerveja. e contava piadas para os companheiros. quando ouviu um barulho. que pareciam tiros. levantou. olhou. e pediu para que se preparassem. ele iria ver o que estava acontecendo. desceu pelas vielas. como um fantasma. conhecia cada canto daqueles becos. de repente. em uma das esquinas. viu os alemão.
-Viados... catando meus laranja!
num salto para o lado. deu o primeiro tiro. e correu para outro canto.estavam em muitos. parecia um exército. e ele. o rei. sozinho.
-Ahhh seu merda- disse o traficante do morro vizinho- num treme não. tu vai morrer viado.
-errou. seu merda. quem vai morrer é você!- disse bolinha.
e num jingado de corpo. se virou e atirou. acertou a perna do inimigo. os outros meteram bala nele. tomou mais de quarenta tiros. morreu ali. com sua companheira inseparável Mariana. os alemão sumiram. e quando os homens de Bolinha chegaram. pegaram o corpo dele. carregaram até a porta de Maria e João. tocaram a campainha. já passava das onze. ficaram esperando alguém sair.
-Meu Deus...-levou as mãos na boca. e amoleceu as pernas. Maria não queria acreditar que era Marcelo. o bolinha.
-Desculpa. não pudemos evitar. aqui está mariana- disse de cabeça baixa o Grande.- ele morreu como herói do morro.
-filho. eu te falei tanto pra procurar um emprego.- segurou a cabeça dele. como se tentasse fazê-lo acordar- agora é assim que você chega em casa.
a dor da mãe era sofrida. sentia-se culpada. por não ter evitado. não ter feito ele estudar. e ser alguém. no fundo talvez soubesse. que a culpa nãe era dela. nem de João. que se mantinha firme naquela hora. mas do mundo. que algumas(muitas) vezes. se ausentou. fechou os olhos. assim como eles. que eram os pais. como ele poderia estudar. se mal tinha comida em casa. e como seria alguém. se lutara a vida inteira apenas para ser o rei do morro.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Surpresa!

Ao tocar o interruptor, ainda sorria. E carregava em uma das mãos, o presente que havia ganhado no escritório. Alguém tinha se lembrado do aniversário dela. E quando as luzes se acenderam, o susto.
-SURPRESA!!!
Tinha ali cerca de trinta pessoas, todos conhecidos, alguns amigos antigos, e o namorado. Ela caiu na gargalhada, ficou feliz. Nunca tinham feito festa surpresa pra ela. E fazia anos que ela não tinha festa, sempre escolhia comprar alguma coisa, ou viajar. Claro que se pudesse, faria tudo, mas infelizmente era uma assalariada.
-Gostou da surpresa?
-Foi legal, me diverti a beça com aquela junkebox, e claro com o samba.
-Tentei fazer tudo para vê-la feliz.
-Obrigada Lucas, dessa vez você acertou em cheio.
-Vem vamos ali pra sacada.
-Não; vou limpar essa sujeira.
-Já chamei uma faxineira para limpar tudo isso. Vem logo, quero falar com você.
Livia e Lucas, já namoravam à cerca de dois anos, entre idas e voltas, sempre estiveram perto um do outro. Primeiro quando ele tinha uma banda de rock na adolescência, e vivia cantando Exagerado para ela. Mas naquela época, ela não dava espaço, ele tinha tantas "fãs", e ela não era menina de dividir homem. Era ciumenta. Quando começaram a faculdade, não se desgrudaram mais. E tudo começou.
-A noite está bonita, trouxe meu violão, quero tocar uma coisa pra você.
-Claro, adoro te ouvir tocar...
- "Amor da minha vida, daqui até a eternidade..."
-Essa é velha hein, Lucas!
-Essa é nossa! - disse enquanto se ajoelhava aos pés dela.- Casa comigo?
-O quê? Não temois dinheiro, nem casa, vivemos de salário. Daqui uns anos!
-Não, não! Vamos casar, a gente dá um jeito. Não posso mais esperar, agora somos eu e você...
-Lucas, por mim me casaria com você agora, mas não é assim que funciona.
-Podiamos morar juntos, mas você não aceitaria só isso. Por isso quero que se case comigo, aí podemos dormir e acordar do mesmo lado todos os dias.
Ela saiu da sacada, não queria mais discutir, o que deveria ser óbvio. Por ela, viveria com ele, mas as coisas tinham seu tempo, e ocasiões para acontecer. Talvez ele fosse mesmo exagerado, ou apenas um apaixonado!
-Liv, por mim, teria me casado com você ontem...

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

O lado errado da vida certa.

