sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Luzia


É tão estranho/Os bons morrem jovens/Assim parece ser/Quando me lembro de você/
Que acabou indo embora/Cedo demais/Quando eu lhe dizia:/"- Me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada."/Você sorriu e disse:/"- Eu gosto de você também."
Só que você foi embora cedo demais/Eu continuo aqui,/Com meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim/Um dia de chuva, um dia de sol/E o que sinto não sei dizer/Vai com os anjos! vai em paz/Era assim todo dia de tarde/A descoberta da amizade/Até a próxima vez/É tão estranho/Os bons morrem antes/Me lembro de você
E de tanta gente que se foi/Cedo demais/E cedo demais/Eu aprendi a ter tudo o que sempre quis/Só não aprendi a perder/E eu, que tive um começo feliz/Do resto não sei dizer/Lembro das tardes que passamos juntos/Não é sempre mais eu sei/Que você está bem agora/Só que este ano/O verão acabou/Cedo demais/
(Love in the afternoon- Renato Russo)

Você faz tanta falta aqui Tia Lú...

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Maria e João

Era o sétimo filho de João e Maria. não bastasse isso. tinha vindo fora de época. cresceu sozinho. sem muitos amigos. dentro do barraco de madeira. na periferia do Rio de Janeiro. Estudou só até a quarta série. e logo começou a trabalhar. a mãe que era cozinheira de uma família rica. e o pai que era porteiro de um prédio no Leblon. nem percebiam no que ele se transformava. no meio do seu novo emprego. era conhecido como bolinha. não porque fosse gordo. mas por ser tão magro e ter pernas finas. avião. era esse o seu cargo. subia aqueles degraus turvos dia e noite. ganhava alguns trocados. depois dava um tapa de noite. nunca fora pego. e sempre quis ser como o chefe. esse era moreno. alto. e forte. conhecido pelo nome de O grande. era temido. e tinha algumas mulheres.
- Pô Grande, quero ser assim, como você!
-Tá querendo me tirar da parada muleque?
-Não... não...sou brother, mano!
Foi assim que ele cresceu. sem muitos sonhos. mas com um projeto. seria o chefe um dia. conhecia todos os rivais. e sentia ódio deles. mesmo sem nunca ter visto nenhum de perto.
alguns anos passados. agora bolinha já era segurança do chefe. cuidava dos embaladores. quem não ficasse esperto. tomava uma bala. na cabeça. ele parecia não ser gente. não tinha pena. não tinha laços. tinha algumas paixonites. mas nada demais. tivera quatro filhas. antes mesmo de completar vinte e um. a mãe agora aposentada. pedia. implorava. para que ele procurasse emprego. assinasse carteira. saisse daquela vida. mas ele era bom naquilo. não sabia fazer mais nada. ou pelo menos acreditava nisso.
- Bolinha, te prepara, amanhã vai ter festa no morro.
-Sussa brother...eu apareço.
a festa não era funk. nem envolvia pessoas felizes. dançando e cantando. falavam de tomar o ponto da esquina de baixo. que era usado para a venda de drogas. e estava tomado pelos alemães. seria uma guerra. perigosa. e estava sendo planejada há algumas semanas. o horário marcado era às onze. e Bolinha. começou a se preparar. primeiro comeu um prato de arroz feijão. com um grande ovo em cima. depois colocou a bermuda azul já desgastada. pegou Mariana. sua arma de estimação. colocou um boné vermelho. e foi. cheio de si. sem medo. nem receio. seria rei naquela noite. comandaria tudo.
o tiroteio começou na hora marcada. as pessoas que estavam no bar do mineiro. que era na frente da tal esquina. começaram a correr e se abaixar. os alemães não tiveram muita reação. foram pegos de surpresa. e estavam em número menor. a conquista foi mais fácil do que havia imaginado. logo que percebeu a desistência do adversário. subiu na mesa. e gritou que era rei.
-O ponto é nosso, seus merda!!!
no outro dia. as pessoas desviavam dele no morro. abaixavam a cabeça. mostravam respeito. era rei. tinha conseguido. com apenas vinte anos. era o maior dos homens no morro. à noite foi até o bar do zé padoca. pediu uma cerveja. e contava piadas para os companheiros. quando ouviu um barulho. que pareciam tiros. levantou. olhou. e pediu para que se preparassem. ele iria ver o que estava acontecendo. desceu pelas vielas. como um fantasma. conhecia cada canto daqueles becos. de repente. em uma das esquinas. viu os alemão.
-Viados... catando meus laranja!
num salto para o lado. deu o primeiro tiro. e correu para outro canto.estavam em muitos. parecia um exército. e ele. o rei. sozinho.
-Ahhh seu merda- disse o traficante do morro vizinho- num treme não. tu vai morrer viado.
-errou. seu merda. quem vai morrer é você!- disse bolinha.
e num jingado de corpo. se virou e atirou. acertou a perna do inimigo. os outros meteram bala nele. tomou mais de quarenta tiros. morreu ali. com sua companheira inseparável Mariana. os alemão sumiram. e quando os homens de Bolinha chegaram. pegaram o corpo dele. carregaram até a porta de Maria e João. tocaram a campainha. já passava das onze. ficaram esperando alguém sair.
-Meu Deus...-levou as mãos na boca. e amoleceu as pernas. Maria não queria acreditar que era Marcelo. o bolinha.
-Desculpa. não pudemos evitar. aqui está mariana- disse de cabeça baixa o Grande.- ele morreu como herói do morro.
-filho. eu te falei tanto pra procurar um emprego.- segurou a cabeça dele. como se tentasse fazê-lo acordar- agora é assim que você chega em casa.
a dor da mãe era sofrida. sentia-se culpada. por não ter evitado. não ter feito ele estudar. e ser alguém. no fundo talvez soubesse. que a culpa nãe era dela. nem de João. que se mantinha firme naquela hora. mas do mundo. que algumas(muitas) vezes. se ausentou. fechou os olhos. assim como eles. que eram os pais. como ele poderia estudar. se mal tinha comida em casa. e como seria alguém. se lutara a vida inteira apenas para ser o rei do morro.

