quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Jambo, a menina mulher.

Tinha apenas treze anos quando o conheceu. ela era morena. ele tinha olhos verdes como esmeralda. ficava ali no bar. que dava bem na porta da casa dela. se olhavam em segredo. e se desejavam como homem e mulher.
-Meu nome é Silvio, e o seu pequena?
-Meu nome é Claúdia, mas me chamam de jambo, por causa da minha cor.
Agora ele esperava por ela todos os dias as quatro da tarde. deixava tudo de lado. e ela dizendo que ia colher jabuticaba. ia vê-lo todos os dias.
-Vamos fugir?
-Não posso, minha mãe não me perdoaria.
Depois de um mês. aceitou o convite. foram para uma cidade vizinha. ele sorria de felicidade. ela também. tinha guardado um segredo. por desejo de ter ele. ou por medo de perdê-lo.
-Estou grávida.
foi essa a frase que disse durante o almoço de terça-feira. ele se calou durante alguns minutos. depois se animou. podia ser menino. pra jogar bola com ele. ou menina. pra ele cuidar. gostava de jambo. era mais velho. conhecia mais a vida. mas também precisava contar uma coisa à ela. apesar de tudo. ela merecia saber.
-Jambo, precisamos conversar.
-Pode ser depois do almoço, estou tão atrapalhada.
-Não pode. Tem que ser agora.
ela se virou meio torta. olhou para os olhos dele. e percebeu que havia algo errado. talvez tivesse deixado a casa suja. ou não passara bem a roupa de trabalho dele.
-Sente-se aqui do meu lado.- disse ele com a voz rouca e baixa.
-Fala logo, homem. Está me deixando angustiada.- falou ela, já nervosa.
-Você sabe que te amo.- sussurou ele, enquanto segurava as pequenas mãos da menina.-mas queria que soubesse que tive um grande amor, desses que derrubam a gente, e fazem nossas pernas tremerem. Não sei se você merecia saber, mas precisava dizer.
Ela se calou. não tinha muito respostas para uma dor tão grande. deixara a mãe. fugira com ele para um lugar estranho. e agora carregava um filho. que não era só dela. sentia por ele. mais do que as pernas bambas. fazia planos. amava ele.
-Quero que fique ao meu lado, apenas se desejar. Sei que te trouxe comigo. Te roubei da sua casa. e Você ainda é tão menina. Não acho que fiz mal. porque no fundo. gosto de você. me desculpa se menti. mas talvez você ainda possa me perdoar.
-Se eu for embora, ou te fizer sair daqui. É com ela que você vai viver, não é?
-É sim, se você me deixar, é nos braços dela que dormirei.
-Então eu fico. Por dois motivos: primeiro porque te amo, e num é uma paixonite, entreguei minha vida em suas mãos. Segundo, porque você prometeu que seria só meu, e vai ser.
ela se levantou. e fingiu que aquela conversa não havia existido. enquanto terminava de fritar os ovos. chorava como uma criança. porque ainda era menina. tinha quase quatorze anos. e pouco sabia das peripécias da vida. fechou os olhos. tentando fazer qas lágrimas pararem de cair. ele sentado sofá. com as mãos na cabeça. também sentia uma dor. certamente não era como dela. mas era dele. os sentimentos confusos. e a incerteza. podia ir embora. átras do que pensava ser felicidade. mas e ela. o que seria da menina jambo. se ele saísse dali. tinha o pequeno menino ou menina. pensou. repensou. não pensou. e ficou. o almoço virou janta. e os dois nada disseram. a noite chegou. e na cama. mal se tocaram. como podia ela esquecer. e ele sobreviver.
-Te amo Silvio.- disse ela antes de fechar os olhos naquela noite.
calado. ele quis dizer que também a amava. mas não disse. não deixaria ela. porque ela carregava uma parte dele. os anos passaram. e ele estava ali. ainda procurando a felicidade. de uma paixão que não vivera. ela. a menina. que agora já era mulher. e mãe de três meninas. nunca esqueceu. mas perdoou. e amou. o homem que a levou embora. numa tarde de segunda-feira. não porque tivesse medo. mas porque sentia por ele. mais do as pernas moles. e menos do que ódio. coisa essa que não conseguia explicar. mas vivia todos os dias...

4 comentários:

Letícia disse...

Jaque,

Histórias que acontecem de verdade sempre se tornam textos e são lembradas. E perdão é a prova maior de ser criança e não se deixar mudar pelo tempo.

Beijos.

Flávia disse...

Esse conto me doeu. Não sei exatamente porquê, mas doeu...

Camilla Tebet disse...

São histórias da vida, que acontecem mesmo. E viver todos os dias é assim, de história real e bem escrita que se faz a vida. Fiquei pensando em como a vida de cada um de nós tem coisas tortas, não é? E como o importante é viver cada dia. Belo conto.

meus instantes e momentos disse...

ótimo conto. Muito bem escrito, muito bom.
Maurizio