Quando ela tinha apenas três anos, lembra-se até hoje, depois de vinte anos passados, que numa bela manhã, encontrou sua mãe aos prantos, desolada, e jogada no chão da cozinha.
-Mamãezinha, tá dodói? Eu vou chamar o papai!
-Não filhinha, seu pai foi embora.
Ela achou que ir embora, era o que ele fazia todo dia de manhã, ao sair para o trabalho, depois ele voltaria. Mas naquele dia, ele não voltou, nem nos próximos meses, nem nos seguintes anos. Hoje, era o aniversário dela, faria 23 anos. Recém formada em direito, estudava para os concursos públicos. Ás vezes sentia falta de ter um pai.
-Mãe, por que o papai foi embora?!
-Mais uma vez esse assunto Dani?!
-Pô, ele é meu pai. Preciso saber se aconteceu alguma coisa. Queria encontrá-lo, perguntar o por que da ausência.
-Seu pai era bom, mas se perdeu no jogo, e na vida boêmia. Um belo dia, me disse que não queria mais os compromissos e responsabilidades, saiu por aquela porta, e nunca mais o vi. Pronto, você já conhece essa história.
-Vou encontrá-lo.
-O quê? Do que você precisa?! Eu já não te dou o suficiente?!
-É mais que isso, preciso saber se foi minha culpa.
No outro dia de manhã, levantou-se, colocou os pés no chão gelado, olhou em volta e estava decidida. Precisava de ajuda, ligou para um amigo. Quinze minutos depois, seu celular vibrava na cômoda.
-Vamos Dani?
-Estou saindo, me dê uns minutinhos Gui.
Ela saiu, entrou no carro dele, ele a beijou, apenas um selinho. Tinham sido namorados, mas ele estava na faculdade, e queria aproveitar o tempo e as festas. Ela não podia esperar, muito menos aceitar. Mas ele, era a única pessoa em que ela confiava e contava. Depois de três anos de namoro poucos amigos lhe restaram.
-Pra onde vamos?
-Não faço a menor idéia, podemos ir à polícia, ou em algum hospital.
E lá se foram, rodaram por tudo, procuraram em todos os lugares possíveis. Ele nunca havia sido preso, nem estivera internado. Infelizmente, ela só sabia o nome dele, e lembrava-se de alguns traços, como uma marca na sobrancelha e a barba falha.
-Vamos embora Dani, já está tarde. Acho que você não precisa fazer isso, vai sofrer mais.
-Pode ir se você quiser, preciso mesmo ficar sozinha.
-Não vou te deixar sozinha, estamos longe de casa.
-Você já me deixou sozinha Gui, quando me deu um fora. Só liguei pra você, porque não conheço muitas pessoas.
-Eu te amo, só pedi que esperasse um pouco. Tenho que viver, mas você sabe que é a mulher da minha vida, o resto é diversão.
-Vou fingir que não ouvi isso. Você é um moleque, que começou a sair ontem, e não sabe bem o que quer. Você é imaturo, eu fazia planos porque era uma tola. Preciso encontrar meu pai, essa cidade não é tão grande. Preciso entender o por quê dele me abandonar. Não me lembro de ter feito nada, só que eu deixava minhas bonecas esparramadas, e lembro que um dia antes dele não voltar, ele culpou minha mãe, pela minha falta de organização.
-Não foi culpa sua, você é especial, diferente. E eu sei disso, só não peço pra voltar, porque você é orgulhosa demais. Prefiro tentar devagar.
-Chega desse papo, vai embora, você já me cansou.
Ela virou as costas, e entrou num boteco, só havia homens ali, o cheiro forte de suor a deixou atordoada. Caminhou até o balcão sobre olhares curiosos, desviava das pessoas, porque no fundo sentia um pouco de vergonha e nojo daquele mundo.
-Por favor, uma água!
Saiu dali depressa, encostou-se na parede descascada do bar, eles gritavam muito lá dentro, de repente, viu pessoas saindo correndo, e outras comn tijolos e garrafas nas mãos. Correu para o lado oposto, assustada, quando uma m~]ao suja a puxou para uma portinha escura.
-Não tenho dinheiro, por favor, não faça nada comigo.
-Acalme-se, só quis lhe ajudar. Uma briga de bar é sempre muito perigosa.
-Nossa você fala bem para um mendingo.
-Não fui sempre assim.
-Ah, entendo senhor. O mundo dá voltas, nunca pensei que estaria aqui também.
-Por que chegou aqui então?
-Procuro um homem chamado Carlos Diniz, é muito importante. Mas desisti, ele sumiu do planeta.
-Olha, acho que sei quem é.
-Verdade? Onde posso encontrá-lo?
-Ele morreu, foi algo estranho. Éramos companheiros em um escritório de advocacia, nos perdemos no jogo, depois nas drogas, gastamos tudo o que tínhamos com mulheres, até que perdemos o controle. Largamos nossas famílias, e chegamos aqui, na rua.
-Não pode ser, ele era meu pai, e ...e...
-Ele foi morto enquanto dormia, quando cheguei perto espumava pela boca, estava branco como papel. Fugi do lugar, era problemas demais para um mendingo, pderiam achar que eu tinha feito algo.
Empurrou aquele homem, e correu, correu, correu. Até chegar ao ponto de ônibus, sentar ali naquela cadeiras duras e frias. Chorava como uma menininha de três anos, doía tanto. Não sabia explicar, olhava ao redor, precisava tanto de alguém. Estava com medo, o celular começou espernear no bolso.
-Alô?
-Onde você tá Dani, é o Gui.
-Estou aqui no ponto de ônibus, perto daquele bar.
-Está chorando? Espera que eu vou te encontrar.
Ela ficou ali. sozinha. perdida. e mal compreendida. Será que era o destino? A vida? O tempo?
Qualquer coisa que fosse, ela não entenderia.