sábado, 13 de fevereiro de 2010


"O dia mente a cor da noite
E o diamante a cor dos olhos
Os olhos mentem dia e noite a dor da gente"(O teatro Mágico)



foi assim de repente que ele partiu. não disse pra onde ia. ou se ia voltar. mas ela esperou. os dias passaram. as noites vieram. e ela ainda o amava. perdoaria o impulso contraditório que ele teve no meio da semana. queria dizer que não se importava. também estava cansada de algumas coisas. a distância ainda doia nela. mas ia passar. mesmo que ela não quisesse se proteger em outros braços que não fossem o dele. mesmo que ela não quisesse conhecer outro cheiro que não fosse o dele. mesmo que ela não quisesse beijar outros lábios que não fossem os dele. mesmo que ele não a amasse mais.
queria entender o que não se explicava. o que ele não tinha dito. o que jamais compreenderia. será que ele cansou dela falar demais. ou cansou dela querer só ele. ou cansou dos planos do futuro que haviam feito. ou cansou do cheiro que ela tinha. ou cansou da vida correta e regrada que ela levava. ou apenas cansou-se de tudo isso.
ela tinha se dado de todo pra ele. que já nem sabia mais ser dela. era estranho sair nos mesmos lugares sem ele. parecia errado acordar e não pensar nele. por isso pensava. mesmo que não dissesse nada pra ninguém. não chorava mais. depois de sentir a dor mais forte que havia sentido na vida. aprendeu a se conter. guardava o amor por ele em segredo do mundo.

na verdade. a menina ainda atendia o telefone desejando que fosse ele. atendia a campanhia arrumada. pois podia ser ele. olhava nas caixas de correio pra ver se tinha cartas dele.

um dia se cansaria. e então o esqueceria. sabia que sinceramente não poderia esquecer dele. mas depois de algum tempo de dor. ela não mais iria esperar. a saudade continuaria apertando o peito.

Qualquer hora alguém ia amar ela. e isso seria suficiente.

Para B.

"Saudade é não querer saber. Não querer saber se ele está com outra, se ela está feliz, se ele está mais magro, se ela está mais bela. Saudade é nunca mais querer saber de quem se ama, e ainda assim, doer." (Martha Medeiros)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Amo a liberdade,por isso deixo as coisas que amo livres. Se voltarem é porque as possuí, se não voltarem é porque nunca as tive...

John Lennon

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

mais que isso. não conhecia ele. não de verdade. não sabia qual filme ele preferia. nem o que ele gostava de comer no café da manhã. mas já gostava dele. o menino de cabelos negros e olhos esverdeados. sorria doce pra ela todas as tardes. agora a menina de fitas vermelhas no cabelo tinha se mudado. morava numa casa amarela. de cortinas azuladas. tinha ainda poucas coisas. não gostava de viver das lembranças. era nova. era a mesma. mas ainda assim era diferente. agora tinha novos sonhos. uma nova música. e um novo amor. era assim a menina de fitas vermelhas. sem ressentimentos. sem vaidades. apenas simples.
não dormia a noite. nem corria no final da tarde. mas vivia intensamente cada segundo das suas novidades. queria descobrir qual era cor que ele preferia. se gostava de fotografia como ela. se lia bastante. se gostava de futebol e de viajar.
enquanto isso.sem saber. a menina construia sua nova história. sem inicio. nem meio. e sem final pré-datado. gostava de deixar as coisas acontecerem e as supresas aparecerem...