quinta-feira, 5 de março de 2009

Os momentos de Bia.

imagem: Devian art by Cetrobo.

O despertador a chamava todos os dias pela manhã, ela que queria sempre mais cinco minutinhos. saía de casa sempre atrasada para o trabalho. ia até a garagem. ligava o carro. e saía. aquele dia era diferente. seria o último dia igual que ela teria. tinha até feito as malas para a mudança de apartamento para casa. queria ter uma passarinho, mas tinha dó de prender alguém que podia voar.
a maquiagem leve e o sorriso pesado revelavam a surpresa que tomava conta dela. pintaria as paredes de amarelo. e teria sofás alaranjados. gostava de tudo muito colorido. era mulher trabalhadora. fotógrafa profissional. já tinha até feito algumas exposições.
trabalhou até as três da tarde. depois se despediu dos amigos que havia feito naqueles cinco anos de estúdio. sentiria saudade daquilo. mas agora seria dona de suas próprias coisas. e estava ansiosa.
Luiz era companheiro dela há uns dois anos. mas ainda não moravam juntos. isso só aconteceria depois de casarem. não por ele. mas por ela. ela pensava que tudo tinha seu tempo. hora de namorar é hora de namorar. depois noivar e casar. nada de precipitações. porque afinal de contas ela queria ouvir os sinos e fazer uma grande festa. ele era tímido. por isso só entraria nessa tradição por ela.
ele ensinou muitas coisas pra Bia. ela era tão insegura e carente. agora não. antes dele vinha ela. vivia todas as intensidades do momento. não deixava nenhuma vontade pra trás. amava ele. mas sabia que tinha as coisas dela. não que fosse fria demais. mas é que conforme o tempo passava. ela se adaptava ao jeito do mundo dos homens.
antes ela sentia vontade dele todos os minutos. queria dividir todas as coisas. era mais um sufoco do que um prazer ser dela. já dizia Mário Quintana "Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com uma outra pessoa, você precisa, em primeiro lugar, não precisar dela..."por isso agora Bia aprendeu que todo mundo tem mais coisas na vida do que o amor. e repito. não que ela fosse distante demais. era só realista. era carinhosa na medida certa. segura e confiante todo tempo. às vezes tinha vontade de explodir. mas se continha pelo bem da humanidade.
ela tinha guardado algumas fotos numa caixinha verde e azul. eram antigas aquelas imagens. que a essa altura já eram lembrança. como gostava da nostalgia de viver as memórias. tudo o que tinha se transformado. estava ali naquela caixinha. eram tantas as histórias. os momentos da vida de Bia sempre foram tão exagerados. mas desde que virou gente grande percebeu que o tempo era mais curto. e envolvido por grandes problemas. Repito não que fosse ausente de sentimentos. mas era a verdade que ela descobriu.
Agora tinha que arrumar seu canto e viver o encanto da vida de gente grande.

2 comentários:

Germano Viana Xavier disse...

Mas se é uma nova vida, então é também vida. E toda vida é passível de ser bem vivida.

Sorte para ela, é o que desejo.

Um carinho, Jaque.
Continuemos...

Letícia disse...

Até hoje estou tentando levar essa vida de gente grande, Jaque. E é um nó de marinheiro.

Bjos.