quinta-feira, 13 de agosto de 2009

folheava a revista vagarosamente naquela sala de espera de paredes brancas e gelada. o telefone tocava. a criança que chorava. a água que enchia o copo de alguém com sede. faz vinte minutos que estava ali sentada. quieta e impaciente.
-Posso sentar aqui do seu lado?- perguntou uma senhora pequena. magra e de colar de pérolas.
-Pode.- disse ela e voltou a folhear a revista.
-Você veio ao médico?- insistia a senhora.
-Sim.- respondeu ela seca.
-Você tá doente?
-Não. são exames de rotina.
-Ahhh...eu me sinto tão bem.
-Então a senhora também veio fazer exames de rotina?
-Não vim trazer meu marido.- disse a pequena senhora apontando para um velho magro e quase inconsciente sentado numa cadeira de rodas ao seu lado.
-O que ele tem?
-Tem Alzheimer há quase dez anos. Não se lembra mais de nada. Não fala. Não anda.
-Você cuida dele sozinha?
-Tem uma mulher que me ajuda. Não posso pagar por uma enfermeira com nossa pequena aposentadoria.
-Não tiveram filhos?
-Tivemos três mulheres e dois homens.
-E por que não ajudam a senhora?
-Dizem que tem compromissos e que eu deveria colocar meu velho num asilo...Mas eu jamais o abandonaria.
-Talvez fosse mais fácil. Lá existem enfermeiras.
-Nós temos nossa casa. Demoramos anos para construí-la. não é muito grande mas é confortável. É lá que é o nosso lugar.
-Entendo...
-Sabe...vivi momentos íncriveis com esse homem. Saimos para dançar. ás vezes ele cantava pra mim. lembro das noites em que ficávamos acordados porque as crianças tinham febre. ele nunca me abandonou. enfrentou tudo ao meu lado. e eu sempre o amei nesses momentos. agora o amo ainda mais...
A secretária que atendia inúmeros telefonemas veio na direção da pequena senhora de colar de pérolas. disse que era sua vez. ela levantou-se devagar. devia ter mais de setenta anos. sorriu para a moça com quem estava conversando. e saiu empurrando o amor de sua vida. virou o corpo para a moça que agora apoiara a revista no colo. e disse uma última coisa.
-Muitas pessoas não sabem o que é amor. mas nós sabemos...até logo moça.

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2 comentários:

Éverton Vidal Azevedo disse...

Gostei... Amor é ato.
E deixo um abraço.

Taynar disse...

E infelizmente, algumas pessoas vão morrer sem saber.

Lindo conto.

Beijos