quinta-feira, 17 de setembro de 2009

esmalte vermelho

As mãos da menina estavam geladas mesmo naquela noite de calor. Ela se sentia quente ardendo de frio. Era complicada. Era diferente. Era ela a menina de esmalte vermelho.
O cabelo se desajeitava na varanda. O vento era leve. Ela não entendia. Mas gosta de ficar ali desajeitada. Confortada.
Acendia um cigarro. Depois outro. Enquanto o tempo passava. E ela nada fazia. esperava coisa qualquer. Ouvia jazz e música francesa. Gostava de cantar baixinho. Dançar escondida. Pular na cama. Parecia criança. Embora fosse grande.
Precisava falar com alguém. Mas já era noite ninguém havia de estar acordado. Não podia fazer visitas aquela hora. Sua mãe lhe disse que era falta de educação ir a casa dos outros tão tarde. Por isso ela não foi. Pegou o telefone e ligou. Acordaria alguém. Ligar era mais educado. A pessoa não iria precisar fazer sala. Nem se vestir. Nem fazer café. Só precisava falar com ela.
- Alô...
- Oi, sou eu...
- Você sabe que horas são?
- Sei que passam das três, mas você disse que eu poderia ligar quando quisesse...
- É eu disse...
- Não tenho muita coisa pra contar.
- Também não.
- Mas não quero desligar.
- Sinto sua falta, preta.
- É também sinto a sua.
- ...
- Tirei algumas fotos ontem. Lembrei de você.
- É mesmo por quê?
- Tirei foto de músicos. E você gosta tanto de música né?!
- É mesmo...
- É estranho ouvir sua voz de longe, mas estou bem!
- Sinto sua falta, mas tudo tem seu tempo, minha preta.
- Eu te disse que iria esperar. Estou conhecendo tantas coisas novas, você deveria estar por perto. Tenho medo de dividir isso com outras pessoas...
- Sei que você vai esperar. Estou guardando tudo pra você. As histórias, os lugares, meu amor...
- Não tenho razão, sei bem. Gosto dos impulsos largados e cometidos.
- Você nunca pensa muito nas coisas, eu sou sua balança. E prometo estar logo por perto...
- Acho melhor desligarmos agora...
- Te amo preta.
O telefone ficou mudo antes que ela pudesse responder. Diria a ele que o ama também. Que esperaria. Que retomaria a razão e ficaria. Que tantas coisas mais.fechou a porta da varanda. E os olhos. Não queria mais ver o tempo passar...

Um comentário:

Camilla Tebet disse...

No começo da hsitória fiquei com dó da menina que não tinha pra quem ligar. Mas na verdade, o que importa, e não importa a hora, é ter alguém para ligar e dizer que ama ou que não tem muitas novidades. Alguém pra dizer, seja que horas forem... assim é bom.