sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O sonho!

parou no meio do caminho pra comprar um doce na padaria. não era de costume da mulher. até porque estava sempre atrasada e correndo. mas aquele dia era especial. tudo poderia esperar. até os relatórios e o chefe. sentiu tanta vontade de comer um sonho. e foi o que fez. foi até o balcão. e pediu um sonho.
- Você quer do grande ou do pequeno?- perguntou a atendente.
- O maior que você puder encontrar. Daqueles que fazem a gente até fechar os olhos, de tão bom.
- Sonho é bom, né?
- É a melhor coisa que já inventaram, ou descobriram.
- Gosto de sonhar também.- disse a atendente sorrindo.
- Pois é. Acho que eu não sonho mais. Deito a cabeça no travesseiro e a única coisa que me resta são as preocupações. É como se nada mais tivesse espaço em minha vida.
- Sei que não sou nada mais que uma atendente, mas você deveria sonhar. Faça isso acordada e dormindo, de dia e de noite.
- Já não tenho mais tempo para grandes realizações. Vivi tanto tempo, sem ao menos me notar, que meus sonhos já dormiram.
- Não pode dizer isso. Eu, por exemplo, sonho em ter um filho quando é de dia, e a noite sonho que ele está dentro de mim esperando. Você pode ser o que quiser, o tempo espera.
- Preciso ir, o sonho estava uma delícia. Boa sorte com seus sonhos!
Ela saiu dali. não porque estivesse preocupada com os compromissos. mas porque não queria mais perder tempo. andava pelas calçadas tumultuadas da grande cidade. olhava em volta. e não via nada. queria sonhar de novo. apenas isso. e fechou os olhos enquanto atravessava a rua. foi andando passos pequenos. pra que tivesse tempo. naquele dia ela teve um bom sonho em suas mãos. e ao abrir os olhos sorriu. foi a última coisa que fez antes de seu tempo acabar.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

a menina e o gavião.

"Algumas coisas são terrivelmente inexplicáveis,
E simplesmente agradáveis..."
Foi a frase que a menina escrevera, enquanto olhava as gotas de chuva grudadas no vidro do carro. Tinha sim um significado, não que fosse absoluto, nem que fosse disperdiçado. Era como o tempo, uma história passageira. Dessas que a gente dá carona. Ela era menina das estradas, não gostava de permanecer por muito tempo num lugar. Enjoava fácil das coisas, e então ia embora. Por isso não tinha endereço fixo nem companhia eterna. Era sozinha como gaviões, que lutam apenas para sobreviver, e não criam grandes laços. Porque na verdade, ela não se importava muito com as coisas. Vivia um dia de cada vez, de forma lenta, parecia fazer com que o relógio andasse mais devagar, só pra ela. Numa dessas aventuras, certa vez ficou amiga de uma menina da cidade, dona de um bar. Virou atendente, burlava expdediente, mas ela podia. Sempre fez as coisas como quis, não conhecia regras, porque achava que isso era coisa de gente que não tinha o que fazer. A ordem ela criava, de acordo com seus devaneios e arbitrariedades. Era complexa a menina. Mas não fazia questão de que fosse entendida ou decifrada. O dia em que isso acontecesse, ficaria vulnerável demais, pro mundo que ela pensava manipular. Já tinha sido tantas coisas ao longo de seus trinta e poucos anos. E conheceras tantos causos. Uma vez também, conheceu um amigo engraçado, morava embaixo de uma ponte, no centro de uma cidadezinha pequena. Ele nunca mudava de roupas, sempre com seu smoking rasgado, e a cara maquiada. Era conhecido por lá. Quase famoso, mas achavam que era um louco, desses que não tem nada pra fazer. Ele contava histórias. Ela ouviu tantas coisas. Até que resolveu alçar vôo mais uma vez. Sabia que a vida dela era diferente. Mas gostava de ser assim. Porque vivia a vida do jeito que queria. Nunca estava só. Tampouco perdida. A menina e o gavião. Uma pessoa e seu jeito. O real e o sonho. A verdade e a mentira. Era todas as coisas que podia ser. Ou que precisava ser.

domingo, 25 de janeiro de 2009

a história do homem que amava.

