segunda-feira, 28 de julho de 2008

Carta


Queria escrever uma carta. poderia falar das belas tardes de primavera. mas resolvi falar de um adeus antecipado de uma suposta fatalidade qualquer. escrevia com dores e receios. busquei ainda ser prudente. pensava eu que era uma forma mais sincera de dizer o que sentia. talvez não pudesse falar pessoalmente. mas escrevia. incesantemente. os erros de ortografia não importavam. nem mesmo a caligrafia torta. ou as falhas da tinta de minha caneta. eu partiria dentro de uns dias. iria pra outro lugar. já sentia saudades daqueles olhos fechados que eram tão seus. e das conversas abrangentes que tinhamos. sentia saudade daquele tempo em que eu andava grudada em você. sentia raiva de uma separação imprudente. o destino não ajudava muito. o tempo corria rápido demais. e nossas horas reservadas foram canceladas. disseram que você estaria esperando minha volta. mas não tenho certeza. por isso escrevo. escrevo. escrevo. palavras sentimentais que chegam a ser clichês já conhecidos por nós. mas que eu gosto tanto de lhe falar. talvez eu deixe meu coração dentro de uma caxinha. talvez guarde em mim apenas as lembranças daquele tempo bom. deixo contigo meus eternos agradecimentos. tudo que sou. ainda é um pouco de você. por isso não queria te deixar. mas as escolhas nem sempre são nossas. quando você sorria meu mundo parava. eu quis que parasse. sentia um êxtase incontrolável quando sua mão tocava minha. as noites já não eram mais frias da última vez que te vi. o dia estava ainda escuro quando o telefone tocou pela última vez e era você. senti que éramos uma coisa só. dois corpos e uma coisa só. fechei meus braços tentando te sentir de novo. acho que não era eu quem partiria. mas você. por isso chorei. eu gostaria de dizer que tenho todo o tempo do mundo. mas não gosto de mentir pra você. coloquei nossa música pra tocar mais uma vez. você sempre chorava quando a ouvia. eu me segurava pra parecer forte. secava teu rosto. e te observava como quem procura alguma coisa. eu procurava por você em todos os cantos. em todos os cheiros. e temperos. ainda sou o que você é. e sei que você é o mesmo. eu te amo. e isso é a maior certeza que encontro dentro de mim.
Um Beijo de quem nunca conseguirá esquecer você querida tia-mãe...

2 comentários:

Anônimo disse...

Sabe, sempre gostei de cartas. Hoje em dia tudo virou e-mail, telefone... Eu gosto da permanência do papel, da intimidade da letra, de poder guardar e ler depois, o tato no papel, o cheiro da tinta. Ainda que o conteúdo seja triste. Melhor se for feliz.

Um beijo.

R.
http://laudanoeabsinto.blogspot.com

Alexandre Henrique disse...

A sinceridade, a chuva, o papel frágil para interpretar tudo isto, frases pesadas, condensadas, leio isto imaginando que o amor puro é capaz de tornar um desejo em realidade. O mundo inteiro é uma carta sem duvidas....