terça-feira, 19 de agosto de 2008

Terra e Mar.

a cabeça estava apoiada no braço do sofá. a janela aberta. o barulho da tevê. e ela. pensava nele. o dia em que se conheceram. ele sorriu. seus olhos se fixaram nela. e o acaso os tornou mais. amigo. amante. confidente. ausente. passaram dias juntos. mas fazia alguns anos que não se viam. ela lembrou das manhãs em que pegavam ônibus juntos. ou da forma em como ele a guiava para um lugar que era dele. seria dela um dia. ela amava andar rápido. ele achava desnecessário e viciante. conversavam sobre tudo. partilhavam segredos. histórias. coca-cola. chocolate. e sonhos. mesmo que fossem opostos. eram dispostos. nunca se declararam. talvez fossem apenas companheiros.do tempo. do metrô. do ônibus. do shopping. do cinema. do trânsito. do barulho. do sorriso. mas não. era diferente. ao lado dele. podia ser ela. chata. irritante. brincalhona. fumante. contadora de piadas.
-Me conta um segredo?- ela.
-Vou embora dessa cidade.-ele.
-Por quê?-ela.
-Odeio o caos. o barulho. a distância que existe entre as pessoas.-ele.
-E você vai pra onde?-ela.
-Pra qualquer lugar que tnha mar.-ele.
-Mas e a gente?-ela.
-A gente dá um jeito.-ele.
-Acho aqui maravilhoso. tem tudo. tem pessoas diferentes. tem lugares abertos toda hora. o dia é proveitoso.
-As pessoas são distantes. o stress é alto. a vida não vale a pena.-ele.
-Ah...sei não.-ela.
-Queria aprender surfar.-ele.
-Ah eu também queria. mas nem por isso tenho que me mudar.-ela.
-Essa cidade não tem graça. e quando você tiver filhos?-ele.
-Uai... não sei se vou ter filhos.-ela.
-gostaria de ter filhos.-ele.
-Você nem tem namorada. nem mulher. como quer ter filhos?-ela.
-Quero. e aqui não é lugar pra crianças.-ele.
-Tem diversos lugares pra crianças. shoppings. parks. escolas. clubes.
-Se eu tiver dinheiro. mas não acho que isso seja legal. falo de andar no asfalto. brincar na terra. jogar bola com os vizinhos. ralar o joelho.-ele.
-É. entendo. e concordo. mas ir embora?-ela.
-Não sei se vou. como você enche o saco- ele.
-E como você é chato.-ela.
saíram do terminal de metrô. desistiram do ônibus. naquele dia ele iriam andando. chegariam mais tarde. mas ficariam mais tempo conversando.
-Hoje é seu aniversário. temos que comemorar.-ele.
-É claro. uma creveja?-ela.
-Tem um bar ali. mas eu entro comprar. não é lugar pra você.-ele.
-Acho que posso ir com você.-ela.
-É um boteco. furreco. eu vou. você me espera.-ele.
ele saiu com duas latinhas de cerveja gelada na mãos. foram caminhando. bebendo. conversando. as ruas largas. o sol quente. os braços colados. parecia que o tempo pararia. não parou. aquele mês acabou. ele se mudou para uma cidade com mar. ela abandonou a confusão. voltou pra casa. ela sentiu saudades. as vezes ligava. pensava nele algumas noites. queria que ele pensasse nela. ela estava alucinada em pensamentos. despertou com o toque alto do celular. era ele. com saudades.

2 comentários:

Alexandre Henrique disse...

Terra e mar no limite da visão, é triste pensar assim , mas mesmo neste texto a terra continua debaixo do mar, continua com um espaço infinito pra todos os sonhos brincarem, é romântico e firme o bastante, texto .. pares, lindo o par.
Suave e puro Jaque, obrigado por escrevê-lo.

Anônimo disse...

No meu caso, a que tinha "rodinhas nos pés" era eu. E sempre era eu que ligava. Mesmo estando casada, com dois filhos, era ali, no outro canto, que estava o outro pedacinho de mim mesma que me chamava para a terra. E eu sempre vou precisar dele lá. E sei que ele sempre vai precisa deste pedacinho dele voando, sabe-se lá aonde...
bjs