Jaime era homem de meia idade. tinha posses. duas filhas. e havia perdido a mulher há seis meses. o desânimo tomou conta dele. e doente. contratou os cuidados de Rose. mulher jovem. nem trinta anos. loira. olhos esverdeados. jeito de gente dedicada. foi pouco o tempo que demorou para que ele desejasse ela. quis ela ao seu lado. mesmo depois de se curar da doença. que não era grave. as filhas foram contra. o corpo da mãe não tinha nem esquentadso. e o pai já queria se casar de novo.
-Filhas, quero me casar com Rose. Sou homem, preciso de companhia. E vocês não estarão sempre por aqui.
-Pai, pelo amor de Deus, essa mulher não gosta de você.
As discussões foram em vão. no mês seguinte casaram. Rose que parecia tão perfeita. começou a mostrar o desinteresse e o nojo que sentia por Jaime. queria corpos novos. e toda noite se deitava com diferentes homens que trabalhavam na grande casa de seu marido. ele sabia. mas não se importava. desde que fosse desejo carnal. ela poderia compartilhar a lúxuria que afogava o corpo dela.
-Dr. Jaime, seu genro está te esperando lá embaixo.- disse o mordomo.
Carlos era noivo da filha mais velha de Jaime. moço alto. moreno. forte. tinha criação de cavalos. e estava prestes a se casar com Joana. ao vê-lo Rose desejou-o com todas as suas forças. e naquela mesma noite começaria a conquistá-lo. depois do jantar. a chuva tomou conta das terras. e Carlos resolveu permanecer por ali. quando todos se deitaram. ele foi até o celeiro. ver como estavam os cavalos de seu sogro. Rose apareceu ali. com uma camisola branca e transparente. seduziu-o. e tomou-o. naquela noite. ela tinha um poder de sedução. desconhecido por aquelas bandas. era devoradora de homens. Jaime viu tudo. assitia a cena. e esperou que dormissem. para loucamente matá-los. não fugiu. nem correu. esperou que alguém chegasse. e o leva-se para a cadeia.
-Sua mulher mantinha muitos casos. Por que a matou agora?- perguntou o delegado.
-Porque ela se apaixonou por ele. enquanto fosse apenas um desejo carnal. eu aceitaria. mas vê-la amar outro. era díficil demais pra mim.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

pra sempre.


queria falar de qualquer coisa. mas como não falar dele. logo agora que estavam separados. por quilômetros de distância. e fuso horário diferente. ele voltaria tão logo. foi o que disse ao partir. mas os dias resolveram andar mais devagar. até parecia que os relógios haviam parado. lembrava dele o tempo todo. o jeito como sorria pra ela. quando ela contava piada. ou mesmo o abraço forte que dava nela. ou quando a segurava nos braços. e a levantava sem muito esforço. as conversas que tinham. as noites que ele ficava acordado para esperar ela no trabalho. agora gostava até de se lembrar da cara de bravo que ele fazia pra ela. quando ela sentia ciúmes dele. tudo isso era saudade. era vontade. era desejo. era ele. e só ele. não que tivesse que ser outra coisa. afinal de contas. ela só queria que ele pegasse aquele avião e voltasse. para que fizessem tudo junto de novo. porque apesar de serem individuais. pareciam únicos. pertenciam ao mesmo cenário da vida. mesmo que gostassem de músicas diferentes. pelo menos torciam para o mesmo time. mesmo que de formas diferentes. afinal de contas. ela gritava o jogo todo. e ele torcia quieto. será que existe algum aparelho. que traga as pessoas de volta. de forma instântanea. e quando ele chegasse. teria que dividir a atenção dele. com os amigos. que ainda o tratavam. como se ela não existisse. não que ela fosse egoísta. mas tinha tanta coisa pra contar. e tinha que tocá-lo. sentí-lo. amar ele. será que as pessoas não percebiam. o quanto era doloroso essa distância. talvez ela sentisse em maior escala. por isso via as coisas diferentes. era uma necessidade. não. essa não é a palavra. o certo seria dizer. que era amor. e isso era verdade. o que ela sentia era sede. fome. dele. da voz. dos olhares. das mãos. de tudo. que fosse ele. porque ela havia feito promessas. pra ele. porque ela havia se entregado a ele. porque ela cuidava dele. mesmo que ele não se preocupasse. com a casa suja. e com as delongas dela. ela queria ele. mesmo que existissem uma infinidade de outros por aí. porque era assim. dele. por inteira. de trejeitos. de momentos. de promessas. e conversas. e não queria que fosse diferente. e podia ser desse jeito pra sempre.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Cidade Grande, tempo pequeno.

