terça-feira, 26 de maio de 2009

cômodo

estava tão confusa e agitada que perdera o sono. passava horas no sofá que parecia ser o único a acolher o corpo frio da menina. tinha tantas coisas pra fazer. mas num sentido de fuga não fazia nada. ficava escrevendo coisas que se perdiam nos papéis jogados no chão da sala. depois recitava poemas que não eram dela. ainda teimava em criar coisas para fazer arte. tinha deixado tantas coisas pra trás. e agora ficava amordaçada. não conseguia continuar. tinha preguiça de persistir num erro que cometera. por outro lado sabia que tinha que continuar. afinal de contas as manhãs chegavam e iam embora. enquanto ela com olhar hipnótico e perdido continuava ali no mesmo sofá. na mesma sala. com as mesmas palavras. os mesmos versos. e as mesmas artes. o tudo dela parecia uma coisa só. e perdida. tinha pensado em se mudar. mas já estava velha demais para mudanças. com nomes de ruas diferentes. outro número de apartamento. outro cheiro qualquer. por isso ficava ali. estática. um pouco triste. um pouco feliz. ao mesmo tempo que era um fracasso de sonhos perdidos. era corajosa de sonhos novos. sabe se lá por quê. sabe se lá de onde. sabe se lá quem eram. chamavam de sonhos. por isso ela repetia. não eram de tocar. nem de brincar. não faziam companhia física. mas permaneciam dentro dela. o cômodo de gavetas azuis e vermelhas dos sonhos. lá estava tudo que ela desejou um dia. e ainda desejava. os que ficavam nas gavetas azuis. eram os que deveria ser jogados fora. os das gavetas vermelhas. era os que ela ainda não tinha carimbado desitência. por isso. ou por alguma coisa. a menina de pijama branco ficava no sofá. tinha pegado a doença dos sonhos que se foram...

4 comentários:

Mariah disse...

fiquei amiga da insônia...agora não brigo mais com ela.

Felipe Attie disse...

A insônia virou cult, ultimamente.

D.Ramírez disse...

sonhos q se vão, outros que virão, sonhar, sonhar...
Besos

Letícia disse...

Eu me transformei na menina de pijama branco porque também tenho sonhos e, muitas vezes, tenho de jogar fora muitos deles.

Muito bom, Jaque. É verdadeiro e humano e isso é tudo.

Bjos. =)