terça-feira, 28 de outubro de 2008

Cegueira.

esfregou os olhos. fortemente. mas nada podia ver. a não ser uma sombra branca. havia ficado cega. não via nada. no primeiro momento. se apavarou. estava no meio de uma rua movimentada. ouvia buzinas. pedia socorro. mas ninguém mudava o rumo. nem sequer entortava a cabeça. pra ver o que acontecia ali. sentiu alguém lhe puxar o braço. e perguntar se estava tudo bem. ela disse que estava cega. misteriosamente. os sintomas ocorreram com mais alguns milhares de pessoas. e o mundo se tranformou num caos. e foi assim. que a loucura. mais porca. e absurda. se instalou. as pessoas pararam. porque agora não podiam ver. a violência continuou. agora não precisavam mais temer. ninguém podia enxergar. nem denunciar. era a lei da sobrevivência. a lei dos homens. a lei da vida. quem for mais forte. e mais esperto vive.
TRIM. TRIM. TRIM!!!
era o despertador. que insistia em chama-la naquela manhã. interrompera seu sono. iniciara sua realidade. tocou o chão. ainda com os pés descalços. como era quente aquele quarto. abriu a janela. pra entrar ar e luz. foi até a pia. pegou escova. e pasta de dente. se olhou no espelho. e olhou de novo. pra ter certeza que enxergava. ufa. podia ver. que alívio. não tropeçaria. nem teria problemas. com buracos na rua. foi isso que pensou. como era egoísta. ao trancar o portão. se virou para o ponto de ônibus. que ficava na p´roxima esquina. havia algumas pessoas lá. as mesmas de sempre na verdade. conviviam a semana toda. e nem sequer sabiam os nomes. um do outro. lembrou um dia que fora assaltada. todos em volta. olhavam. mas ninguém a ajudou. deixaram acontecer. como se não enxergassem. ou então aquelas crianças. ali jogadas na rua. ela via todo dia. parecia não enxergá-las. talvez tivesse sonhado a verdade. eram cegos. todos. o mundo já era um caos. por completo. o poder já trazia violência e medo. além de desigualdade. podiam não perceber. mas tropeçavam todos os dias em buracos. que os outros deixavam ali. sem aviso. porque eram egoistas como ela. não se importavam. a lei era viver só. e passar por cima de tudo. inclusive de pessoas. que coisa doida era essa. ela começou a pensar. e deciciu que nunca mais queria sonhar de novo...

5 comentários:

Vivian disse...

...e por acaso não agimos
diuturnamente como cegos
para não ver o quadro
que nós mesmos pintamos
com nosso egoísmo desumano?

bjus, linda!

Flávia disse...

Ai, Jaque... nem sei o que é mais doloroso, sonhar ou não sonhar... mas CEGAR, isso sim, sempre dói - principalmente naqueles a quem fechamos os olhos.

Beijo, florzinha :)

Marcia Barbieri disse...

Ser cego fisicamente nos inocentaria de muitas barbaridades para as quais fechamos os olhos.Bela prosa!

beijos,obrigada pela visita e espero que volte sempre

Germano Viana Xavier disse...

A Jaque e seus textos sem vírgulas. Textos feitos de continuidades.

Li e lembre de cara do livro do José Saramago: Ensaio sobre a cegueira.


Um carinho, Jaque.
Continuemos...

Anônimo disse...

Hehehe

Também lembrei do livro do Saramago! Adorei seu blog! Passarei aqui mais vezes! E ah! Já ia esquecendo de agradecer a visita! Quando quiser, volte!

beijos!