Já fazia alguns anos que havia chegado na cidade grande. Fora criada no interior, e ainda se encantava com as pessoas e as luzes da "metrópole". Gostava de abrir as janelas, de noite, e ver como as cores se misturavam rapidamente, ali embaixo, em sua calçada. Tantos passos e caminhos passavam por ali, já tinha perdido as contas, mas não a vontade de olhar. Agora que já tinha seus vinte e poucos anos, fazia alguns planos. Precisava conhecer alguém, casar, ter filhos, mas não pensava em voltar para sua pequena cidade.
-Aqui a vida é maior. Tudo é mais.
Era isso que dizia quando lhe perguntavam porque havia se mudado. Os telefonemas e as cartas foram diminuindo, os parentes e amigos, pareciam tão distantes. Fechou as janelas, e foi se deitar, amanhã teria médico logo pela manhã. Depois iria dobrar roupas na loja em que trabalhava durante o dia. Já se sentia cansada só de pensar, deitou-se na cama, fez sua prece, e dormiu rápido.
-Oi, meu nome é Clarice, tenho consulta com o Dr. Marco Aurélio, exames de rotina, nada demais, mas o trabalho exige essas coisas, que eu acho ...
-Tudo bem, senhora. Pode aguardar ali, já será chamada.
Ela ainda estranhava a indiferença daquele povo metropolitano. Se fosse na cidade dela, continuaria falando por mais alguns minutos, e logo se formaria uma prosa gostosa.
-Coloque essa outra roupa, pode pendurar suas coisas ali naquele armário, o Doutor já espera por você.-Disse a enfermeira-recepcionista, sem muitas delongas.
Alguns minutos depois, trocou de roupa, e se sentou em frente ao médico, que era careca e magro, parecia um doente de tão pálido, devia trabalhar muito o coitado, foi o que pensou.
-E então, tudo certo?
-Dona Clarice, temos um pequeno probleminha, mas fique calma.
-Tudo bem, sei resolver problemas, afinal vivo sozinha...
-Ok. Os exames revelaram um pequeno cisto dentro do seu ovário, e precisaremos de mais exames, para confirmar o que isto significa.
-Como assim? O que é isso?- já sem fôlego e confusa.
-Dirija-se à sala ao lado, faremos isso imediatamente.
Estava sozinha ali, e agora sentia medo. Talvez, se não tivesse ido ao médico, se não cumprisse as exigências do patrão. Mas sentia-se cansada, e andava vômitando à alguns dias. Para ela, era uma virose, dessas que passam com o tempo. O exame durou cerca de meia hora, e a essa altura já teria perdido o horário de trabalho, estava ainda mais aflita.
-Sinto muito senhora, mas receio não poder lhe ajudar. Seu ovário, útero e acredito que mais partes estão tomadas. Infelizmente, não posso lhe receitar remédios ou tratamentos.
Ela saiu dali, as lágrimas escorriam pelo rosto, resolveu correr, talvez estivesse dormindo e tendo pesadelos. No fundo sabia que não, mas era díficil aceitar que não teria muito tempo mais. E ainda, tinha tanta coisa pra fazer. Deveria ir embora, voltar pra casa, fazer uma lista. A única coisa que fez, foi sentar-se na praça Buenos Aires, e olhar as pombas que ficavam ali. Teriam mais tempo que ela. Reparou nas cores, que se misturavam com maior intensidade naquela manhã, e sorriu. Não porque estivesse feliz, mas porque apesar do medo, deixaria tudo que não fosse importante de lado. A primeira coisa a fazer, é comprar uma passagem de volta para o interior, procurar os amigos, abraçar os pais, e esquecer do tempo, que pra ela, já não tinha mais relevância.

domingo, 11 de janeiro de 2009

ela igual.

