sábado, 1 de novembro de 2008

o ato.

pensou em sair dali. à noite. pra que ninguém pudesse vê-la. nem reconhece-la. iria embora. trancaria as portas da casa amarela. junto com as janelas. apagaria as luzes. e nunca mais voltaria. nem pra limpar a sujeira. que o abandono deixa. pensou em se mudar pra cidade vizinha. apesar da ebulição. pela qual passava. não queria ficar tão longe de sua vida. só precisava de um tempo. talvez se montasse uma cabana no meio do mato. mas teria medo do silêncio que a noite faz. e também. precisaria conversar. uma hora ou outra. com alguém. podia ser desconhecido. as pessoas com a qual ela mantinha relações sociais. estavam tão distantes. que só lhe restava o resto do mundo. que pra ela parecia pouco. sempre quis mais. mais gente. mais calor. mais frio. mais noite. mais comida. mais cerveja. mais cigarro. era uma exagerada verdadeira. tinha tanto medo de morrer. ali. sem nunca ter tido outra vida. que num súbito colapso de imensa força. mostrou-se encorajada. era hora de pedir demissão. e se readmitir na sessão de vida. passava horas naquela sala. átras de pessoas. que por vários anos. mal a olhavam dentro dos olhos. era uma convivência superficial. da qual ela não sentiria falta. queria mais calor humano. essa coisa de educação. já não lhe passava mais pela cabeça. agora faria o que tinha vontade. não agradaria mais ninguém. que não a encarasse de frente. não deixaria de pisar na grama também. principalmente quando estivesse chovendo. era livre do mundo. e de si mesma. deixaria as roupas guardadas no ármario. a torneira fechada. o portão trancado. levaria consigo. só o que lhe importava. de resto. nada restava. cansou. deixou. e foi. viver a vida.

5 comentários:

Vivian disse...

...linda,
quantas vidas encontram-se embuidas
deste desejo de liberdade?

mas cadê coragem de enfrentar
o desconhecido mundo afora.

dificilmente o desejo do ato
liberta-se para virar fato.

...'fisolofei'..rsss

bjus

Germano Viana Xavier disse...

O medo traz um certo sentimento de arranjo, de arrumação das gavetas, de perfeccionismo perante objetos que constroem a vida. O medo opera um desejo de continuar indo. E ir é sempre o melhor caminho. E viver, nem se fala...

Um carinho, Jaque.
Continuemos...

Flávia disse...

A gente não deve mesmo voltar pra limpar sujeira de abandono. A gente deve é seguir, seguir, seguir... respirando cheiro de frescor de novos encontros.

Beijos, bela.

Salve Jorge disse...

Exagero
È o melhor tempero
De fato
Tal ato
De desterro
O sabor do erro
Talento nato
Que com esmero
Fustiga o ferro
E abre o mundo...

Camilla Tebet disse...

NArrou pra ir. Foi?? Ir pra viver a vida é ato de coragem. Deixar a "educação" pra traz e correr atrás do que é mais verdadeiro... deixar as gavetas cheias e sair só com o que cobre o corpo. A liberdade, ah a liberdade, está ao alcance das nossas mãos, não é? basta ir, viver a vida.
Te encontro no caminho.
Bjos