Sempre fora assim. extrema. exagerada. intensa. e queria poder dizer à ele. que doía nela tudo isso. se sentir ciúmes de outra qualquer que se aproximasse dele. era exagero. então sim era exagerada. se prometesse a eternidade à ele era demais. então era demasiada.e se tudo isso era irritante. então ela irritaria ele todos os dias. queria poder ser diferente. mas seria igual. e agora sentia tanto medo de todos aqueles sentimentos. que andavam explodindo no peito. queimando a alma. dilacerando o coração. era tão confuso. que tinha dificuldades pra respirar. ofegava. parava. e depois suspirava. nem ela entendia nada. por isso não desejava que ele compreendesse alguma coisa. tinha sido único homem na vida dela. mas isso não fazia com que ele tivesse obrigações. queria amor. só isso. e se ainda assim. ele saísse fazendo barulho pela porta. ela se calaria. porque apesar de tudo. não gostava de sufocar ninguém. choraria sozinha. perderia algumas vontades. e esperaria por ele. mesmo que aquela porta nunca mais fosse aberta. e as mãos dele não voltasse a tocar o corpo dela. e mais uma vez seria igual...

P.s: Só uma história.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A virada!


-Di, o que você mais gosta em mim?
-Você é carinhosa, bonita, tem um rosto exótico, único.
-Mas você sempre diz que eu falo demais, e sou mimada.
-Ahhh Clara, às vezes você parece um bêbe, mas eu cuido de você.
-E em mim? Do que você gosta?
-Dos olhos, da boca, e do jeito.
-Mas às vezes você fala que eu sou chato.
-Porque você é Digo!
-Então é assim?!
Ele segurou ela no colo, como se carregasse uma boneca de porcelana, colocou-a na cama, e com as mãos tirou os cabelos negros, que haviam se espalhado no rosto de Clara. Ela sorriu, e suas leves covinhas transpareceram. Ele a beijou, e ela se rendeu. Fazia tanto sentido estar ali, numa cama de hotel, conversando com ele. Era a primeira viagem que faziam sozinhos, e cada segundo passado, era aproveitado, era usado.
-Você acha que sou romântica?!
-Isso com certeza, e toda derretida com histórias exageradas que lê ou assiste na TV.
-Você é que é machista demais...
-Quer casar comigo?
-Digo pára!
-Eu falo sério, eu quero você.
-E vamos morar onde? Comer o quê?
-Me diz o que você quer, e eu dou um jeito. Porque o que eu quero está na minha frente, nas minhas mãos.
-Ficar com você é tudo o que eu mais quero, mas isso deve ser planejado, pensado. Não é uma decisão que se toma num impulso.`Porque tenho que sempre ser a chata, e adulta de nós dois.
-Porque eu tenho que ser o exagerado que te ama até o fim.
-Não precisamos casar, pra que você me tenha. Você foi o único homem com quem me deitei, e com quem quero acordar todos os dias.
-Se nos casarmos, você pode morar comigo. Além do mais, preciso de uma testemunha para a minha vida. São tantas as pessoas que as histórias passam despercebidas. Mas você vai poder contar como eu sorria, e o quanto eu te amava, para todos. Fazer com que nossa história seja perpétua...
-Depois a romântica sou eu...
-Agora chega de falar, me dá um beijo...
Foi assim que a conversa terminou, e as luzes se apagaram. Clara ainda sorria, Rodrigo ainda a tinha em seus braços. E na virada de ano, ao som de fogos e festas, se amavam da forma mais intensa que já se viu ou ouviu...